São Paulo, sábado, 27 de junho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Goleiro derrota doença e preconceito

Howard, titular da seleção dos EUA, é portador da síndrome de Tourette e já foi classificado de "retardado" na Europa

Jogador, titular do inglês Everton, utiliza técnicas de relaxamento e concentração para driblar os efeitos do distúrbio neurológico


Siphiwe Sibeko - 24.jun.09/Reuters
Tim Howard, ao término do inesperado triunfo dos EUA sobre a Espanha que levou seu time à final da Copa das Confederações

DOS ENVIADOS A JOHANNESBURGO

Um dos heróis da histórica classificação dos EUA para a decisão da Copa das Confederações, o goleiro Tim Howard, 30, sofre da síndrome de Tourette, um distúrbio neurológico que tem como principal consequência provocar movimentos involuntários dos músculos que, em casos extremos, podem se espalhar por todo o corpo.
Tudo o que poderia atrapalhar a vida de um goleiro, mas com o que Howard -autor de uma série de defesas decisivas na vitória norte-americana contra a Espanha, por 2 a 0, nas semifinais do torneio- consegue conviver com naturalidade.
Tanto que, entre os jogadores de seleção de seu país, foi um dos que chegaram mais longe em termos de clube -já defendeu o Manchester United e hoje é o titular do gol do Everton, outro clube de bastante prestígio e torcida na Inglaterra.
Preconceito forte ele, que nasceu em Nova Jersey, só teve quando trocou o seu país pela Europa, há seis temporadas.
Na época, os tabloides sensacionalistas ingleses chegaram a estampar manchetes na linha de "Manchester United quer contratar goleiro retardado".
Os primeiros sintomas da síndrome de Tourette apareceram em Howard quando ele tinha nove anos. Na escola, era ridicularizado pelos colegas devido aos tiques nervosos -no seu caso, os mais comuns hoje são movimentos com a língua e piscar frenético dos olhos.
Para se controlar durante os jogos, Howard usa táticas de relaxamento. Ele evita tomar remédios, porque, afirma, isso poderia atrapalhar seus reflexos durante as partidas.
Em uma entrevista à televisão norte-americana, declarou que a doença nunca o atrapalhou no futebol. Segundo Howard, ele consegue se concentrar nos jogos a ponto de a síndrome jamais ter interferido em seu desempenho quando está sob as traves.
Mesmo sabendo que a síndrome de Tourette poderia atrapalhar sua carreira, ele nunca escondeu que sofria dela. E fez mais: virou uma espécie de porta-voz da doença.
"Existe muito preconceito e falta de conhecimento sobre os portadores da síndrome", afirmou Howard, que não é o único esportista americano de renome que sofreu com ela.
Jim Eisenreich, por exemplo, jogou por 17 temporadas na liga americana de beisebol por quatro times diferentes mesmo sendo acometido pelo distúrbio, que não foi obstáculo para que Mahmoud Abdul-Rauf fosse escolhido na terceira posição do "vestibular" da liga de basquete NBA em 1990. (EAR E PC)


Texto Anterior: Brasil usa "falta tática" para aliviar Júlio César
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.