São Paulo, quinta-feira, 26 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Ditadura dos nomes próprios reduz o humor nos apelidos dos jogadores

Geração de "Diegos" renega tradição de nomes curiosos

PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Cena 1: bola com Ventilador, que lança para Motor, que cruza para Bimbinha, que ajeita para Turista marcar um golaço.
Cena 2: Leonardo domina, toca para Anderson, que rola para Bruno, que ajeita para Fabiano entrar na meta com bola e tudo.
Essas duas jogadas, se os envolvidos defendessem o mesmo time, poderiam perfeitamente acontecer em uma partida válida pelo Campeonato Brasileiro.
Só que a primeira é de uma época em que o futebol no país tinha um humor que hoje deu lugar à "ditadura" dos nomes da moda.
Enquanto nos anos 70 um exército de apelidos folclóricos identificava os atletas, o século 21 começou com um batalhão de nomes compostos e iguais.
Nada mais de gente como Bife, Picolé e Petróleo. Agora, quando qualquer jogador tem empresário e assessor de imprensa, a maior extravagância em termos de apelido é colocar ao lado do nome de batismo a origem estadual.
Uma examinada na lista dos atletas que disputaram a última edição do Nacional mostra que os tempos são outros.
A maioria esmagadora dos nomes mais comuns agora simplesmente eram ignorados em 1971, quando o certame foi disputado pela primeira vez.
No campeonato ganho pelo Santos de Diego e que revelou o goleiro Diego (Juventude), 13 atletas conhecidos no futebol como Rodrigo entraram em campo. Em 1971, ninguém tinha esse nome ou pelo menos o usava no gramado.
Situação parecida acontece com outros nomes que invadiram o Brasil nas últimas décadas, como Leandro, Anderson e Fabiano.
Os nomes compostos também estão na moda: Fábio Luciano, Luis Fabiano etc.
Na seleção, ocorre algo similar. Do time titular na conquista do pentacampeonato na Coréia do Sul e no Japão, só o lateral-direito Cafu tinha na camisa um apelido, não o nome ou o sobrenome.
Já no time campeão mundial em 1958, na Suécia, cinco atletas titulares, incluindo os principais astros da equipe, eram conhecidos pelo apelido -Zito, Didi, Pelé, Garrincha e Vavá.
Entre os treinadores, que ganharam status nas últimas temporadas, apelido é um artigo ainda mais fora de moda.
Hoje não há ninguém como Cento e Nove, sempre pronto a assumir o Atlético-MG por curtos períodos nas décadas de 70 e 80.
Agora, o máximo que as estrelas da profissão fazem é usar um diminutivo (Geninho ou Candinho) ou a indicação de origem (Renato Gaúcho).


Texto Anterior: O que ver na TV
Próximo Texto: Santos diz ter acerto com dois campeões
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.