France Presse

César Sampaio (esq.) domina bola durante treino do Palmeiras no Japão

FERNANDO MELLO
da Reportagem Local

O meia Jackson, do Palmeiras, já foi "gato" e se arrependeu. O jogador "rejuvenesceu" quatro anos ao tirar uma certidão de nascimento com dados falsos com o objetivo de se transferir para o exterior, mas desistiu de utilizar os documentos adulterados quando a negociação não se concretizou.
O atleta palmeirense nasceu em 23 de julho de 1973, na cidade maranhense de Codó (a cerca de 350 km de São Luís). De acordo com a certidão adulterada, o meia teria nascido no mesmo dia e mês, mas no ano de 1977.
A certidão de nascimento adulterada, obtida pela Folha no cartório de registro civil de Codó, foi tirada em 19 de janeiro de 1994.
"Nunca usei essa documentação", afirmou Jackson, que admitiu ter participado da fraude.
Em todos os clubes por que passou, Jackson apresentou documentos com dados verdadeiros.
De acordo com o meio-campista, a idéia de diminuir a idade partiu de um ex-empresário, que considerava que a transação se daria mais facilmente.
O meia não quis dizer o nome do empresário que, segundo ele, o convenceu a realizar a fraude. Só afirmou que ele é um ex-jogador que o encontrou no Maranhão.
Com a certidão de 1977, Jackson tirou uma cédula de identidade na Secretaria de Segurança Pública do Estado do Maranhão.
Documento obtido na SSP-MA confirma que Jackson Coelho Silva tem duas cédulas de identidade. Em uma, ele tem 26 anos. Na outra, 22.
O Palmeiras, dono do passe do meia maranhense, não tem conhecimento da fraude, de acordo com seu gerente de futebol, Milton del Carlo.
"O Jackson que existe para o Palmeiras é o de 73. É essa a data de nascimento que consta na CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Se ele tem outra carteira, outra certidão, nós ignoramos. Mas vamos chamá-lo para conversar para que tudo seja esclarecido. Se o Palmeiras se sentir prejudicado, vai acionar o departamento jurídico", afirmou Del Carlo.
Francisco Evandro Marques Costa, diretor de futebol do Maranhão Atlético Clube, a primeira equipe que o meia defendeu, disse também desconhecer a existência de duas certidões.
"Não acredito que o Jackson tenha feito isso sozinho. Ele sempre foi um menino correto. Fui eu quem o trouxe para o MAC. Se ele tem outro documento, nós não sabíamos. Tenho muito cuidado quando trago um jovem para o clube. Fui com o pai dele ao cartório de Codó e comprovei que ele tinha nascido em 73."
Marques Costa disse ter descoberto o jogador em um campeonato de futsal estadual. "Ele desequilibrava, era muito hábil."
O pai do jogador, José Geraldo Moreira Silva, de acordo com a certidão de nascimento com dados falsos, participou do "rejuvenescimento" de Jackson. Ele foi declarante no cartório.
"O Jackson nasceu em 73 e nunca usou documento falso", afirmou Moreira Silva.
Por ter dois RGs e duas certidões distintas, Jackson pode ser responsabilizado criminalmente. A adulteração de documentos, públicos ou privados, é crime tipificado no artigo 299 do Código Penal. A pena para os responsáveis é de um a cinco anos de reclusão, mais multa.

Trajetória
Jackson teve uma passagem vitoriosa no futebol maranhense. Foi bicampeão estadual pelo Maranhão em 1993 e 1994 e era o maior ídolo da torcida quando foi emprestado ao Mogi Mirim.
No ano seguinte, transferiu-se para o Goiás. Depois de uma passagem discreta pelo Comercial de Ribeirão Preto, em 1996, foi para o Sport Recife, onde viveu o melhor momento de sua carreira.
O futebol veloz de chutes certeiros fez de Jackson o maior ídolo do clube pernambucano durante os anos de 1997 e 1998.
Com o meia, o Sport foi bicampeão estadual e fez uma excelente campanha no Brasileiro do ano passado, despertando o interesse do Palmeiras.
Em dezembro de 1998, Jackson foi contratado pelo clube paulista por R$ 3 milhões, mais o passe do atacante Cris.
No time comandado por Luiz Felipe Scolari, não teve muitas chances como titular, mas foi relacionado para o jogo contra o Manchester United, em Tóquio, e pode ser campeão do Mundial interclubes na terça-feira.