São Paulo, terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

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SONINHA

"Não perturbe"

A Ferj declarou que estava em recesso. Trabalhar na semana de Carnaval? Só porque tinha a semifinal do campeonato?

EXPERIMENTE entrar no site da federação carioca para saber detalhes sobre a semifinal da Taça Guanabara, consultar súmulas e borderôs, tirar dúvidas quanto ao regulamento do torneio ou obter informações exatas sobre a final entre Flamengo e Madureira.
Perderá a viagem. A página está fora do ar há dias e, até a hora em que escrevo, continua em branco. Se estivesse funcionando, teria de cumprir ordem judicial e informar que o presidente "eleito" semanas atrás não poderia sequer ser candidato e que a reunião em que Eurico Miranda bradou "eu sou dono da federação!" não poderia eleger ninguém.
A antiga diretoria da federação foi afastada devido à acusação de "crimes contra o patrimônio, estelionato e outras fraudes". Rubens Lopes da Costa Filho era o primeiro vice do então presidente Eduardo Viana, portanto fazia parte do grupo afastado e não poderia aparecer agora como candidato a substituto de si mesmo. Assim, sob pena de multa diária de R$ 10 mil, o site da federação deveria dizer claramente que Rubens Lopes não é seu presidente.
A ordem não foi cumprida. A federação alega que estava em recesso até domingo e por isso aproveitou para fazer a manutenção da página na internet. Aliás, em "cache", no Google, encontra-se o ato do "Presidente Rubens Lopes", no dia 15, comunicando o recesso a partir do dia 16. COMO ASSIM recesso? Ainda que estivessem ocorrendo os jogos iniciais do Estadual, e não as partidas decisivas do primeiro turno, como uma federação entra em recesso com seu principal torneio em andamento? A desfaçatez é espantosa: para fugir de uma responsabilidade, inventam uma desculpa horrível.
Por essas e outras, muitos perguntam para que servem as federações. Se os campeonatos podem acontecer sem elas; se a gestão do esporte profissional é precária; se o fomento à revelação e formação de novos talentos é deficiente ou inexistente...
Não quero ser injusta. A federação paulista, por exemplo, tem iniciativas interessantes. Entre elas, cadastrar os membros de torcidas organizadas, pondo logo em prática recomendação da Comissão da Paz no Esporte (do Ministério do Esporte) e da Câmara Técnica do Desporto (do Procon-SP). E tem se dedicado mais seriamente à preparação e acompanhamento da arbitragem.
Mas ainda promove um campeonato que tem tabela e regulamento cheios de problemas...
O campeonato do Rio tem um formato que muitos invejam, com profusão de clássicos e decisões, mas neste ano esteve às voltas com o polêmico inchaço no número de participantes proposto pela federação. Os clubes, é preciso dizer, são no mínimo coniventes com alguns desmandos, na expectativa de um benefício ou temendo represálias. Assim, nada muda para valer. A não ser agora, quem sabe, por ação da Justiça...
Em campo, o clássico dos semifinalistas foi daqueles de cinejornal: gol nos primeiros minutos, ídolo machucado, empate no tempo normal pelos pés de quem nunca tinha atuado no Maracanã, decisão nos pênaltis. Um time converte o primeiro, o outro perde. Mas o resultado final é invertido, quem começou rindo terminou chorando, e Romário, em contagem regressiva para o gol mil, não chega a cobrar o seu.
Pela TV, foram milhões de espectadores. No estádio, só 23.791 pagantes encararam o ingresso a R$ 40. Na véspera, 2.742 se animaram a ver Madureira x América pelo mesmo preço. Outra demonstração da inteligência dos organizadores...
Nos jogos do Campeonato Brasileiro, a Ferj ficava com 5% da receita bruta de uma partida. Vamos ver quanto irá cobrar pelos jogos ocorridos no seu recesso. Se os clubes pagarem sem ao menos resistir, é porque merecem o "serviço" que têm.


soninha.folha@uol.com.br

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