|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TÊNIS
Muita calma nessa hora
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Na semana passada, 233 jovens tenistas participaram
da terceira etapa do Circuito
Banco do Brasil, em Vitória. Na
semana anterior, 412 infanto-juvenis haviam passado pelas quadras da Sociedade Hípica de
Campinas, na quarta etapa do
Circuito Unimed.
No início de agosto agora, o
próprio Circuito Unimed faz sua
quinta etapa, em São Paulo. No
fim do mês, a Credicard Mastercard Junior's Cup faz sua quarta
etapa, em Brasília. Depois, ainda
tem a quarta etapa do Circuito
Banco do Brasil em Goiânia. E
não é a última...
Imagine o leitor o resultado de
todo esse calendário. Jovens capacitados para a carreira profissional? Mais talentosos? Meio caminho andado para o sucesso?
Nada. Como resultado, o aumento do número de jovens desgastados e -pior- machucados.
Enquanto um torneio profissional tem cerca de dez atendimentos por dia, um evento juvenil recente chegou à assustadora média de 15 atendimentos médicos a
cada dia. Apenas 2 de cada 15
atendimentos foram por lesões
acidentais -queda no jogo, por
exemplo. A maioria, esmagadora,
eram lesões acumuladas pelo desgaste ao longo dos anos.
O gaúcho Carlos Eduardo Nedel, número oito do país e que jogou na semana passada em Vitória, já registra, aos 18 anos, três
problemas físicos: distensão na virilha, dor na região lombar e uma
torção no pé. Isabela Kulaif, que
até foi a melhor do país quando
tinha 16 anos (hoje tem 18), sofreu
com problemas no joelho.
Ambos acreditam que as dores e
o sacrifício valem na corrida por
uma carreira de tenista profissional. Ainda assim, é preciso calma
-e muito planejamento.
Ricardo Takahashi, fisioterapeuta responsável pelo acompanhamento dos melhores tenistas
do país, alerta: falta atenção aos
aspectos físicos, assim como uma
tendência de privilegiar o treino
técnico em vez de investir em
bons treinamentos e preparação
física. "Não existe um trabalho de
prevenção de lesões. O tenista fica
sem saber qual a carga suficiente
que ele deve treinar para evitar
uma lesão", diz.
"Muitas lesões são antigas, não
foram bem tratadas e estão ficando crônicas", conta Alejandro
Resnicoff, fisioterapeuta responsável por um trabalho bacana perante a Federação Catarinense de
Tênis. E, lembre o leitor, estamos
falando de jovens de até 12 anos.
Tenista consciente e capitão da
Copa Davis, Fernando Meligeni
costuma cobrar dos pais, em palestras, uma postura mais responsável na formação de um jovem.
"Não adianta querer que seu filho
ganhe todas aos 12, 14 anos. Essa
pressão estressa o filho e faz o garoto não querer mais saber de jogar tênis justamente quando poderia estourar."
Quem hoje acompanha de perto
o circuito juvenil, como Takahashi, nota claramente dois tipos de
pais: os que vêem no tênis chance
de aprendizado para seus filhos,
de formação de caráter e amadurecimento, e os que, frustrados,
depositam nos filhos suas decepções. Estes, acabam exigindo demais. Podem levar os filhos a experimentar a dor. Literalmente.
Em tempo
Em Vitória, os campeões foram Daniel Silva e Viviane Marani (categoria 18 anos), Bernardo Dias e Gabriela Rangel (16), Felipe Brandão
e Maria Claudia SantAnna (14), Vitor Galvão e Gabriela Cé (12).
Em Campos do Jordão
Maria Fernanda Alves, tenista número um do país, conquistou domingo o bi da Credicard Mastercard Tennis Cup. Nesta semana,
acontecem as disputas da chave masculina no Tênis Clube local. Flavio Saretta abandonou na estréia. André Sá joga hoje.
Eterno otimista
Após cair na estréia pela 5ª vez no ano, Gustavo Kuerten falou assim:
"Ninguém gosta de perder, mas tenho que olhar o lado positivo...".
E-mail: reandaku@uol.com.br
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Futebol - Tostão: Fascínio pelo novo Índice
|