São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2005

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MEDICINA

Terapia do frio atrai até estrelas do esporte que se expõem a - 160C para se recuperar de lesões e reabilitar o corpo

Atletas vão ao freezer em busca de cura

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Apenas de bermuda, meias, touca e luvas uma legião de pessoas aguarda para entrar na sala. Dentro dela, - 160 C. A cena, que parece retirada de um filme de ficção científica, se repete diariamente em Spala, na Polônia.
A nova atração atende pelo nome de crioterapia e passou a figurar no arsenal de tratamentos fisioterápicos de atletas de ponta ávidos por resultados rápidos.
Pela câmara gelada do Centro Olímpico de Reabilitação Médica, um dos poucos da Europa a usar a técnica, já passaram nomes como Robert Korzeniowski, três vezes campeão olímpico dos 50 km da marcha atlética e único atleta vencer os 50 km e 20 km na mesma edição dos Jogos, Sydney-2000.
Ele participa das sessões há três anos. Segundo os médicos do Centro, a crioterapia ajuda na prevenção de lesões e regeneração dos músculos, além de reduzir a ansiedade, melhorar percepção e favorecer a eliminação de toxinas.
A terapia foi criada há 27 anos pelo japonês Toshiro Yamanchi. Na Europa, aportou nos anos 80.
Para participar das sessões, os atletas vestem apenas bermuda, luvas e meias (em material térmico). Antes de entrar na sala gelada, eles têm a pressão arterial medida e passam por uma câmara a -60C para se acostumar. Depois, trocam de recinto e encaram um frio que varia de - 115C a - 160C durante três minutos. Para efeito de comparação, a temperatura mais baixa registrada no planeta foi - 89,2C, na Antártida.
Enquanto estão trancados, os atletas andam sem parar para evitar o congelamento do corpo.
"O frio penetra nos ossos. Nos segundos finais você acha que não vai suportar mais. Sair de lá é um alívio", conta o irlandês Brian O'Driscoll. Ele e o companheiro Gordon D'Arcy, lesionados, foram enviados a Spala em busca de reabilitação rápida para a disputa do Torneio Seis Nações de rúgbi. Só O'Driscoll se recuperou para pegar a Inglaterra no jogo de hoje.
"Teoricamente, não haveria diferença no tempo de recuperação por causa dessa superexposição ao frio", afirma o fisioterapeuta Renato Alves Sandoval.
A crioterapia "de choque", no entanto, seria uma forma mais rápida e eficiente de fechar microlesões e evitar que elas evoluíssem.
Especialistas brasileiros ouvidos pela Folha disseram que o método aplicado em Spala ainda carece de estudo e que a exposição ao frio excessivo desse ser feita de forma controlada e só em atletas com bom nível de condicionamento físico e sem problemas no sistema cardiorrespiatório.
O método polonês ainda é pouco conhecido no Brasil. Os fisioterapeutas do país costumam usar crioterapia "tradicional" com bolsas de gelo, jatos de água gelada e imersão -entrar em uma banheira cheia de gelo, por exemplo-, entre outros métodos.
A aplicação é feita após a prática esportiva com o objetivo de fechar microlesões. Ultimamente as aplicações, antes restritas a até 72h após o esforço, têm sido feitas enquanto duram os sintomas.


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