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JUCA KFOURI
Operação Pés Limpos
À Polícia Federal só falta, agora, entrar em campo
nos gramados e ginásios esportivos pelo país afora
APROVEITO AQUI o mote bem
sacado por Marcelo Coelho
em sua última coluna na Ilustrada, sob o título "Tigres, oráculos e bolas de fogo", na qual se diz
que "nada seria mais chato do que
um código numérico para nomear
as operações da PF".
De fato.
Com apelidos mais ou menos felizes, a PF tem se caracterizado pela criatividade ao dar nomes às suas
investidas contra a corrupção endêmica que nos assola.
Mas, como naquela música, está
faltando uma: a que investigue as
armações do futebol.
Por óbvia, a sugestão do título
desta coluna deve ser descartada,
pois mais que causar vazamento,
seria o próprio vazamento.
Mais, aliás: seria injusto limitar
ao futebol, tantos são os exemplos
em outras áreas de nosso esporte,
está aí o Pan-2007 para não nos
deixar mentir, o TCU que o diga.
Se é, por sinal, curioso, divertido
e esperado que operações como a
"Navalha" tragam à baila nome de
políticos umbilicalmente ligados à
CBF, de senadores a deputados,
passando por governadores, representantes antigos e novos da chamada "bancada da bola", seria absolutamente didático que nossa
brava PF enveredasse pelos descaminhos do esporte nacional.
Porque nada se faz em nome da
autonomia, como se esta fosse antônimo de transparência, como na
universidade, sabe José Serra?
A PF descobrirá talvez menos dinheiro, mas, certamente, fortunas
pessoais amealhadas na exploração
da paixão popular, algo parecido
com o que se dá em torno do vício
pelos bingos e da fé pelas seitas religiosas que nos assolam.
O campo é fértil. E o Ministério
Público, aliado.
Se depois, como tem sido regra, o
Poder Judiciário livra a barra, passa a ser problema dele, que cada vez
mais fica menos bem na fita da sociedade brasileira.
Porque o inegável efeito pedagógico de ver empreiteiros e políticos
atrás das grades será ainda maior se
os algemados da vez forem cartolas
nacionalmente conhecidos.
E conhecidos, também, por sua
arrogante impunidade, reis da terra de ninguém, capitães hereditários de feudos que deveriam pertencer ao torcedor.
Certa vez este colunista ouviu de
um secretário da Receita Federal
que os negócios do futebol não
eram objeto de apuração mais detalhada das malhas finas porque a
sonegação era incomparavelmente
maior, por exemplo, na indústria
da cerveja ou dos medicamentos.
Pode ser, mas nenhum cervejeiro
tem a projeção de um cartola de
confederação, federação ou clube
brasileiros, com todas as conseqüências exemplares para os cidadãos comuns que a detenção deles
inevitavelmente acarretaria.
OK, já está dito que "Operação
Pés Limpos" daria muita bandeira.
Que tal "Bola de Neve"? Ou "Pandemônio", ou, ainda, "Copa e Cozinha", sem o 2014, suficientemente
ambíguas para não dar vista?
Quer saber, o nome da operação
também pode ficar a cargo da PF,
que no mais das vezes tem se saído
muito bem no quesito criatividade.
O que urge é apertar o cerco em
torno da pouca vergonha que caracteriza o esporte no Brasil.
blogdojuca@uol.com.br
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