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FUTEBOL
Globo pretende usar documento para driblar lei e enterrar pontos corridos
Contrato é arma da TV para ressuscitar os mata-matas
FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC
Um documento de 15 páginas,
assinado por todos os principais
cartolas do futebol brasileiro em
20 de fevereiro de 2003, é a arma
da Globo para implodir o item do
Estatuto do Torcedor que veda alteração da fórmula no Nacional
do ano que vem.
O "Contrato de Cessão de Direitos Relativos ao Campeonato Brasileiro de Futebol de 2003, 2004 e
2005" será usado pela TV na tentativa de reviver os mata-matas.
A brecha para que o establishment do futebol drible a lei estaria
na cláusula sexta do contrato, ao
qual a Folha teve acesso: "Obrigam-se os cedentes [clubes] e a
CBF a elaborar a tabela e o formato de disputa da competição (...)
de comum acordo com a Globo".
Como a TV já tornou pública
sua insatisfação com a fórmula de
turno, returno, pontos corridos, a
peça será usada como instrumento de pressão sobre os clubes. A
multa pelo descumprimento da
cláusula é de R$ 10 milhões para
cada uma das partes infratoras
(CBF, Clube dos 13 e os 24 times).
A alegação da emissora é que,
como o contrato é anterior à sanção do Estatuto do Torcedor, que
passou a vigorar em 15 de maio, a
lei não pode ferir um direito previamente adquirido.
A estratégia de Marcelo Campos Pinto, diretor-executivo da
Globo Esportes, é inicialmente
convencer os cartolas de que a fuga dos torcedores dos estádios e a
queda de audiência nas partidas
estão diretamente ligadas ao atual
regulamento. Com os dados na
mão, contará aos clubes que, se
for do interesse deles, é possível
driblar o Estatuto do Torcedor.
De fato, muitos dos dirigentes
ouvidos pela Folha apontaram o
veto imposto pelo governo federal
como um dos motivos para defenderem a manutenção dos pontos corridos em 2004.
"Temos o direito de mudar,
sim, a fórmula do campeonato. A
Globo vai lutar por isso, mas precisamos dos clubes", afirmou
Campos Pinto, o responsável pela
negociação de todos os contratos
esportivos da emissora.
Na história recente, a influência
da TV nos rumos do futebol nacional tem sido enorme.
Foi por causa da crise financeira
enfrentada pela Globo que o calendário quadrienal, com regionais, foi implodido pela CBF.
Foi por iniciativa de Campos
Pinto, também, que começaram
as discussões sobre o alongamento do Brasileiro para nove meses.
De início, a Globo levantou a
bandeira dos pontos corridos e,
após conversas com cartolas e
com o aliado Ricardo Teixeira,
obteve apoio da CBF e da maioria
dos clubes. Só mais tarde, a poucos dias da votação no Conselho
Técnico que ratificou a adoção
dos pontos corridos, Campos
Pinto voltou atrás -e, dessa vez,
não teve força para vencer.
Agora, com os clubes mais populares do país fora da disputa pelo título, a Globo teme ficar até o
fim do ano com um mico -pelo
qual pagou R$ 225 milhões.
A partir de agora, ao contrário
do que aconteceria no mata-mata, a emissora prevê queda de audiência: Corinthians e Flamengo,
seus dois carros-chefes, estão longe da disputa pelo título, cada vez
mais perto do Cruzeiro.
Anteontem, a emissora ganhou
novos números para sustentar
sua tese. Corinthians x Cruzeiro, o
jogo que reuniu o líder do torneio
e o time mais popular de SP, levou
só 11 mil pessoas ao Pacaembu. O
vice-líder Santos atraiu 3.500 torcedores à Vila, número parecido
ao de Paraná x São Paulo, outro
confronto importante da rodada.
A Globo tentará obter também
o apoio de Ricardo Teixeira, que
publicamente tem dito que a fórmula não será mudada.
Na avaliação de Campos Pinto,
com a chancela da CBF nos bastidores, a vitória na guerra declarada contra os pontos corridos será
uma questão de tempo.
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