São Paulo, terça-feira, 27 de janeiro de 2004

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Mulheres miram recorde e mudam Brasil olímpico

Com queda do futebol, delegação feminina aumenta chances de encerrar hegemonia dos homens

GUILHERME ROSEGUINI
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O recorde é iminente. Pouco mais de seis meses antes da Olimpíada de Atenas, o número de mulheres brasileiras classificadas já raspa na marca histórica.
Mas o maior feito que o crescimento da delegação feminina pode gerar ainda está por vir: pela primeira vez, elas têm chances reais de subjugar a hegemonia masculina na competição.
No total, o país já tem uma representação de, no mínimo, 88 competidoras na Grécia. Em Sydney-2000, o Brasil participou representado por 94 mulheres.
O time masculino, desfalcado com a eliminação do Brasil no Pré-Olímpico de futebol, caminha a passos mais lentos. Até aqui, são 84 vagas asseguradas. Na Austrália, foram 110.
"O avanço é notável. As mulheres nunca estiveram à frente dos homens em números gerais como estão hoje. Mas acho que, até os Jogos, o time masculino tem mais chances de crescer do que o feminino", explica Marcus Vinícius Freire, coordenador técnico do Comitê Olímpico Brasileiro.
Para o dirigente, modalidades como remo e lutas, que ainda não definiram seus participantes, são muito mais desenvolvidas nas categorias masculinas. "Com isso, o total de homens na Grécia deve ser um pouco superior. Só que, pela primeira vez, eles estão sendo numericamente ameaçados."
Os principais responsáveis pelo incremento das mulheres na delegação são os esportes coletivos. O basquete masculino, por exemplo, não conseguiu vaga.
Já a seleção feminina venceu o Pré-Olímpico no México, disputado em setembro, e carimbou o passaporte de 12 jogadoras.
A discrepância no futebol também é grande. Enquanto o badalado time masculino nem poderá lutar para encerrar a sina de fracassos do Brasil em Olimpíadas -nunca conseguiu um ouro- ,o das mulheres obteve 18 vagas.
E nem precisou entrar em campo. O Pré-Olímpico da modalidade, que seria na Bolívia, acabou cancelado. A Conmebol, então, designou à seleção, campeã sul-americana, como representante.

Na pressão
Todo esse boom feminino não é exclusividade do Brasil. Em Sydney, na mais feminina das Olimpíadas, 39,1% dos 10.200 participantes eram mulheres. A tendência é que o número cresça em 2004. Talvez na marra.
Um grupo de ativistas feministas anunciou ontem que vai pressionar o Comitê Olímpico Internacional para aumentar a participação de mulheres nos Jogos, que começam no dia 13 de agosto.
A idéia do movimento: criar sanções para os países que não conduzirem delegações femininas à Grécia. "Eles [os países] têm mulheres na população ou não?", questiona a ativista Annie Sugier.
O COI informou que não recebeu reclamação ou sugestão formal das protestantes, mas crê que já tem boa atuação no fomento ao esporte feminino nos comitês nacionais. E diz que está aberto para discutir o tema -marcou para março uma conferência no Marrocos sobre o esporte feminino.
Parece pouco, mas as conquistas das mulheres no esporte sempre foram tortuosas. O Barão de Coubertin, fundador dos Jogos Olímpicos modernos, sempre se opôs a elas com veemência.
Em seu discurso de despedida da presidência do COI, em 1925, atacou enfurecido "a traição do ideal olímpico, pela permissão da participação de mulheres".
Sua queixa não vingou. Desde as minguadas 11 competidoras que deram a cara para bater em Paris-1900, nunca mais faltaram competidoras nas Olimpíadas.


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