São Paulo, domingo, 27 de junho de 2004

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FUTEBOL

Eurocopa: ame-a ou deixe-a

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

As críticas mais comuns feitas à Eurocopa foram colocadas, entre aspas, na coluna passada. Para ficar bem claro, não concordo com elas. Muito ao contrário, como escrevi na última frase. Alguns leitores se revoltaram contra o que viram, o que me deixou satisfeito (não sou o único a adorar esse torneio europeu de seleções), mas alguns não perceberam que as frases foram pinçadas de pessoas que escracham a competição. Não são minhas.
Quem já lê a coluna há bastante tempo nem precisava ver o meu pedido de desculpas, em uma das notas da semana passada, para ver que tudo não passou de uma grande ironia sobre o que é dito no Brasil da Eurocopa. Expus as "armas dos inimigos". Afinal, pode haver quem goste tanto quanto eu da Euro, mas não mais.
Mesmo com jogos sensacionais, belos gols, show dentro e fora de campo, a principal competição européia é sistematicamente bombardeada. Parece haver um preconceito aqui contra o evento.
Alguns leitores pediram que eu desse os nomes dos que insistem em detonar a Eurocopa (precisaria de várias colunas para citar todos). Despretensiosamente, peguei de tudo nos jornais. O ex-árbitro José Roberto Wright escreve que "as partidas da Eurocopa são previsíveis e chatas". "Bolas longas, jogadas de primeira sem a beleza da criatividade. Este é o futebol europeu", resume Wright.
Do descontraído Washington Rodrigues no começo do torneio ("O nível técnico é baixo; ...nenhuma seleção me tiraria o sono num confronto com o Brasil") ao sério Fernando Calazans sobre o eletrizante Portugal x Inglaterra ("...ainda que tivéssemos que suportar todo aquele tempo tão pouco futebol, muito de incompetência"), é porrada de todo lado.
"Qualquer Bonsucesso x Madureira é melhor de se ver do que este jogo. Falta qualidade aos atletas, que não sabem o que fazer com a bola", chegou a falar Ruy Castro, escritor e referência, também sobre Portugal x Inglaterra.
Vejo uma Eurocopa bem diferente. Talvez eu seja mesmo maluco (tenho simpatia pela Holanda, que fez um jogo memorável contra a ótima República Tcheca), mas estamos experimentando uma das melhores competições de seleções de todos os tempos.
Como a disputa deste ano acontece em Portugal, coloca o bravo Felipão em evidência e temos TV aberta, o Brasil vê a maior cobertura de uma Eurocopa. Será que está valendo a pena? Pelo que alguns dizem, a resposta seria não.
A discussão sobre a Eurocopa chegou até ao Painel do Leitor da Folha. Sandro César Gallinari seguiu a linha de que a Eurocopa tem "jogos horríveis, com pouca técnica" e colocou todos os jogadores europeus na categoria dos "pernas-de-pau". Mateus Beleza Rocha, outro leitor, usou o nobre espaço para defender o torneio.
A Record tem ganho muitos pontos, literalmente, com a Euro. Na "venda" do produto, ouvimos o chavão de que a disputa é a "Copa sem Brasil e Argentina". Nunca haverá Mundial sem esses dois gigantes, mas estou convicto de que a Euro é melhor que uma Copa sem Brasil e Argentina. É melhor do que falam.

Ame-a
Segundo a Uefa, houve um aumento de 26% na audiência televisiva da Eurocopa em relação à edição passada. Pelos cálculos, são 845 milhões de telespectadores apenas nos principais mercados televisivos. Enquanto 79,2% dos holandeses viam sua seleção avançar às quartas-de-final contra a Letônia, 69,3% dos alemães acompanhavam seu time ser eliminado pela República Tcheca. Antes de Portugal x Inglaterra, a partida dos ingleses com os croatas, ainda pela primeira fase, já fazia história como um dos eventos mais vistos pelos britânicos.

Deixe-a
Para não dizer que só falei das flores, concordo com certas críticas à atual Euro. Aconteceram mesmo alguns erros de arbitragem, mas é até normal. E vi lugares vazios em alguns jogos. Poderia estar lá...

E-mail rbueno@folhasp.com.br


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