|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JUCA KFOURI
A reação
Nada mais esperado, e simbólico, que a reunião dos clubes com a CBF, a nota e as
declarações que se seguiram.
A magnífica reportagem que
a Folha publicou ontem mostrando tudo e todas as contradições esgotou o assunto
-mas vale comentar.
Em primeiro lugar, está
mais que claro que a cartolagem não quer mudar nada.
Em segundo, por mais dúvidas que o projeto de Pelé possa despertar, a irada reação
revela quem quer apenas
manter seus privilégios e não
admite ser fiscalizado.
Chamar o projeto de idiota
mostra as duas faces de quem
o chamou: o eventual excesso
alcoólico proveniente da festa
oferecida aos juvenis campeões mundiais e a total falta
de condições para o debate.
O projeto quer privatizar, e
não estatizar o futebol como
foi dito. Porque o futebol hoje
é subsidiado pelo Estado.
Até as multinacionais foram
atacadas, algo que a Nike e a
Coca-Cola, patrocinadoras da
seleção, devem ter apreciado.
O passe foi defendido como
meio de evitar o êxodo de
atletas, como se o êxodo já
não existisse. O que não se
quer é o fim das comissões na
venda dos jogadores.
Portanto, nada mais esperado, embora, pela arrogância
demonstrada, fique evidente
que Pelé terá de suar sangue
para que seu projeto não vire
outra Lei Zico. A confiança no
lobby montado na "Casa de
Ali Babá", em Brasília, parece
inabalável.
E simbólico porque a reunião aconteceu na Gávea, sede do clube mais popular e
endividado do país, cujo presidente enriqueceu à custa
exatamente de explorá-lo.
Simbólico, ainda, porque a
reunião aconteceu numa
quarta-feira exemplar.
Os campeões paulistas e cariocas jogaram pelo Vergonhão-97 para pouco mais de
1.600 pagantes em Caio Martins, onde o Corinthians se
aqueceu sob o vão da arquibancada vazia, tão acanhado
é o vestiário.
Corinthians do "um-zero-zero", Corinthians sem
Marcelinho, Corinthians sem
rumo, que perdeu para o Botafogo com Gonçalves -e só.
Já em Araras, menos de
1.500 pessoas foram ver o Fluminense contra o time da casa
e até que foi muito.
O Grêmio, sem Emerson,
Carlos Miguel, Paulo Nunes,
Jardel, só empatou em casa
com os colombianos, e o Vasco levou de cinco do River.
Tudo como a cartolagem
acha que deva ficar. Clubes e
CBF se merecem. Só que cada
vez mais a opinião pública se
dá conta disso e os repele.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|