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MEDICINA
Terapia do frio atrai até estrelas do esporte que se expõem a - 160C para se recuperar de lesões e reabilitar o corpo
Atletas vão ao freezer em busca de cura
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Apenas de bermuda, meias,
touca e luvas uma legião de pessoas aguarda para entrar na sala.
Dentro dela, - 160 C. A cena, que
parece retirada de um filme de ficção científica, se repete diariamente em Spala, na Polônia.
A nova atração atende pelo nome de crioterapia e passou a figurar no arsenal de tratamentos fisioterápicos de atletas de ponta
ávidos por resultados rápidos.
Pela câmara gelada do Centro
Olímpico de Reabilitação Médica,
um dos poucos da Europa a usar a
técnica, já passaram nomes como
Robert Korzeniowski, três vezes
campeão olímpico dos 50 km da
marcha atlética e único atleta vencer os 50 km e 20 km na mesma
edição dos Jogos, Sydney-2000.
Ele participa das sessões há três
anos. Segundo os médicos do
Centro, a crioterapia ajuda na
prevenção de lesões e regeneração
dos músculos, além de reduzir a
ansiedade, melhorar percepção e
favorecer a eliminação de toxinas.
A terapia foi criada há 27 anos
pelo japonês Toshiro Yamanchi.
Na Europa, aportou nos anos 80.
Para participar das sessões, os
atletas vestem apenas bermuda,
luvas e meias (em material térmico). Antes de entrar na sala gelada, eles têm a pressão arterial medida e passam por uma câmara a
-60C para se acostumar. Depois,
trocam de recinto e encaram um
frio que varia de - 115C a - 160C
durante três minutos. Para efeito
de comparação, a temperatura
mais baixa registrada no planeta
foi - 89,2C, na Antártida.
Enquanto estão trancados, os
atletas andam sem parar para evitar o congelamento do corpo.
"O frio penetra nos ossos. Nos
segundos finais você acha que não
vai suportar mais. Sair de lá é um
alívio", conta o irlandês Brian
O'Driscoll. Ele e o companheiro
Gordon D'Arcy, lesionados, foram enviados a Spala em busca de
reabilitação rápida para a disputa
do Torneio Seis Nações de rúgbi.
Só O'Driscoll se recuperou para
pegar a Inglaterra no jogo de hoje.
"Teoricamente, não haveria diferença no tempo de recuperação
por causa dessa superexposição
ao frio", afirma o fisioterapeuta
Renato Alves Sandoval.
A crioterapia "de choque", no
entanto, seria uma forma mais rápida e eficiente de fechar microlesões e evitar que elas evoluíssem.
Especialistas brasileiros ouvidos
pela Folha disseram que o método aplicado em Spala ainda carece
de estudo e que a exposição ao
frio excessivo desse ser feita de
forma controlada e só em atletas
com bom nível de condicionamento físico e sem problemas no
sistema cardiorrespiatório.
O método polonês ainda é pouco conhecido no Brasil. Os fisioterapeutas do país costumam usar
crioterapia "tradicional" com bolsas de gelo, jatos de água gelada e
imersão -entrar em uma banheira cheia de gelo, por exemplo-, entre outros métodos.
A aplicação é feita após a prática
esportiva com o objetivo de fechar microlesões. Ultimamente as
aplicações, antes restritas a até
72h após o esforço, têm sido feitas
enquanto duram os sintomas.
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