São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Paulista chega à liderança pelas ruínas da Parmalat

Marcelo Langue/"Jornal de Jundiaí'
O ex-goleiro Zetti, que comanda o Paulista, melhor time do Estadual de São Paulo, corre durante treinamento em Jundiaí


Seis dos 11 titulares da equipe de Jundiaí, sensação do Estadual, saíram das categorias de base, turbinadas nos quatro anos em que a empresa italiana dirigiu o clube

DIOGO PINHEIRO
DA FOLHA CAMPINAS

PAULO COBOS
TONI ASSIS

DA REPORTAGEM LOCAL

A Parmalat gerou escândalos, dívidas, quebradeira e várias histórias mal contadas. Mas a empresa italiana também tem grande parte do mérito na maior sensação do Campeonato Paulista.
Líder do Grupo 2, na frente dos poderosos Santos, Palmeiras e São Caetano, o Paulista de Jundiaí brilha com um time montado graças ao modelo construído no clube nos quatro anos em que a Parmalat foi sua dona.
Ao contrário do que fez no Palmeiras, onde enterrou milhões de dólares basicamente na contratação de medalhões, a Parmalat apostou nas categorias de base em Jundiaí (a 60 km de São Paulo).
O fruto dessa política aparece agora, menos de dois anos depois que os italianos desembarcaram do Paulista, que tinha o nome de Etti quando era administrado pela concordatária empresa.
Dos 11 titulares do time treinado por Zetti, seis foram formados no próprio clube -o goleiro Rafael, o zagueiro Asprilla e o atacante João Paulo, um dos artilheiros da equipe, são alguns deles. No elenco de 28 jogadores, 16 começaram em Jundiaí, sendo que a maior parte deles deu os primeiros passos no futebol na gestão Parmalat.
"A idéia de não montar um time de aluguel me animou bastante", declara Zetti, lembrando a situação de quase todos os times pequenos e até alguns grandes, que montam elencos para um só torneio, com contratos curtos.
O desempenho dos jogadores revelados em Jundiaí pode fazer com que a experiência da Parmalat na cidade não tenha sido um fiasco financeiro total.
Em 1998, a empresa pagou R$ 2,5 milhões para ficar com o controle da equipe, então nas mãos de uma outra empresa, a Lousano. Inicialmente, a idéia dos italianos era ficar no clube por 30 anos. Mas desentendimentos com os cartolas locais e a decadência financeira do grupo fizeram com que o trato fosse desfeito em 2002.
Para recuperar o controle do futebol, o Paulista pagou irrisórios R$ 100. Assim, a única chance da Parmalat recuperar o dinheiro investido está na negociação de jogadores -quase todos os revelados no clube anda têm 50% de seus direitos presos à empresa.
A Parmalat chegou a gastar R$ 1,2 milhão por temporada nas categorias de base. Contratou gente famosa, como a psicóloga Regina Brandão, que trabalhou com Luiz Felipe Scolari na Copa-2002.
A empresa trouxe treinadores e preparadores físicos, investiu em médicos, dentistas e usou um sistema em que o valor dos salários dos jogadores da base era calculado também pelo desempenho nos bancos escolares.
"Isso é fruto de um trabalho que já vinha sendo feito há tempos atrás", afirma Zetti, reconhecendo a importância da Parmalat no grupo que comanda hoje.
Apesar da conturbada saída da empresa do clube, a diretoria do Paulista também admite os benefícios da gestão Parmalat.
"Em 2001, conseguimos acesso para a A-1 do Paulista. No mesmo ano, chegamos na Série B do Brasileiro. Sem contar que nesse período de quatro anos o Paulista foi campeão paulista infantil e juvenil e cumpriu uma das metas prioritárias, que era investir nas categorias de base", diz Eduardo Palhares, presidente do Paulista.
Hoje, a equipe ainda se aproveita da remodelação do estádio Jaime Cintra, também bancada pela companhia italiana.
Para o futuro, o Paulista aposta em uma nova parceria. Um projeto que vem sendo estudado e deve ter novidades dentro de 40 dias é uma parceria com o PSV, clube da Holanda. "Não dá para adiantar nada ainda, mas estamos mantendo um contato. Existe o interesse deles de investir no Brasil, e vamos seguir conversando", afirmou Palhares, que diz que o clube custa R$ 180 mil mensais.


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: Memória: Clube foi o 1º do interior a jogar Estadual inteiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.