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VÔLEI DE PRAIA
Ricardo e Emanuel trocam de país e família e engolem saudade pela medalha
Primeiro ouro dos homens premia sacrifício e cem dias de reclusão
DOS ENVIADOS A ATENAS
Ricardo e Emanuel entraram
para a história ao arrebatar o primeiro ouro olímpico para uma
dupla masculina do Brasil no vôlei de praia. A glória, resultado
dos 2 a 0 (21/16 e 21/15) marcados
nos espanhóis Bosma e Herrera, é
fruto de um projeto que os afastou de suas famílias por mais de
três meses. A conta exata: hoje serão completados cem dias.
Em 18 de maio, a dupla deixou
sua base em João Pessoa (PB) rumo à etapa da China do Circuito
Mundial -e não mais retornou.
Passou pela Sérvia. Firmou base
em Espinho (Portugal), com ajuda da CBV, e no intervalo de dois
meses disputou sete etapas do
Circuito Mundial -na última delas, conquistou o bicampeonato.
A saudade muitas vezes apertou, e os brasileiros são gratos à
compreensão e ao apoio que seus
parentes lhes deram nesse período de afastamento. "São mais de
cem dias fora do Brasil. E é nessa
hora que a família entra em ação.
Abandonei a minha família, que é
meu pilar, e eles [pai, Manoel, e
mãe, Maria] nunca mostraram
fragilidade de emoção, de sentimento", afirmou Emanuel.
"Eles sabiam o quanto era importante este momento."
"Na busca da medalha, tivemos
que optar por alguma coisa, fazer
sacrifício. Dá saudade ficar longe,
mas estávamos com a cabeça voltada para o ouro", diz Ricardo.
Na base montada em Espinho
-dois apartamentos alugados
pela CBV, um para os atletas, outro para a comissão técnica-, Ricardo e Emanuel puderam afinar
ainda mais o entrosamento em
quadra e estreitar o relacionamento fora dela. Treinavam com
a dupla portuguesa Brenha/Maia,
em uma quadra com areia bem
fofa, similar à encontrada na arena erguida em Faliro, que teve todos os seus 9.500 lugares ocupados na final de ontem.
Também lá, Ricardo se recuperou de uma torção no tornozelo
direito, no início de julho, que o
fez abandonar uma das etapas do
Circuito Mundial e ficar fora de
outra. Recuperado, passou a atuar
com uma proteção no local.
Em Portugal, contaram com a
ajuda de uma nova família: o treinador Gilmário Batista, o preparador físico Rossini Freire, o estatístico Giuliano Ribas e a doutora
em ciências esportivas Joice Stefanello, responsável pelo apoio psicológico aos jogadores.
Nas poucas horas vagas, um cinema, uma volta no shopping, a
fim de diminuir a saudade do Brasil, principalmente dos filhos
-Emanuel é pai de Mateus, 7, e
Ricardo, de Pedro, 7, e Giulia, 1.
E já que as famílias compreenderam, são para elas as homenagens -para as duas. "Ofereço todos esses resultados à família",
declarou Emanuel. "Dedico a medalha ao meu pai e à minha mãe,
que me incentivaram desde o início. E à nossa equipe de apoio, que
também abdicou do lar."
"Toda minha trajetória dependeu muito de minha família", declarou Ricardo, que cita a avó Eudeth, morta há dois anos, como a
maior incentivadora no início de
sua carreira. "Ela pedia ajuda a todos os tios, fazia uma vaquinha
para eu poder jogar. Então quero
dividir a alegria da medalha com
todos os que me ajudaram."
Após vencer sete jogos e deixar
invicta as areias de Faliro, a dupla
volta nesta semana ainda ao Brasil, para os braços de suas famílias.
(LUIS CURRO E ROBERTO DIAS)
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