São Paulo, domingo, 27 de maio de 2007

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Eduardo Knapp/Folha Imagem
Mariana Abe acerta a bola em treino de rebatidas da equipe nacional de softbol que vai ao Pan


Brasil japonês sobrevive no softbol

Todas as jogadoras da equipe nacional que irá defender o país nos Jogos Pan-Americanos têm ascendência oriental

"Muitos estrangeiros não acreditam que é a seleção brasileira quando vêem todas de olhos puxados", relata arremessadora


LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

Takahashi, Miyahira, Mizushiwa, Kosaka... Esses são os sobrenomes de algumas das jogadoras da seleção brasileira de softbol, que não tem nenhum "Silva", "Souza" ou "Santos".
Todas as jogadoras da equipe nacional da modalidade têm ascendência nipônica, o que faz do softbol uma exceção.
Há anos, ocorria o mesmo em outras modalidades, como o judô, o tênis de mesa, o caratê e o beisebol, que foram se ocidentalizando ao longo do tempo.
Agora, apenas o softbol permanece como exemplo do Brasil japonês no esporte.
"Nas competições internacionais, muitos estranham quando vêem a seleção brasileira com todas de olhos puxados", conta Laila Kaori Kosaka, arremessadora de 19 anos de idade, que divide o tempo entre os treinos para o Pan e suas aulas na faculdade de arquitetura.
Ao relatarem seus primeiros passos no softbol, as jogadoras contam histórias parecidas. Tomaram contato com o esporte por influência de parentes e, a partir daí, passaram a encará-lo com mais seriedade.
A enfermeira Cynthia Carolina Takahashi, 23, por exemplo, destaca que todas as jogadoras estão bastante inseridas na cultura japonesa. "Uma característica do time é que somos muito disciplinadas", cita ela.
Jorge Otsuka, presidente da CBBS (Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol), conta que o desenvolvimento do esporte acabou, acidentalmente, concentrando as praticantes na colônia japonesa.
"É difícil para "brasileiros" se adaptarem, porque o sistema de treino é sacrificante", conta o dirigente -chamado pelas jogadoras de "tio Jorge", tratamento que indica o quão restrito é o esporte, que tem cerca de mil praticantes federadas.
"Os campos são longe, e as atividades se concentram nos finais de semana. Como não sobram recursos, as mães cozinham, os pais são os juízes e técnicos... Assim, a família toda participa, mas, sem querer, fica fechado [para quem não é da colônia japonesa]", explica ele.
O mais curioso, segundo Otsuka, é que o esporte não chegou ao Brasil com os japoneses.
"Veio junto com os ingleses, que introduziram o beisebol. As primeiras partidas no país eram entre funcionários da Light e da ferrovia, todos britânicos. Os japoneses só organizaram as modalidades mais tarde, fundando a Federação Paulista em 1946."
Com bolas maiores, o softbol é a versão feminina do beisebol. Com o mesmo número de jogadoras -nove no time de defesa e até quatro simultaneamente no de ataque-, o softbol é mais curto (tem sete entradas, contra nove do beisebol).
Há diferença também no lançamento. No softbol, o arremesso para a jogadora rebater precisa ser feito de baixo para cima, restrição que inexiste na versão masculina. Os bastões de softbol são mais curtos, têm circunferência menor e peso similar aos de beisebol.
Mas são distinções que as meninas só aprendem aos 12 anos de idade. Até este limite, elas são liberadas para jogar beisebol com os garotos.
A catcher (apanhadora) Márcia Miyahira Mizushiwa, 28, já ensinou regras a muita gente.
"Sempre vivi no meio", conta sobre seu contato inicial com bases e bastões. "Depois, meu pai fundou um clube de beisebol e softbol em Santo André."
O clube acabou como uma das raras iniciativas de levar o softbol além da colônia.
"Enquanto a gente treinava, havia muitas crianças carentes do lado de fora e elas foram convidadas a jogar", narra ela.
"Depois, quando fui jogar no time adulto de outro clube, o do meu pai virou só uma iniciativa de inclusão social, já que eu não podia mais ajudar a treinar os mais novos", relata Márcia, destacando que até hoje seu pai, aos 68 anos, ensina as crianças no ABC paulista.


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