São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 2005

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TÊNIS

Muita calma nessa hora

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Na semana passada, 233 jovens tenistas participaram da terceira etapa do Circuito Banco do Brasil, em Vitória. Na semana anterior, 412 infanto-juvenis haviam passado pelas quadras da Sociedade Hípica de Campinas, na quarta etapa do Circuito Unimed.
No início de agosto agora, o próprio Circuito Unimed faz sua quinta etapa, em São Paulo. No fim do mês, a Credicard Mastercard Junior's Cup faz sua quarta etapa, em Brasília. Depois, ainda tem a quarta etapa do Circuito Banco do Brasil em Goiânia. E não é a última...
Imagine o leitor o resultado de todo esse calendário. Jovens capacitados para a carreira profissional? Mais talentosos? Meio caminho andado para o sucesso?
Nada. Como resultado, o aumento do número de jovens desgastados e -pior- machucados.
Enquanto um torneio profissional tem cerca de dez atendimentos por dia, um evento juvenil recente chegou à assustadora média de 15 atendimentos médicos a cada dia. Apenas 2 de cada 15 atendimentos foram por lesões acidentais -queda no jogo, por exemplo. A maioria, esmagadora, eram lesões acumuladas pelo desgaste ao longo dos anos.
O gaúcho Carlos Eduardo Nedel, número oito do país e que jogou na semana passada em Vitória, já registra, aos 18 anos, três problemas físicos: distensão na virilha, dor na região lombar e uma torção no pé. Isabela Kulaif, que até foi a melhor do país quando tinha 16 anos (hoje tem 18), sofreu com problemas no joelho.
Ambos acreditam que as dores e o sacrifício valem na corrida por uma carreira de tenista profissional. Ainda assim, é preciso calma -e muito planejamento.
Ricardo Takahashi, fisioterapeuta responsável pelo acompanhamento dos melhores tenistas do país, alerta: falta atenção aos aspectos físicos, assim como uma tendência de privilegiar o treino técnico em vez de investir em bons treinamentos e preparação física. "Não existe um trabalho de prevenção de lesões. O tenista fica sem saber qual a carga suficiente que ele deve treinar para evitar uma lesão", diz.
"Muitas lesões são antigas, não foram bem tratadas e estão ficando crônicas", conta Alejandro Resnicoff, fisioterapeuta responsável por um trabalho bacana perante a Federação Catarinense de Tênis. E, lembre o leitor, estamos falando de jovens de até 12 anos.
Tenista consciente e capitão da Copa Davis, Fernando Meligeni costuma cobrar dos pais, em palestras, uma postura mais responsável na formação de um jovem. "Não adianta querer que seu filho ganhe todas aos 12, 14 anos. Essa pressão estressa o filho e faz o garoto não querer mais saber de jogar tênis justamente quando poderia estourar."
Quem hoje acompanha de perto o circuito juvenil, como Takahashi, nota claramente dois tipos de pais: os que vêem no tênis chance de aprendizado para seus filhos, de formação de caráter e amadurecimento, e os que, frustrados, depositam nos filhos suas decepções. Estes, acabam exigindo demais. Podem levar os filhos a experimentar a dor. Literalmente.

Em tempo
Em Vitória, os campeões foram Daniel Silva e Viviane Marani (categoria 18 anos), Bernardo Dias e Gabriela Rangel (16), Felipe Brandão e Maria Claudia SantAnna (14), Vitor Galvão e Gabriela Cé (12).

Em Campos do Jordão
Maria Fernanda Alves, tenista número um do país, conquistou domingo o bi da Credicard Mastercard Tennis Cup. Nesta semana, acontecem as disputas da chave masculina no Tênis Clube local. Flavio Saretta abandonou na estréia. André Sá joga hoje.

Eterno otimista
Após cair na estréia pela 5ª vez no ano, Gustavo Kuerten falou assim: "Ninguém gosta de perder, mas tenho que olhar o lado positivo...".


E-mail: reandaku@uol.com.br

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