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FUTEBOL
Como fala o Galvão!
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
Galvão Bueno é um clássico. Suas narrações estão há
tanto tempo e de tal forma associadas à história do esporte brasileiro que criticá-lo tornou-se um
esporte à parte, do qual fui ardoroso adepto, mas, confesso, já havia abdicado. "Não vou mais me
irritar", decidi de uns tempos para cá. Melhor poupar meu humor, exercitar minha santa paciência zen e conformar-me com
a sonora e incontornável presença do nosso querido Magdo.
Na semana passada, no entanto, ao ler um comentário da Soninha aqui na Folha, sobre as narrações de Galvão na Copa América, identifiquei-me de tal forma
que não consegui me conter.
O que torna Galvão mais criticável é o fato de ele ser a expressão verbal do monopólio das
transmissões dos grandes eventos
esportivos exercido pela Globo, o
que dá a seu falatório um peso
desproporcional. Deveria, diante
de tanto poder de fogo, procurar
ser um pouco menos desequilibrado. Mas, não: fala pelos cotovelos e derrama sua subjetividade
ansiosa, rebarbativa e preconceituosa sobre o que estamos vendo,
sem dar a mínima para o fato de
que as imagens, com freqüência
alarmante, não confirmam o blablablá que nos impinge.
O ápice dessa escandalosa tentativa de ignorar o que as câmeras mostram e inventar uma situação que obviamente não está
acontecendo foi a tal "irregularidade do terreno" que teria enganado o goleiro Júlio Cesar no gol
da seleção uruguaia. Vinha o replay, a câmera lenta, a imagem
de longe, a de perto, e só o Galvão
via nosso ótimo goleiro -que
não parou de elogiar, inclusive
como "figuraça" humana- ir
certo na bola e ser ludibriado por
um "montinho artilheiro".
Esse foi o caso mais patético,
mas não o único. Sua incansável
inclinação a "perseguir" alguns
jogadores, passou dos limites. Na
mesma partida contra o Uruguai,
Galvão achou que tinha descoberto algo sensacional: a certa altura do início do jogo (perto dos
10min do primeiro tempo, creio),
inventou que Alex ainda não havia pegado na bola. Não era uma
imagem, era uma afirmação:
"Ainda não pegou na bola, não
pegou bola", repetia. Só que o
meia -que, aliás, foi muito
bem- não apenas havia pegado
na bola como já fizera um belo
lançamento para Luis Fabiano
entrar pela meia direita, numa
jogada de perigo.
O mais chato, no entanto, é a
incontível e anacrônica vocação
do narrador para alardear estereótipos depreciativos em relação
às seleções -e por tabela ao caráter nacional- de nossos vizinhos,
notadamente Uruguai e Argentina. É caso para protesto diplomático. Rixa tem limite.
Para Galvão, os caras são sempre uns maldosos, mal-intencionados, catimbeiros, criadores de
caso, que jogam sujo e tentam
embrulhar nossos anjinhos de
verde-e-amarelo no antijogo. Haja paciência! Já passou da hora de
acabar com essa bobajada provinciana, que só alimenta o lado
sombrio da rivalidade esportiva e
reaviva antigos preconceitos contra os quais deveríamos lutar.
Um ótimo saldo
O que seria uma competição
sem muito interesse, da qual a
seleção sairia com algumas experiências, mas sem o título,
ganhou outro sentido. Os jogadores que levantaram essa Copa América, em condições adversas, contra um adversário
tradicional, bom de bola e mais
bem preparado, tiveram o caráter temperado pelo triunfo suado, o que os coloca em outro
patamar. Para o trabalho de
Parreira e Zagallo, não poderia
ter sido mais proveitoso. Já se
falou sobre os que melhor se
saíram e os mais ou menos -e
não parece haver muita divergência quanto a isso. Particularmente, gostei de Renato, que
admiro pelo que pode representar de saneamento no terreno dos volantes. Marca na bola,
vê o jogo e sabe passar -uma
"avis rara".
E-mail mag@folhasp.com.br
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