São Paulo, domingo, 26 de agosto de 2007

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JUCA KFOURI

As leis da Fifa e as do Brasil

Há certas imposições da Fifa que nem adianta discutir, mas há outras que ferem mesmo a nossa soberania

É BOBAGEM achar que o Congresso Nacional se imporá em relação às exigências legais feitas pela Fifa para organizar a Copa do Mundo no Brasil.
Os alemães, para ficar apenas no último caso, quiseram negar algumas delas e acabaram por ter de se conformar inapelavelmente.
Portanto não gastemos vela com tal defunto. O que não tem remédio, remediado está, e é o preço que cada país tem de pagar para sediar uma Copa do Mundo.
Mas o que até fez sentido que valha para um evento, circunscrito no tempo e no espaço, não pode valer para a vida inteira.
E é aí que o Brasil tem se curvado de maneira humilhante e cínica.
A Lei Pelé permite que o primeiro contrato de um jovem de 16 anos tenha cinco anos de duração, medida para proteger o clube formador dentro de limites razoáveis e humanos. Só que a Fifa determina que o prazo máximo seja de três anos, e a CBF se submete ao não registrar contratos maiores, como permite a legislação brasileira.
E fica essa gritaria hipócrita da própria CBF e dos clubes, com a cumplicidade do governo (que provavelmente dirá que não sabia de semelhante discrepância), todos empenhados, entre aspas, em mexer na legislação para minimizar o êxodo de pé-de-obra.
Ora, é evidente que a Fifa não tem que se meter nas relações trabalhistas de seus filiados, ainda mais que foi conivente com quase um século da inqualificável Lei do Passe e só se curvou quando a União Européia deu ganho de causa ao belga Bosman, em 1995.
Curvou-se bonitinha da silva, aliás, e, ainda antes de a Lei Pelé entrar em vigor no Brasil, tratou de fazer valer a nova medida européia em todo o Planeta Bola, basta lembrar da transferência de Ronaldinho Gaúcho para o futebol francês.
Trata-se, portanto, de alguém ter peito para levar a questão à Justiça do Trabalho e criar o impasse.
Mas ninguém o fará, é claro.
Não só porque falta coragem porque, também, sobra desfaçatez, ganância e chantagem. É cada vez mais freqüente, por exemplo, que jogadores, com seu primeiro contrato em vigor, sejam chamados para romper o vínculo e receber a multa estipulada.
Só que, em vez de a receberem integralmente, como deveria ser, são convidados a deixar uma parte com quem propõe o fim do vínculo. Edificante, não?
Portanto não acredite na gritaria dos que dizem querer proteger o talento nacional. Eles só querem proteger seus próprios bolsos.

Só rindo
Imagine o que passou na cabeça de Ronaldinho e Kaká durante os 45 minutos que passaram de castigo em Montpellier, enquanto viam aquele espetáculo tosco diante da Argélia e o ar preocupado de Dunga, os mesmos que foram marcas registradas durante toda a Copa América, exceção feita ao jogaço final, contra a Argentina. Deviam estar rindo por dentro, ainda mais que o time deles, o dos reservas no treino do dia anterior, tinha enfiado 3 a 0 nos titulares.
Mas não sejamos maldosos. Dunga não precisa passar recibo. Basta escalá-los como titulares.


blogdojuca@uol.com.br



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