São Paulo, quinta-feira, 26 de novembro de 2009

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JUCA KFOURI

E a mão de Maradona?


A mão de Thierry Henry desencadeou uma saraivada de críticas. Por que a do argentino foi até elogiada?


SE O GOL da França que tirou a Irlanda da Copa do Mundo servir para, ao menos, a Fifa reforçar a arbitragem na África do Sul com mais dois auxiliares atrás das metas, como se cogita, o sacrifício irlandês não terá sido em vão.
É claro que o ideal seria mesmo a adoção de auxílio eletrônico, mas, para tanto, serão necessários outros escândalos do mesmo nível para fazer o reacionário mundo do futebol se mover. Chama a atenção, porém, a magnitude da repercussão do gol de Gallas, muito mais forte do que aconteceu quando Diego Maradona usou a mão de Deus para eliminar a Inglaterra da Copa do México, em 1986, quando os argentinos foram campeões.
Terá sido porque, em regra, todos torcemos para o mais fraco? Lembremos que o gol argentino aconteceu no aceso do conflito nas Malvinas e que a Irlanda foi esbulhada na casa da França, em Paris.
Em meio aos protestos, tanto o craque francês que matou a bola com a mão num gesto automático, mas com tempo suficiente para, depois, acusá-lo, quanto o árbitro sueco disseram que pensaram em largar a seleção francesa e o apito.
Mas logo voltaram atrás, danem- -se os escrúpulos e os irlandeses.
Mestre Tostão, cada vez melhor, se isto é possível, já tratou com sabedoria a questão, ao demonstrar que ética e esporte de alto rendimento raramente andam juntos.
Estão aí diversos episódios a demonstrá-lo, como outro craque, o jornalista e sociólogo argentino Sergio Levinsky, revela nesta semana em seu blog (www.sergiol-nimasnimenos.blogspot.com).
Eis que o "Times", da Inglaterra, elencou uma série de pisadas éticas históricas no esporte, embora quase todas recentes. Em primeiro lugar, escalou a mão de Henry, à frente da de Maradona. Destacou também o acidente deliberado de Nelsinho Piquet, no GP de Cingapura de 2008.
O doping de Ben Johnson, nos 100 m do Jogos Olímpicos de Seul, em 1988, faz parte da lista, assim como o teatro de Rivaldo, ao simular ter sido agredido pelos turcos, na Copa de 2002, para não falar da eliminação de 10 dos 12 jogadores do time de basquete da Espanha, nas Paraolimpíadas de 2000, em Sydney, porque se comprovou que eles não tinham nenhuma deficiência, uma coisa de louco.
Todos episódios lamentáveis e que encontram desde cínicos defensores até hipócritas opositores, porque capazes de fazer coisas ainda piores -e não no calor da batalha, mas friamente planejadas. Sim, de fato, o gol de Maradona é descrito como genial, embora genial mesmo tenha sido a sua frase, mesmo que de um cinismo imbatível e pernicioso.
Como até hoje aplaudimos os dois passos adiante que Nilton Santos, a "Enciclopédia", deu para fora da área com a finalidade de impedir que o árbitro marcasse o pênalti que ele cometera contra a Espanha, na Copa de 62, no Chile, quando os brasileiros perdiam por 1 a 0 e seriam certamente eliminados na primeira fase caso a penalidade fosse marcada e convertida. E o Brasil acabou bicampeão.
São Tomás de Aquino dizia que esperteza não é pecado. Mas qual é o limite?

blogdojuca@uol.com.br

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