São Paulo, segunda-feira, 26 de dezembro de 2005

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Boliviano devolve forasteiros à seleção após hiato de 63 anos

Atacante do Vitória, Marcelo Moreno se torna o quinto gringo a envergar a "amarelinha"

Divulgação
O boliviano Marcelo Moreno, antes de partida na Copa Sendai


CRISTIANO CIPRIANO POMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

No ano em que um argentino, Tevez, foi premiado como o melhor jogador do Campeonato Brasileiro, um sérvio, Petkovic, acabou escolhido como o melhor meio-campista, e um uruguaio e um paraguaio, Lugano e Gamarra, foram os preferidos para a zaga, a legião de estrangeiros chegou à seleção brasileira.
Após 63 anos e 6 meses, a camisa verde-amarela voltou a ser envergada por um gringo. A tarefa coube a Marcelo Martins Moreno, 1,88 m e 78 kg, que nasceu em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. "É uma honra e um sonho saber que sou pioneiro nos times de base e que posso vestir a camisa do melhor futebol do mundo", diz.
Antes do atacante, apenas quatro forasteiros, segundo a Confederação Brasileira de Futebol, defenderam o país.
Já vestiram a "amarelinha" o italiano Francisco Police, que atuou num único amistoso em 1918, o inglês Sidney Pullen, que fez cinco jogos de 1916 a 1917, assim como o goleiro português Casemiro do Amaral, que defendeu a seleção em seis jogos e sofreu 14 gols. E, por fim, o atacante Rodolfo Barteczko, o Patesko, que disputou 34 duelos pelo Brasil, quatro deles nas Copas de 1934 e 1938.
Patesko, que, segundo a CBF, tinha origem polonesa, balançou 11 vezes (média de 0,32 gol) as redes pela seleção e era até o surgimento de Moreno o último gringo a ter atuado pelo país. Despediu-se em 5 de fevereiro de 1942, em amistoso que o Brasil ficou no 1 a 1 com o Paraguai em Montevidéu.
O "jejum" de estrangeiros na seleção foi quebrado em setembro, quando, após quase um ano nas categorias de base do Vitória, Moreno estreou na equipe sub-18. Primeiro, num amistoso diante da Caldense em Minas Gerais. Depois, em partida oficial pela Copa Sendai, contra Tohuko, no Japão.
Além das desistências de alguns jogadores, como o lateral-direito Eduardo (Corinthians) e o atacante Oliveira (Flamengo), a convocação de Moreno foi possível pelo fato de o atleta possuir dupla nacionalidade.
Filho do ex-jogador brasileiro Mauro Martins, que defendeu o Palmeiras durante a década de 70, e da dona-de-casa boliviana Ruth Moreno, o atleta, revelado pelo Oriente Petrolero com 15 anos, chegou ao país em outubro de 2004, quando foi levado para um período de testes no Vitória.
Aprovado, foi integrado ao time júnior do clube e reaprendeu o português, idioma com o qual teve contato na infância, dos dois aos sete anos, quando viveu em SP -época em que o pai jogava na capital- e escolheu seu time de coração, o Corinthians.
Suas boas atuações, além de despertarem a atenção dos olheiros da CBF, encantaram os europeus na Copa Philips, em agosto. Na ocasião, quando fez quatro gols em cinco jogos e levou o Vitória ao título, o PSV propôs que ele ficasse 15 dias em Eindhoven.
Não ficou e, um mês depois, tornou-se o quinto estrangeiro a vestir a camisa da seleção desde 1914.
"O menino é muito bom e marca boa presença no ataque. Tem futuro", afirma Branco, coordenador das categorias de base da CBF, que acompanhou o início do atleta na seleção e viu o primeiro gol dele pela equipe, em Minas.
"Foi um gol inesquecível. O Ji-Paraná cruzou, eu estava no meio da área, mas consegui matar no peito e bater de primeira. Em qualquer lugar onde eu possa estar, vou lembrar a imagem desse gol", diz Moreno, que é chamado de "Bolívia" pelos colegas.
Ao todo, ele já fez seis partidas pelo Brasil. Está invicto, com quatro gols. Aos 18 anos, tem muitos planos, desde o de ajudar o Vitória a sair da Série C até o de igualar os 11 gols de seu antecessor.


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