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OPINIÃO
Números e subjetividade
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
A prendi na minha carreira
anterior que a medicina é
uma ciência biológica, humana e
estatística. Todo ato médico, seja
orientação, prescrição de medicamento para uma simples dor de
cabeça ou uma grande cirurgia,
tem riscos e benefícios previsíveis.
Nunca se tem certeza do resultado
final. Isso aumenta a responsabilidade do médico, em vez de ser
uma desculpa para os insucessos.
O médico que não conhece as
possibilidades estatísticas de sua
atuação e somente confia na observação e na capacidade técnica
será, no mínimo, um profissional
prepotente.
Por outro lado, se o médico
atende a um paciente sem pensar
e agir como se ele fosse único e diferente de todos os outros que fazem parte da estatística, esse profissional não vai ser um médico, e
sim um técnico em medicina.
No futebol não é diferente. Se
analisarmos um profissional apenas pelas estatísticas de sua trajetória, a análise será bastante deficiente. O exemplo disso é o do jogador que quase não erra passes,
mas que só dá passes para o lado.
Mas se analisarmos um atleta
apenas pelas observações subjetivas, sem levar em conta as estatísticas, a análise será também falha.
Seria interessante e curioso se fizessem uma análise estatística das
atuações do Pelé. Com certeza, os
números estariam muito aquém
de suas eficiência e genialidade.
Alguns comentaristas são fascinados por números. Como têm
pouca confiança, sensibilidade e
habilidade para lidar com a subjetividade, acham que a estatística
pode explicar os fatos. Conhecimento não é só informação. Outros a desprezam. Para eles, números são chatos, assunto menor,
menos inteligente e de interesse
de pessoas pragmáticas.
Nas transmissões de futebol, os
números do jogo são geralmente
pouco valorizados e/ou desprezados. Parece que as estatísticas são
só apresentadas para dizer que a
TV segue a evolução tecnológica.
A razão está no meio. Os números são importantes desde que sejam analisados com outras observações objetivas e subjetivas.
Filpo Nunes, quando era técnico do Cruzeiro na década de 60,
depois de ser campeão pelo Palmeiras várias vezes, tinha o hábito
de reunir os jogadores após o jogo. Num dos bate-papos, em que
um meia-atacante tinha sido eleito pela imprensa o melhor da partida, Filpo perguntou: "Quantos
gols ou quantas finalizações você
fez que quase foram gols?".
Ele respondeu: "Nenhum".
"Quantos passes você deu que
foram gols ou que quase resultaram em gols?"
"Nenhum".
Filpo Nunes concluiu: "Você
correu muito, pegou muito na bola, mas não fez nada importante".
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