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FUTEBOL
Contra fatos há argumentos
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
No futebol brasileiro, progressivamente houve aumento do número de faltas e da
violência. Na quinta-feira, Grêmio e Ponte Preta cometeram 74
faltas. A média está em torno de
55 por partida. Recorde mundial.
Não há mais faltas porque não
existe mais tempo e espaço.
Fato absurdo.
Na Copa João Havelange, o limite para a suspensão do jogador
passou de três para cinco cartões
amarelos.
Outro fato absurdo.
As estatísticas mostram que os
times que fazem mais faltas têm
mais chances de vencer.
Triste fato.
As equipes que cometem mais
faltas são as mais modestas individualmente. Também é fato.
Os treinadores pensam somente
em ganhar. Não importam os
meios. É fato.
A falta de punição aos jogadores e às equipes e a permissão da
regra facilitam a vitória dos times
mais faltosos. Mais um fato.
Todos os times e técnicos brasileiros (há exceção?) adotam o estilo de parar as jogadas. É fato.
Contra fatos, há argumentos.
Esse estilo legal, "vitorioso" e
aético retirou a alegria e beleza
do espetáculo. Também é fato.
Os jogadores brasileiros confundem desarmar com fazer faltas.
Não sabem se antecipar. Atropelam o adversário.
Quando atuam no exterior ou
na seleção brasileira, sentem-se
inibidos. Mais um fato.
A preocupação excessiva em parar as jogadas também inibe a
criatividade. Em vez de jogar no
próprio acerto, atuam no erro do
outro time. Outro fato.
No fritar dos ovos, a postura legal facilita a vitória, mas destrói o
futebol. Fato preocupante.
O futebol brasileiro não acompanhou a tendência mundial de
respeitar o adversário. Confundimos garra e marcação com violência. Mais um fato.
O cronista esportivo não pode
ser conivente com essa situação.
Nosso olhar tem de ser crítico e de
valorização da beleza do espetáculo.
Não podemos ter o olhar utilitarista do técnico que quer ganhar
de qualquer jeito. Até cuspindo
no adversário.
Por causa desses e de outros fatos, o futebol piorou.
O fato é inquestionável.
Enquanto a seleção brasileira
não tem tática, elenco e time definidos, Argentina, França, Holanda, Itália, Espanha e outras seleções já estão praticamente definidas para a próxima Copa.
A Argentina é a equipe mais
ofensiva do mundo. Em casa ou
fora, como no último jogo contra
o Chile, pressiona o adversário
com o mesmo desenho tático, independentemente dos jogadores
escalados.
O time joga com três zagueiros
(varia o que sobra), outra linha
de três armadores e com um meia
na ligação entre o meio-campo e
os três atacantes. Desses, são dois
pelas laterais, atuando como os
antigos pontas, e um fixo pelo
meio.
Nenhuma outra seleção atua
assim. As que jogam com três zagueiros utilizam tradicionais laterais na função de alas.
A Argentina coloca armadores
nessa função. As jogadas ofensivas, pelas laterais, são feitas pelos
atacantes ou pontas.
Os três armadores participam
das jogadas ofensivas. Quando a
equipe ataca, somente os três zagueiros ficam em seu campo. São
sete no ataque.
Para os técnicos e apaixonados
pelos números, seria um 3-3-1-3.
Na verdade, o desenho tático só
existe quando os jogadores estão
estáticos antes do chute inicial.
Quando a bola rola, os jogadores não param de correr, para o
desespero dos técnicos. Estão vivos. Tudo o que foi planejado fica
em segundo plano.
O mistério, o imponderável e a
individualidade assumem o comando da partida.
A seleção brasileira também
precisa inovar. Qualquer adversário sabe que os laterais vão
apoiar e os volantes marcar.
Na Europa, Cafu, Júnior e Serginho atuam na função de alas e
não de laterais. Antônio Carlos e
Roque Júnior jogam no esquema
com três zagueiros. Na seleção,
sentem dificuldades.
O esquema com dois zagueiros,
dois laterais, dois armadores defensivos, dois ofensivos e dois atacantes está muito simétrico, manjado e burocrático.
Leão precisa sacudir a equipe.
Anarquizá-la, para confundir o
adversário.
Além das estratégias argentinas
e brasileiras, pode-se atuar de
inúmeras maneiras: com três zagueiros e dois alas; um volante e
três meias; com pontas; três, quatro ou cinco atacantes, como queria o Matinas Suzuki; um na defesa e dez no ataque, como sonha o
Chico Buarque e de outras formas.
Não sei qual é o melhor esquema. Todos têm virtudes e defeitos.
Prefiro o que vence e brilha.
Viva a diferença! Abaixo à mesmice.
E-mail tostao.folha@uol.com.br
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