São Paulo, quarta-feira, 26 de setembro de 2001

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FUTEBOL

A sorte ajuda os melhores

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

O Brasil , que há alguns anos já tinha perdido a supremacia mundial com a seleção principal e com a sub-20, foi eliminado pela França no Mundial sub-17.
Não foi uma derrota atípica. O time francês mostrou mais habilidade, técnica, equilíbrio emocional e um esquema mais moderno e eficiente. No primeiro tempo, marcou por pressão, tomou a bola com facilidade, fez dois gols e decidiu o jogo. Conheço essa história. Ela se repete há muito tempo com os adultos.
Um dos motivos da hegemonia brasileira na sub-17 durante vários anos era o fato de os brasileiros amadurecerem mais rápido e terem um comportamento mais agressivo. Pareciam adultos contra meninos. Agora, nem isso funciona. Além de jogar feio, o futebol brasileiro não vence.
Assim como a Argentina, as equipes de base da França adotam a mesma filosofia do time principal. Fizeram um planejamento a médio e longo prazo. Os jovens são dirigidos por profissionais experientes e competentes.
No Brasil, põem técnicos inexperientes e desconhecidos no comando. São escolhidos mais por indicação do que pela competência. Todos repetem os mesmos discursos, obviedades e clichês dos treinadores dos times principais: "O importante é a pegada; temos de matar a jogada; vamos marcar e atacar em velocidade; a união faz a força; não podemos tomar o primeiro gol; sorte".
A sorte só ajuda quem planeja e tem competência.

Retorno prematuro
A convocação do Ronaldo foi prematura, mas compreensível. Se o jogador não tiver boas condições para atuar contra o Chile, o que é provável, poderá ser substituído por um atacante que atua no Brasil. Além disso, 4 dos 22 selecionados não ficarão nem no banco de reservas. Provavelmente Ronaldo será um deles. Sua convocação não trará prejuízos.
Na convocação dos "estrangeiros", na sexta, Scolari tinha esperanças de que o jogador atuasse no domingo seguinte e no próximo, pelo Italiano, e amanhã contra o Brasov, pela Copa da Uefa. Aí poderia jogar contra o Chile. Domingo, Ronaldo não jogou.
A Inter fez um planejamento de recuperação do atleta e certamente não gostou de sua convocação. Não ficarei surpreso se o Ronaldo não atuar amanhã nem domingo. A retaliação é uma das características da alma humana.
Na entrevista coletiva, Felipão disse que a presença do Ronaldo em campo é um fator psicológico positivo para o time e de muita preocupação para os adversários.
Ronaldo só deveria ser escalado em boas condições físicas e técnicas. Colocá-lo antes da hora, para "dar moral" ao time, é um dos inúmeros clichês ultrapassados que invadem o futebol brasileiro.
Na verdade, a seleção não tem um centroavante confiável. Daí, a pressa em escalar o Ronaldo. Seu melhor substituto (França) teve chances e não correspondeu. Não somente ele. Além disso, França joga em dupla, trocando passes pelo meio, e o técnico não gosta desse estilo. Parece até que a seleção tem um outro estilo eficiente.
Há uma ilusão de que o problema principal da seleção é a ausência de um excepcional centroavante. Ronaldo resolveria tudo. Ele só vai brilhar se estiver em boas condições físicas e técnicas e atuar numa equipe organizada. Aí fará diferença.

Critério político
A Liga Rio-São Paulo, que será dirigida pelo Eduardo Farah, terá a presença do Etti Jundiaí e do Americano de Campos. O Etti tem muitos padrinhos e pertence à Parmalat. O Americano é o time do Eduardo Viana, presidente da Federação do Rio de Janeiro.
O São Caetano, vice campeão da Copa João Havelange e vice-líder do Brasileiro, está fora. Não tem padrinhos. Critério técnico não vale. Só os políticos e financeiros. As ligas começaram mal.

Critério machista
A Federação Paulista está selecionando mulheres para jogar no Paulista Feminino. O principal critério é a beleza. É uma conduta machista, absurda e antiesportiva. Um retrato da idiotice que se alastra pelo país. Neste momento, tenho saudades do antigo cronista Stanislaw Ponte Preta, autor da coluna Febeapá (Festival de Besteiras que Assola o país).

Ótimo trio
Marcelinho, Robert e Viola se completam. Marcelinho é veloz, cruza muito bem e joga mais pela direita. Robert é mais lúcido, criativo e atua principalmente pela esquerda. Viola, no meio dos dois, é um excelente finalizador.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br


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