São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2000


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VÔLEI
Símbolo do Brasil medalha de ouro em Barcelona-92 trocará quadra pela areia depois de Sydney-2000
Negrão decide esticar carreira na praia

JOSÉ ALAN DIAS
da Reportagem Local

Nome incerto naquela que seria a terceira Olimpíada de sua carreira, Marcelo Negrão, símbolo da geração de ouro, já sabe o que fará terminada Sydney-2000: transfere-se, por pelo menos dois anos, para o vôlei de praia.
Melhor infanto-juvenil do mundo, aos 16, campeão em Barcelona-92, aos 19, melhor do planeta, aos 20 anos, Negrão, aos 27 anos, quer, em suas palavras, ""ganhar um gás" para prolongar uma carreira em que, nos três últimos anos, foi notícia por vários motivos (contusões, desentendimentos com o técnico da seleção), e não porque brilhou em quadra.
""Tenho vontade de ir para a praia porque ela vai me dar uma reciclada. Vai me garantir depois mais uns quatro ou cinco anos de quadra", diz o atacante.
""Estou sempre em contato com o Giovane, com o Tande, com o Carlão. Todos me falaram muito bem, que poderei preservar joelho, articulações", completa.
A referência aos parceiros de conquista é inevitável. Os dois primeiros, Tande e Giovane, resistem, pelo menos publicamente, ao lobby da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) para que retornem ao vôlei indoor (e, consequentemente, à seleção) depois de uma incursão na versão praieira iniciada em 1998. Carlão, passado um ano, fez o caminho de volta -é titular do Minas e nome certo da seleção em Sydney.
Na quinta-feira, Marcelo Negrão voltou à equipe do São Paulo, sexta colocada na Superliga, depois de uma semana inativo em decorrência de um hematoma no tríceps do braço direito. Participou de poucas passagens de rede na vitória por 3 sets 2 sobre o Coop/Santo André. Espera-se que atue em tempo integral hoje contra o Lupo-Náutico, em Osasco.
Foi o primeiro afastamento do jogador na atual temporada. Mas é um problema que começa a ser recorrente: contratura no mesmo braço o havia tirado da seleção na Copa América, em outubro. Pelo mesmo motivo, Radamés Lattari não o convocou para a Copa do Mundo - em que o Brasil terminou em quinto, sendo obrigado a participar de um Pré-Olímpico.
No evento, em janeiro, o atacante estava de novo presente. Foi titular nas duas primeiras partidas, contra Colômbia e Venezuela, mas viu, do banco, Joel (concorrente direto na corrida olímpica) carregar o time à classificação num 3 sets a 2 contra a Argentina.
Ainda em 1999, participou , em julho, da fase final da Liga Mundial, em que o Brasil retornou ao pódio, do qual estivera ausente por quatro anos. Mais uma participação discreta: na última partida, em que o Brasil superou a Rússia, assegurando o bronze, assinalou somente um ponto.
No mês seguinte, estava no Pan de Winnipeg. Descontada a falta de expressão de alguns rivais que a seleção encontrou, como Barbados, Negrão teve pelo menos duas atuações dignas de seu prestígio, ambas contra Cuba, na fase classificatória e na decisão -perdida.
Ao comparar as atuações no início da carreira com as de hoje, o atacante diz ser ""normal um atleta como eu, que ataca muito, ter um ano em que joga muito bem, e no outro, nem tanto".
""Meu vôlei melhorou muito na parte técnica, melhorei muito no bloqueio. Em relação ao ataque, sinto que falta encontrar um levantador com o qual eu me entenda bem, como eu fazia com o Maurício", diz, em nova alusão a um companheiro de Barcelona-92 e com o qual também foi campeão nacional em 1995/96, pelo Olympikus, de seu ex-técnico de seleção Bebeto de Freitas.
Em quase 15 anos de carreira, iniciada em setembro de 86, pelo Boa Viagem, de Recife, Negrão contabiliza uma única cirurgia -e não de ombro. Em janeiro de 98, torceu o tornozelo numa partida contra o Telepar pela Superliga. Operou e parou três meses.
Aproveitou a inatividade para negociar o retorno à Itália para jogar no Roma -estivera entre 92 e 94 no Treviso. Nove meses depois, voltava: mesmo com alguns bons jogos, não encarnou o papel de ""decisivo" que cabe ao estrangeiro no campeonato mais competitivo do mundo.
""Quando o Marcelo tinha 17 anos, ele batia por cima de todos os bloqueios. A maneira com que ele encerrou a Olimpíada de Barcelona-92 (com um ace) era a expressão natural dele. Ele pode voltar a ser o melhor do mundo. Mas vai precisar de um trabalho diferenciado", diz José Elias Proença, preparador que acompanhou o atacante no clube que o projetou, o Banespa, e no Olympikus, e responsável pelo trabalho individual de Ana Moser por cinco anos.



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