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Mulheres miram recorde e mudam Brasil olímpico
Com queda do futebol, delegação feminina aumenta chances de encerrar hegemonia dos homens
GUILHERME ROSEGUINI
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O recorde é iminente. Pouco
mais de seis meses antes da Olimpíada de Atenas, o número de
mulheres brasileiras classificadas
já raspa na marca histórica.
Mas o maior feito que o crescimento da delegação feminina pode gerar ainda está por vir: pela
primeira vez, elas têm chances
reais de subjugar a hegemonia
masculina na competição.
No total, o país já tem uma representação de, no mínimo, 88
competidoras na Grécia. Em
Sydney-2000, o Brasil participou
representado por 94 mulheres.
O time masculino, desfalcado
com a eliminação do Brasil no
Pré-Olímpico de futebol, caminha a passos mais lentos. Até
aqui, são 84 vagas asseguradas.
Na Austrália, foram 110.
"O avanço é notável. As mulheres nunca estiveram à frente dos
homens em números gerais como
estão hoje. Mas acho que, até os
Jogos, o time masculino tem mais
chances de crescer do que o feminino", explica Marcus Vinícius
Freire, coordenador técnico do
Comitê Olímpico Brasileiro.
Para o dirigente, modalidades
como remo e lutas, que ainda não
definiram seus participantes, são
muito mais desenvolvidas nas categorias masculinas. "Com isso, o
total de homens na Grécia deve
ser um pouco superior. Só que,
pela primeira vez, eles estão sendo
numericamente ameaçados."
Os principais responsáveis pelo
incremento das mulheres na delegação são os esportes coletivos. O
basquete masculino, por exemplo, não conseguiu vaga.
Já a seleção feminina venceu o
Pré-Olímpico no México, disputado em setembro, e carimbou o
passaporte de 12 jogadoras.
A discrepância no futebol também é grande. Enquanto o badalado time masculino nem poderá
lutar para encerrar a sina de fracassos do Brasil em Olimpíadas
-nunca conseguiu um ouro- ,o
das mulheres obteve 18 vagas.
E nem precisou entrar em campo. O Pré-Olímpico da modalidade, que seria na Bolívia, acabou
cancelado. A Conmebol, então,
designou à seleção, campeã sul-americana, como representante.
Na pressão
Todo esse boom feminino não é
exclusividade do Brasil. Em
Sydney, na mais feminina das
Olimpíadas, 39,1% dos 10.200
participantes eram mulheres. A
tendência é que o número cresça
em 2004. Talvez na marra.
Um grupo de ativistas feministas anunciou ontem que vai pressionar o Comitê Olímpico Internacional para aumentar a participação de mulheres nos Jogos, que
começam no dia 13 de agosto.
A idéia do movimento: criar
sanções para os países que não
conduzirem delegações femininas à Grécia. "Eles [os países] têm
mulheres na população ou não?",
questiona a ativista Annie Sugier.
O COI informou que não recebeu reclamação ou sugestão formal das protestantes, mas crê que
já tem boa atuação no fomento ao
esporte feminino nos comitês nacionais. E diz que está aberto para
discutir o tema -marcou para
março uma conferência no Marrocos sobre o esporte feminino.
Parece pouco, mas as conquistas das mulheres no esporte sempre foram tortuosas. O Barão de
Coubertin, fundador dos Jogos
Olímpicos modernos, sempre se
opôs a elas com veemência.
Em seu discurso de despedida
da presidência do COI, em 1925,
atacou enfurecido "a traição do
ideal olímpico, pela permissão da
participação de mulheres".
Sua queixa não vingou. Desde
as minguadas 11 competidoras
que deram a cara para bater em
Paris-1900, nunca mais faltaram
competidoras nas Olimpíadas.
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