São Paulo, sexta, 26 de setembro de 1997.



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JUCA KFOURI
A reação

Nada mais esperado, e simbólico, que a reunião dos clubes com a CBF, a nota e as declarações que se seguiram.
A magnífica reportagem que a Folha publicou ontem mostrando tudo e todas as contradições esgotou o assunto -mas vale comentar.
Em primeiro lugar, está mais que claro que a cartolagem não quer mudar nada.
Em segundo, por mais dúvidas que o projeto de Pelé possa despertar, a irada reação revela quem quer apenas manter seus privilégios e não admite ser fiscalizado.
Chamar o projeto de idiota mostra as duas faces de quem o chamou: o eventual excesso alcoólico proveniente da festa oferecida aos juvenis campeões mundiais e a total falta de condições para o debate.
O projeto quer privatizar, e não estatizar o futebol como foi dito. Porque o futebol hoje é subsidiado pelo Estado.
Até as multinacionais foram atacadas, algo que a Nike e a Coca-Cola, patrocinadoras da seleção, devem ter apreciado.
O passe foi defendido como meio de evitar o êxodo de atletas, como se o êxodo já não existisse. O que não se quer é o fim das comissões na venda dos jogadores.
Portanto, nada mais esperado, embora, pela arrogância demonstrada, fique evidente que Pelé terá de suar sangue para que seu projeto não vire outra Lei Zico. A confiança no lobby montado na "Casa de Ali Babá", em Brasília, parece inabalável.
E simbólico porque a reunião aconteceu na Gávea, sede do clube mais popular e endividado do país, cujo presidente enriqueceu à custa exatamente de explorá-lo.
Simbólico, ainda, porque a reunião aconteceu numa quarta-feira exemplar.
Os campeões paulistas e cariocas jogaram pelo Vergonhão-97 para pouco mais de 1.600 pagantes em Caio Martins, onde o Corinthians se aqueceu sob o vão da arquibancada vazia, tão acanhado é o vestiário.
Corinthians do "um-zero-zero", Corinthians sem Marcelinho, Corinthians sem rumo, que perdeu para o Botafogo com Gonçalves -e só.
Já em Araras, menos de 1.500 pessoas foram ver o Fluminense contra o time da casa e até que foi muito.
O Grêmio, sem Emerson, Carlos Miguel, Paulo Nunes, Jardel, só empatou em casa com os colombianos, e o Vasco levou de cinco do River.
Tudo como a cartolagem acha que deva ficar. Clubes e CBF se merecem. Só que cada vez mais a opinião pública se dá conta disso e os repele.



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