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Eduardo Knapp/Folha Imagem
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Mariana Abe acerta a bola em treino de rebatidas da equipe nacional de softbol que vai ao Pan |
Brasil japonês sobrevive no softbol
Todas as jogadoras da equipe nacional que irá defender o país nos Jogos Pan-Americanos têm ascendência oriental
"Muitos estrangeiros não acreditam que é a seleção brasileira quando vêem todas de olhos puxados",
relata arremessadora
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
Takahashi, Miyahira, Mizushiwa, Kosaka... Esses são os sobrenomes de algumas das jogadoras da seleção brasileira de
softbol, que não tem nenhum
"Silva", "Souza" ou "Santos".
Todas as jogadoras da equipe
nacional da modalidade têm ascendência nipônica, o que faz
do softbol uma exceção.
Há anos, ocorria o mesmo em
outras modalidades, como o judô, o tênis de mesa, o caratê e o
beisebol, que foram se ocidentalizando ao longo do tempo.
Agora, apenas o softbol permanece como exemplo do Brasil japonês no esporte.
"Nas competições internacionais, muitos estranham
quando vêem a seleção brasileira com todas de olhos puxados", conta Laila Kaori Kosaka,
arremessadora de 19 anos de
idade, que divide o tempo entre
os treinos para o Pan e suas aulas na faculdade de arquitetura.
Ao relatarem seus primeiros
passos no softbol, as jogadoras
contam histórias parecidas.
Tomaram contato com o esporte por influência de parentes e,
a partir daí, passaram a encará-lo com mais seriedade.
A enfermeira Cynthia Carolina Takahashi, 23, por exemplo,
destaca que todas as jogadoras
estão bastante inseridas na cultura japonesa. "Uma característica do time é que somos
muito disciplinadas", cita ela.
Jorge Otsuka, presidente da
CBBS (Confederação Brasileira
de Beisebol e Softbol), conta
que o desenvolvimento do esporte acabou, acidentalmente,
concentrando as praticantes na
colônia japonesa.
"É difícil para "brasileiros" se
adaptarem, porque o sistema
de treino é sacrificante", conta
o dirigente -chamado pelas jogadoras de "tio Jorge", tratamento que indica o quão restrito é o esporte, que tem cerca de
mil praticantes federadas.
"Os campos são longe, e as
atividades se concentram nos
finais de semana. Como não sobram recursos, as mães cozinham, os pais são os juízes e
técnicos... Assim, a família toda
participa, mas, sem querer, fica
fechado [para quem não é da
colônia japonesa]", explica ele.
O mais curioso, segundo Otsuka, é que o esporte não chegou ao Brasil com os japoneses.
"Veio junto com os ingleses,
que introduziram o beisebol.
As primeiras partidas no país
eram entre funcionários da
Light e da ferrovia, todos britânicos. Os japoneses só organizaram as modalidades mais tarde, fundando a Federação Paulista em 1946."
Com bolas maiores, o softbol
é a versão feminina do beisebol.
Com o mesmo número de jogadoras -nove no time de defesa
e até quatro simultaneamente
no de ataque-, o softbol é mais
curto (tem sete entradas, contra nove do beisebol).
Há diferença também no lançamento. No softbol, o arremesso para a jogadora rebater
precisa ser feito de baixo para
cima, restrição que inexiste na
versão masculina. Os bastões
de softbol são mais curtos, têm
circunferência menor e peso similar aos de beisebol.
Mas são distinções que as
meninas só aprendem aos 12
anos de idade. Até este limite,
elas são liberadas para jogar
beisebol com os garotos.
A catcher (apanhadora) Márcia Miyahira Mizushiwa, 28, já
ensinou regras a muita gente.
"Sempre vivi no meio", conta
sobre seu contato inicial com
bases e bastões. "Depois, meu
pai fundou um clube de beisebol e softbol em Santo André."
O clube acabou como uma
das raras iniciativas de levar o
softbol além da colônia.
"Enquanto a gente treinava,
havia muitas crianças carentes
do lado de fora e elas foram
convidadas a jogar", narra ela.
"Depois, quando fui jogar no
time adulto de outro clube, o do
meu pai virou só uma iniciativa
de inclusão social, já que eu não
podia mais ajudar a treinar os
mais novos", relata Márcia,
destacando que até hoje seu
pai, aos 68 anos, ensina as
crianças no ABC paulista.
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