São Paulo, Domingo, 26 de Setembro de 1999
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O futebol reflete como nunca a vida brasileira

JUCA KFOURI
Colunista da Folha

A sensação é a de que o futebol brasileiro vive o fundo do poço e sua mais grave crise de credibilidade -como os índices de impopularidade do presidente da República.
O presidente da CBF foge de uma auditoria na entidade como o diabo, da cruz.
O ministro dos Esportes não consegue explicar o estranho casamento com os bingueiros.
Os árbitros não assumem a responsabilidade deles e atiram para todos os lados.
Os torcedores invadem os campos para fazer arruaças com as próprias irracionalidades.
O cartolas defendem viradas de mesa com suas caras de pau.
Os jogadores se agridem como se fossem inimigos.
Os gols diminuem, e as arquibancadas andam tão vazias que até o anúncio do público presente é omitido.
No entanto e apesar de tudo, o futebol brasileiro vive, também, e felizmente, o começo de um novo tempo, com a entrada dos grandes investidores nos maiores clubes do país.
É natural que os primeiros contratos suscitem polêmica sobre seus méritos e suspeitas pela falta de transparência. Nesse sentido, os clubes que fizerem suas parcerias depois tendem a fazer negócios melhores do que os pioneiros.
O fato é que como está não pode ficar. Mas, quando tudo parece perdido, eis que a Justiça esportiva se manifesta com uma série de punições saneadoras.
É provável até que haja uma injustiça aqui e ali, num ou noutro caso. Mas já era hora de interditar estádios, punir árbitros tíbios, cartolas tresloucados e jogadores violentos.
A dúvida que persiste, porém, diz respeito à manutenção das punições.
O Fluminense foi punido com a perda de mando de seus jogos e conseguiu um efeito suspensivo para continuar a mandá-los no Rio de Janeiro.
Não acontecerá o mesmo em relação aos estádios de Caio Martins, Independência e São Januário, eventualmente reabertos na semana que vem, já que as punições começam apenas a partir de amanhã?
E o Pacaembu receberá a mesma interdição por ter um torcedor corintiano agredido o vascaíno Ramon? Aconteceram fatos também muito graves em Moisés Lucarelli, e nem por isso o campo da Ponte Preta foi objeto de qualquer punição.
O futebol inglês vivia situação bem parecida até o começo da década. Com competência e vontade política, o quadro mudou radicalmente, à custa de muito trabalho e em tempo recorde.
Nada impede que o mesmo aconteça no Brasil, a não ser as tristes figuras que infelicitam o futebol há anos -e o atual ministério dos Esportes, pelo visto, não será aliado do bem, ao contrário.
Sávio voltou a se destacar na Espanha e por isso mereceu ser convocado para a seleção, assim como Élber, na Alemanha.
Já o papai Ronaldo é uma aposta que Wanderley Luxemburgo deve mesmo fazer com todas as suas fichas.
Agora Marcelinho e Edílson, por mais que joguem e que Luxemburgo diga que não guarda rancor, ficarão ao relento para sempre.
Não é à toa que os japoneses estão regulando os ingressos de Palmeiras x Manchester enviados para o Brasil. No ano passado, o Vasco vendeu a maior parte do que lhe coube no câmbio negro.


Juca Kfouri escreve aos domingos, às terças e às sextas-feiras

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