São Paulo, domingo, 27 de maio de 2007

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JUCA KFOURI

Operação Pés Limpos

À Polícia Federal só falta, agora, entrar em campo nos gramados e ginásios esportivos pelo país afora

APROVEITO AQUI o mote bem sacado por Marcelo Coelho em sua última coluna na Ilustrada, sob o título "Tigres, oráculos e bolas de fogo", na qual se diz que "nada seria mais chato do que um código numérico para nomear as operações da PF".
De fato.
Com apelidos mais ou menos felizes, a PF tem se caracterizado pela criatividade ao dar nomes às suas investidas contra a corrupção endêmica que nos assola. Mas, como naquela música, está faltando uma: a que investigue as armações do futebol.
Por óbvia, a sugestão do título desta coluna deve ser descartada, pois mais que causar vazamento, seria o próprio vazamento.
Mais, aliás: seria injusto limitar ao futebol, tantos são os exemplos em outras áreas de nosso esporte, está aí o Pan-2007 para não nos deixar mentir, o TCU que o diga.
Se é, por sinal, curioso, divertido e esperado que operações como a "Navalha" tragam à baila nome de políticos umbilicalmente ligados à CBF, de senadores a deputados, passando por governadores, representantes antigos e novos da chamada "bancada da bola", seria absolutamente didático que nossa brava PF enveredasse pelos descaminhos do esporte nacional.
Porque nada se faz em nome da autonomia, como se esta fosse antônimo de transparência, como na universidade, sabe José Serra?
A PF descobrirá talvez menos dinheiro, mas, certamente, fortunas pessoais amealhadas na exploração da paixão popular, algo parecido com o que se dá em torno do vício pelos bingos e da fé pelas seitas religiosas que nos assolam.
O campo é fértil. E o Ministério Público, aliado.
Se depois, como tem sido regra, o Poder Judiciário livra a barra, passa a ser problema dele, que cada vez mais fica menos bem na fita da sociedade brasileira.
Porque o inegável efeito pedagógico de ver empreiteiros e políticos atrás das grades será ainda maior se os algemados da vez forem cartolas nacionalmente conhecidos.
E conhecidos, também, por sua arrogante impunidade, reis da terra de ninguém, capitães hereditários de feudos que deveriam pertencer ao torcedor.
Certa vez este colunista ouviu de um secretário da Receita Federal que os negócios do futebol não eram objeto de apuração mais detalhada das malhas finas porque a sonegação era incomparavelmente maior, por exemplo, na indústria da cerveja ou dos medicamentos.
Pode ser, mas nenhum cervejeiro tem a projeção de um cartola de confederação, federação ou clube brasileiros, com todas as conseqüências exemplares para os cidadãos comuns que a detenção deles inevitavelmente acarretaria.
OK, já está dito que "Operação Pés Limpos" daria muita bandeira.
Que tal "Bola de Neve"? Ou "Pandemônio", ou, ainda, "Copa e Cozinha", sem o 2014, suficientemente ambíguas para não dar vista? Quer saber, o nome da operação também pode ficar a cargo da PF, que no mais das vezes tem se saído muito bem no quesito criatividade. O que urge é apertar o cerco em torno da pouca vergonha que caracteriza o esporte no Brasil.


blogdojuca@uol.com.br

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