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SONINHA
"Não perturbe"
A Ferj declarou que estava em recesso. Trabalhar na semana de Carnaval? Só porque tinha a semifinal do campeonato?
EXPERIMENTE entrar no site da
federação carioca para saber
detalhes sobre a semifinal da
Taça Guanabara, consultar súmulas
e borderôs, tirar dúvidas quanto ao
regulamento do torneio ou obter informações exatas sobre a final entre
Flamengo e Madureira.
Perderá a viagem. A página está
fora do ar há dias e, até a hora em que
escrevo, continua em branco. Se estivesse funcionando, teria de cumprir ordem judicial e informar que o
presidente "eleito" semanas atrás
não poderia sequer ser candidato e
que a reunião em que Eurico Miranda bradou "eu sou dono da federação!" não poderia eleger ninguém.
A antiga diretoria da federação foi
afastada devido à acusação de "crimes contra o patrimônio, estelionato e outras fraudes". Rubens Lopes
da Costa Filho era o primeiro vice do
então presidente Eduardo Viana,
portanto fazia parte do grupo afastado e não poderia aparecer agora como candidato a substituto de si mesmo. Assim, sob pena de multa diária
de R$ 10 mil, o site da federação deveria dizer claramente que Rubens
Lopes não é seu presidente.
A ordem não foi cumprida. A federação alega que estava em recesso
até domingo e por isso aproveitou
para fazer a manutenção da página
na internet. Aliás, em "cache", no
Google, encontra-se o ato do "Presidente Rubens Lopes", no dia 15, comunicando o recesso a partir do dia
16. COMO ASSIM recesso? Ainda
que estivessem ocorrendo os jogos
iniciais do Estadual, e não as partidas decisivas do primeiro turno, como uma federação entra em recesso
com seu principal torneio em andamento? A desfaçatez é espantosa:
para fugir de uma responsabilidade,
inventam uma desculpa horrível.
Por essas e outras, muitos perguntam para que servem as federações.
Se os campeonatos podem acontecer sem elas; se a gestão do esporte
profissional é precária; se o fomento
à revelação e formação de novos talentos é deficiente ou inexistente...
Não quero ser injusta. A federação
paulista, por exemplo, tem iniciativas interessantes. Entre elas, cadastrar os membros de torcidas organizadas, pondo logo em prática recomendação da Comissão da Paz no
Esporte (do Ministério do Esporte)
e da Câmara Técnica do Desporto
(do Procon-SP). E tem se dedicado
mais seriamente à preparação e
acompanhamento da arbitragem.
Mas ainda promove um campeonato que tem tabela e regulamento
cheios de problemas...
O campeonato do Rio tem um formato que muitos invejam, com profusão de clássicos e decisões, mas
neste ano esteve às voltas com o polêmico inchaço no número de participantes proposto pela federação.
Os clubes, é preciso dizer, são no mínimo coniventes com alguns desmandos, na expectativa de um benefício ou temendo represálias. Assim,
nada muda para valer. A não ser agora, quem sabe, por ação da Justiça...
Em campo, o clássico dos semifinalistas foi daqueles de cinejornal:
gol nos primeiros minutos, ídolo
machucado, empate no tempo normal pelos pés de quem nunca tinha
atuado no Maracanã, decisão nos
pênaltis. Um time converte o primeiro, o outro perde. Mas o resultado final é invertido, quem começou
rindo terminou chorando, e Romário, em contagem regressiva para o
gol mil, não chega a cobrar o seu.
Pela TV, foram milhões de espectadores. No estádio, só 23.791 pagantes encararam o ingresso a R$
40. Na véspera, 2.742 se animaram a
ver Madureira x América pelo mesmo preço. Outra demonstração da
inteligência dos organizadores...
Nos jogos do Campeonato Brasileiro, a Ferj ficava com 5% da receita
bruta de uma partida. Vamos ver
quanto irá cobrar pelos jogos ocorridos no seu recesso.
Se os clubes pagarem sem ao menos resistir, é porque merecem o
"serviço" que têm.
soninha.folha@uol.com.br
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