São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2000

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FUTEBOL
Datafolha mostra que rendimento de lateral desaba após uso de droga
Athirson pós-doping vira espectro de craque no Fla

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

Depois de ser flagrado no exame antidoping, em junho passado, o lateral Athirson, 23, do Flamengo, nunca mais foi o mesmo jogador. De "craque", passou a ser apenas mais um em campo.
Levantamento realizado pelo Datafolha, comparando a performance do atleta nos dois semestres de 2000, mostra que o Athirson pós-doping participa menos do jogo, erra mais passes, faz muito menos desarmes, comete mais faltas, erra mais finalizações e perde mais bolas.
Ou seja, é pior hoje do que era há seis meses, quando suas excelentes atuações o levaram às seleções brasileiras principal e olímpica e o transformaram no principal ídolo do Flamengo.
Em campo, impressionava pela frequente presença no ataque e pelas arrancadas de seu campo à linha de fundo adversária. Apesar de ser lateral, era a principal opção ofensiva do clube carioca.
Em 15 de junho, um exame detectou a presença do estimulante femproporex na urina do lateral, após o jogo entre Flamengo e Bahia, em maio, pela Copa do Brasil. Nem médicos nem advogados do Flamengo contestaram na ocasião a presença da substância proibida na urina do jogador, que ficou comprovada pela realização de exames de prova e contraprova do material coletado.
Apesar disso, Athirson acabou absolvido da acusação de doping pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva).
O levantamento comprova o que o torcedor percebeu a olhos vistos no segundo semestre: uma queda considerável no rendimento físico e técnico do jogador.
Foram analisadas 18 partidas de que Athirson participou, nove antes do anúncio do doping e nove depois. As primeiras foram no torneio Rio-São Paulo, no Pré-Olímpico e nas eliminatórias da Copa-2002. Os jogos do segundo semestre são todos da Copa JH.
Em 12 fundamentos avaliados, dez indicam piora.
O dado que mais impressiona, pela disparidade, é o número de desarmes. De uma média de 10,1 desarmes por jogo, Athirson passou a ser responsável por apenas 4,6, o que corresponde a apenas 45,5% da marca anterior. A explicação mais plausível para isso é a de que o jogador está com pior preparo físico e, portanto, é menos eficiente na marcação. Pelo mesmo motivo, estaria cometendo mais faltas. Com menos explosão, chega atrasado em alguns lances, sendo obrigado a parar os adversários dessa maneira.
Athirson passou a receber menos bolas de seus companheiros e a perdê-las com mais facilidade. Antes, rivais tomavam-lhe 3,4 bolas por jogo. Passaram a roubar 5,9. A precisão de seus passes diminuiu de 79,4% para 76,2%.
Os únicos fundamentos que mostram melhora são o aumento do número de chutes a gol -embora a eficiência nas finalizações certas tenha caído de 42,9% para 35%- e de lançamentos, de 1,1 para 1,4 por jogo. Este dado pode, porém, indicar que ele estaria lançando mais para se poupar.
De acordo com o professor de bioquímica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Luiz Felipe Pinto, a queda de rendimento do lateral pode ser explicada por dois motivos:
1) Athirson ter parado de usar a substância femproporex, caso o fizesse de fato. Segundo Pinto, usuários de estimulantes como o femproporex têm o rendimento físico de "super-homens".
"Quando param de usar o estimulante, o rendimento cai, e os atletas voltam a ter o desempenho anterior, com certeza inferior."
2) Situações de estresse emocional geram radicais livres, que minam a resistência e provocam fadiga. Tensões como as causadas pela denúncia de doping e pela indefinição quanto à transferência para a Juventus (Itália) podem ter provocado isso.
Athirson negou, durante os julgamentos no STJD, ter se dopado.
A assinatura do pré-contrato com a Juventus, em meio ao caso de doping, complicou sua situação no Flamengo, gerando uma crise que ainda irritou a torcida.


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