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Correr por agasalho leva ao Pan
Rosângela Oliveira será a única atleta de um programa de inclusão do Rio a competir nos Jogos
Nascida nos EUA, velocista, que foi ao Troféu Brasil de olho em vaga de reserva no time, o que lhe daria a roupa oficial, leva vaga no 4 x 100 m
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
Ela nasceu nos EUA e será a
única atleta de um projeto de
inclusão social da Prefeitura do
Rio a disputar o Pan do Rio.
Com 16 anos, a velocista Rosângela Oliveira garantiu na semana passada a classificação
para a equipe brasileira que vai
disputar o revezamento 4 x 100
m nos Jogos de julho. Desde
2002, ela treina na Vila Olímpica Mestre André, em Padre Miguel (zona oeste do Rio).
""Espero servir de estímulo
para todas as comunidades.
Quero ser um exemplo positivo
aqui e mostrar que todos também podem ter sucesso", declarou Rosângela, que ainda se
exercita duas vezes por semana
na pista de 180 metros de Padre
Miguel. O centro esportivo fica
localizado ao lado da Vila Vintém, uma das mais violentas favelas da região.
Filha de brasileiros, Rosângela nasceu em Washington,
mas deixou os EUA antes de
completar dois anos de idade.
Com problemas de saúde por
causa do frio rigoroso norte-americano, voltou ao país para
morar com uma tia em Padre
Miguel. ""Tenho ainda os dois
passaportes, mas nunca pensei
em competir por lá. Apesar de
todas as dificuldades, gosto daqui demais", afirma Rosângela,
que assegurou a classificação
para o Pan-Americano com o
terceiro melhor tempo do país
nesta temporada. Ela percorreu os 100 m em 11s50.
Neta de um dos fundadores
da Mocidade Independente, a
atleta mora num conjunto habitacional no bairro com a tia e
tem apenas uma fonte de renda: a ajuda financeira que a mãe
envia mensalmente dos EUA.
""As coisas são sempre muito
apertadas. Muita gente ajuda. O
táxi faz as corridas fiado. Deixo
de pagar alguma conta para
ajudar em uma viagem. O importante é ela fazer o que gosta.
Acho que todos nós estamos
dando uma outra oportunidade
para a Rosângela", argumentou
Maria das Graças de Oliveira,
57, que não esconde a surpresa
com os excelentes resultados
obtidos pela sobrinha.
Antes do Pan, a atleta vai disputar o Sul-Americano juvenil
e o Mundial da categoria, na
República Tcheca.
""Na véspera do Troféu Brasil
[prova em que conseguiu o índice], ela disse que iria para São
Paulo tentar ficar na reserva da
seleção. Até brincou e disse que
queria mesmo era o casaco da
seleção, que ela acha lindo. Por
isso, não levei muita fé. Acho
que a ficha ainda não caiu para
nós duas", acrescentou a tia.
Apesar de fazer questão de se
preparar em Padre Miguel, a
velocista já teve a rotina de treinos várias vezes interrompida
por causa da violência no bairro
e perdeu alguns companheiros
do centro esportivo para o tráfico. Os tiroteios são constantes
nas proximidades da vila.
Várias casas vizinhas do centro esportivo têm marcas de balas em suas paredes.
""Um dos meninos já competiu até no Brasileiro juvenil, tinha excelentes marcas, mas teve que parar com o esporte depois de ter sido preso por roubo
de carro. É uma situação triste,
que todos nós temos que reverter", disse Rosângela, que tem
proposta de clubes de São Paulo e do Rio Grande do Sul para
deixar o Rio de Janeiro.
As vilas olímpicas municipais
oferecem atividades de esportes e lazer para cerca de 75 mil
pessoas, em nove comunidades
com alguns dos índices de IDH
(Índice de Desenvolvimento
Humano) mais baixos da cidade. A prefeitura gasta R$ 40 milhões com o projeto. Além de
atletismo, as vilas dão aulas de
natação, basquete, vôlei, futebol, lutas, balé e dança.
""A Rosângela é apenas o primeiro fruto. Tenho certeza de
que vários outros atletas vão
aparecer, de todas as vilas. Quero tirar mais crianças dali de
dentro", disse a técnica Edileuza Medeiros, apontando para
uma entrada da Vila Vintém.
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