São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2008

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VÔLEI

O ouro e a prata


Com atitudes sábias, Zé Roberto deu segurança ao grupo, e conflitos internos derrubaram os homens

CIDA SANTOS
COLUNISTA DA FOLHA

O OURO da seleção feminina e a prata da masculina em Pequim não foram surpresas.
No Grand Prix, as meninas já estavam mostrando postura diferente: concentração, equilíbrio e poucos erros. Na Liga Mundial, os jogadores já não apresentavam a sintonia e o brilho de anos anteriores.
A campanha invicta e o título olímpico do feminino têm pelo menos um grande personagem: o técnico José Roberto Guimarães. Depois da dor da eliminação para a Rússia nas semifinais dos Jogos de Atenas, ele decidiu continuar no cargo e trabalhou duro para refazer a história com final feliz.
Para isso, teve atitudes sábias, que deram segurança ao grupo.
A primeira delas foi como contornou o problema com Mari, cortada por indisciplina depois dos Jogos Pan-Americanos.
Não expôs a atacante, mas a deixou fora dos outros torneios de 2007, como a Copa do Mundo.
Neste ano, não teve problemas de procurar a atleta. Sem alarde, conversou com ela e acertou seu retorno ao time. Resultado: Mari nunca jogou tão bem.
Pouco antes do Grand Prix, a levantadora Fernanda Venturini manifestou o desejo de voltar à seleção. Nova saia justa para o técnico, afinal Fernanda é uma das maiores levantadoras do vôlei mundial. Se não a convocasse e perdesse a Olimpíada, seria uma pressão a mais sobre ele.
Zé Roberto disse não e reforçou a confiança de Fofão, uma jogadora brilhante que sempre viveu à sombra de Fernanda. Aos 38 anos, Fofão chegou à perfeição em Pequim.
Com a ajuda da psicóloga Sâmia Hallage e da comissão técnica, Zé Roberto formou um grupo unido e determinado a acabar com os fantasmas da seleção. O resto é história: oito jogos sem derrotas e o primeiro ouro olímpico da seleção feminina.
No masculino, foi triste ver o time, o mais vitorioso do mundo nos últimos seis anos, perder a final para os Estados Unidos. Ok, não é possível ganhar sempre, mas o problema é que a seleção não mostrou sua maior qualidade nos Jogos Olímpicos: a imprevisibilidade.
O mais lamentável não é nem o que aconteceu na quadra, mas é que voltamos a repetir os erros de gerações passadas: novamente tropeçamos em conflitos internos.
O time, bicampeão mundial e campeão olímpico, foi a Pequim sem um dos seus gênios, Ricardinho. Não vale discutir agora quem errou no conflito do levantador com o técnico Bernardinho e nem avaliar a postura do grupo.
O que dá para afirmar é que todos nós perdemos pelo conflito não ter sido solucionado. Não se pode desperdiçar talentos. Um exemplo são os EUA. Eles foram campeões com um show de Lloy Ball, um levantador brilhante, rebelde, difícil, mas que tem lugar naquele time.

cidasan@uol.com.br



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