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VÔLEI
Símbolo do Brasil medalha de ouro em Barcelona-92 trocará quadra pela areia depois de Sydney-2000
Negrão decide esticar carreira na praia
JOSÉ ALAN DIAS
da Reportagem Local
Nome incerto naquela que seria
a terceira Olimpíada de sua carreira, Marcelo Negrão, símbolo
da geração de ouro, já sabe o que
fará terminada Sydney-2000:
transfere-se, por pelo menos dois
anos, para o vôlei de praia.
Melhor infanto-juvenil do
mundo, aos 16, campeão em Barcelona-92, aos 19, melhor do planeta, aos 20 anos, Negrão, aos 27
anos, quer, em suas palavras, ""ganhar um gás" para prolongar
uma carreira em que, nos três últimos anos, foi notícia por vários
motivos (contusões, desentendimentos com o técnico da seleção),
e não porque brilhou em quadra.
""Tenho vontade de ir para a
praia porque ela vai me dar uma
reciclada. Vai me garantir depois
mais uns quatro ou cinco anos de
quadra", diz o atacante.
""Estou sempre em contato com
o Giovane, com o Tande, com o
Carlão. Todos me falaram muito
bem, que poderei preservar joelho, articulações", completa.
A referência aos parceiros de
conquista é inevitável. Os dois
primeiros, Tande e Giovane, resistem, pelo menos publicamente, ao lobby da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) para que
retornem ao vôlei indoor (e, consequentemente, à seleção) depois
de uma incursão na versão praieira iniciada em 1998. Carlão, passado um ano, fez o caminho de
volta -é titular do Minas e nome
certo da seleção em Sydney.
Na quinta-feira, Marcelo Negrão voltou à equipe do São Paulo, sexta colocada na Superliga,
depois de uma semana inativo em
decorrência de um hematoma no
tríceps do braço direito. Participou de poucas passagens de rede
na vitória por 3 sets 2 sobre o
Coop/Santo André. Espera-se que
atue em tempo integral hoje contra o Lupo-Náutico, em Osasco.
Foi o primeiro afastamento do
jogador na atual temporada. Mas
é um problema que começa a ser
recorrente: contratura no mesmo
braço o havia tirado da seleção na
Copa América, em outubro. Pelo
mesmo motivo, Radamés Lattari
não o convocou para a Copa do
Mundo - em que o Brasil terminou em quinto, sendo obrigado a
participar de um Pré-Olímpico.
No evento, em janeiro, o atacante estava de novo presente. Foi titular nas duas primeiras partidas,
contra Colômbia e Venezuela,
mas viu, do banco, Joel (concorrente direto na corrida olímpica)
carregar o time à classificação
num 3 sets a 2 contra a Argentina.
Ainda em 1999, participou , em
julho, da fase final da Liga Mundial, em que o Brasil retornou ao
pódio, do qual estivera ausente
por quatro anos. Mais uma participação discreta: na última partida, em que o Brasil superou a
Rússia, assegurando o bronze, assinalou somente um ponto.
No mês seguinte, estava no Pan
de Winnipeg. Descontada a falta
de expressão de alguns rivais que
a seleção encontrou, como Barbados, Negrão teve pelo menos duas
atuações dignas de seu prestígio,
ambas contra Cuba, na fase classificatória e na decisão -perdida.
Ao comparar as atuações no início da carreira com as de hoje, o
atacante diz ser ""normal um atleta como eu, que ataca muito, ter
um ano em que joga muito bem, e
no outro, nem tanto".
""Meu vôlei melhorou muito na
parte técnica, melhorei muito no
bloqueio. Em relação ao ataque,
sinto que falta encontrar um levantador com o qual eu me entenda bem, como eu fazia com o
Maurício", diz, em nova alusão a
um companheiro de Barcelona-92 e com o qual também foi campeão nacional em 1995/96, pelo
Olympikus, de seu ex-técnico de
seleção Bebeto de Freitas.
Em quase 15 anos de carreira,
iniciada em setembro de 86, pelo
Boa Viagem, de Recife, Negrão
contabiliza uma única cirurgia
-e não de ombro. Em janeiro de
98, torceu o tornozelo numa partida contra o Telepar pela Superliga. Operou e parou três meses.
Aproveitou a inatividade para
negociar o retorno à Itália para jogar no Roma -estivera entre 92 e
94 no Treviso. Nove meses depois, voltava: mesmo com alguns
bons jogos, não encarnou o papel
de ""decisivo" que cabe ao estrangeiro no campeonato mais competitivo do mundo.
""Quando o Marcelo tinha 17
anos, ele batia por cima de todos
os bloqueios. A maneira com que
ele encerrou a Olimpíada de Barcelona-92 (com um ace) era a expressão natural dele. Ele pode voltar a ser o melhor do mundo. Mas
vai precisar de um trabalho diferenciado", diz José Elias Proença,
preparador que acompanhou o
atacante no clube que o projetou,
o Banespa, e no Olympikus, e responsável pelo trabalho individual
de Ana Moser por cinco anos.
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