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JUCA KFOURI
As leis da Fifa e as do Brasil
Há certas imposições da Fifa que nem adianta discutir, mas há outras que ferem mesmo a nossa soberania
É BOBAGEM achar que o Congresso Nacional se imporá em
relação às exigências legais
feitas pela Fifa para organizar a Copa do Mundo no Brasil.
Os alemães, para ficar apenas no
último caso, quiseram negar algumas delas e acabaram por ter de se
conformar inapelavelmente.
Portanto não gastemos vela com
tal defunto. O que não tem remédio,
remediado está, e é o preço que cada
país tem de pagar para sediar uma
Copa do Mundo.
Mas o que até fez sentido que valha para um evento, circunscrito no
tempo e no espaço, não pode valer
para a vida inteira.
E é aí que o Brasil tem se curvado
de maneira humilhante e cínica.
A Lei Pelé permite que o primeiro
contrato de um jovem de 16 anos tenha cinco anos de duração, medida
para proteger o clube formador dentro de limites razoáveis e humanos.
Só que a Fifa determina que o prazo máximo seja de três anos, e a CBF
se submete ao não registrar contratos maiores, como permite a legislação brasileira.
E fica essa gritaria hipócrita da
própria CBF e dos clubes, com a
cumplicidade do governo (que provavelmente dirá que não sabia de semelhante discrepância), todos empenhados, entre aspas, em mexer na
legislação para minimizar o êxodo
de pé-de-obra.
Ora, é evidente que a Fifa não tem
que se meter nas relações trabalhistas de seus filiados, ainda mais que
foi conivente com quase um século
da inqualificável Lei do Passe e só se
curvou quando a União Européia
deu ganho de causa ao belga Bosman, em 1995.
Curvou-se bonitinha da silva,
aliás, e, ainda antes de a Lei Pelé entrar em vigor no Brasil, tratou de fazer valer a nova medida européia em
todo o Planeta Bola, basta lembrar
da transferência de Ronaldinho
Gaúcho para o futebol francês.
Trata-se, portanto, de alguém ter
peito para levar a questão à Justiça
do Trabalho e criar o impasse.
Mas ninguém o fará, é claro.
Não só porque falta coragem porque, também, sobra desfaçatez, ganância e chantagem.
É cada vez mais freqüente, por
exemplo, que jogadores, com seu
primeiro contrato em vigor, sejam
chamados para romper o vínculo e
receber a multa estipulada.
Só que, em vez de a receberem integralmente, como deveria ser, são
convidados a deixar uma parte com
quem propõe o fim do vínculo.
Edificante, não?
Portanto não acredite na gritaria
dos que dizem querer proteger o talento nacional. Eles só querem proteger seus próprios bolsos.
Só rindo
Imagine o que passou na cabeça
de Ronaldinho e Kaká durante os
45 minutos que passaram de castigo em Montpellier, enquanto viam
aquele espetáculo tosco diante da
Argélia e o ar preocupado de Dunga, os mesmos que foram marcas
registradas durante toda a Copa
América, exceção feita ao jogaço final, contra a Argentina.
Deviam estar rindo por dentro,
ainda mais que o time deles, o dos
reservas no treino do dia anterior,
tinha enfiado 3 a 0 nos titulares.
Mas não sejamos maldosos. Dunga não precisa passar recibo.
Basta escalá-los como titulares.
blogdojuca@uol.com.br
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