São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS
COLUNISTA DA FOLHA

O sentido do esporte

Sem escapar à regra, o esporte é negócio, faturamento, lucro, e surge como "meio de inclusão social"

AS ORIGENS do esporte e seu sentido perderam-se no abismo do tempo. A Grécia Antiga deixou sugestões abundantes do que seriam práticas esportivas, o que levou à consagração, fácil como tantas outras que povoam a História, de que a idéia de esporte é devida aos gregos.
Mas achados de outras procedências, e mais antigos, permitem a interpretação de que também exibem alguma prática esportiva. Os egípcios, em especial, tiveram muito apreço por registros do seu dia-a-dia e da sua história, repletos do que poderiam ser práticas esportivas.
Não há dúvida de que a coisa vem de tempos muitos distantes, em cujas circunstâncias o seu sentido se dividia entre o mero prazer individual, o confronto apenas comparativo e, sobretudo na cultura grega e suas afiliadas, o exercício como atividade pedagógica para a melhor formação pessoal (aquele ideal de formação que os romanos, mais tarde, comprimiram na fórmula "mens sana in corpore sano", que na prática não fez sucesso comprovado entre eles).
Passada a antigüidade, o esporte some de cena. Por longo período. Quando reaparece, está tão identificado com o espírito beligerante, que só com muita complacência podem ser considerados esportivos os enfrentamentos de gladiadores, de cavaleiros dotados de clavas, maças e lanças, arqueiros e outros. Esporte e morte não fazem boa rima.
Reencontra-se o esporte -boxe, natação, tênis- não muito antes que o futebol ganhasse o mundo. Mas já com o sentido infiltrado da nítida busca de afirmação sobre o outro, de sobrepujar, dominar. O sentido lúdico se perde. Do propósito de sobrepujança à utilização política, os alemães deram só um passo na década de 30. E o exemplo, seguido com ardor na estupidez da Guerra Fria.
O esporte não poderia escapar à regra geral: hoje é, sobretudo, negócio, faturamento, lucro. Entre nós, porém, surge um novo sentido, o do "esporte como meio de inclusão social". Muito aplaudido. Mas duvidoso: o que o esporte pode fazer é inclusão econômica, dar dinheiro a quem não o teria ou não o conseguiria na mesma quantidade. A diferenciação social, porém, continua a mesma, sob os inconvincentes disfarces que a mídia lhe proporciona. E a inclusão econômica, se bem que sempre positiva, beneficia um número inexpressivo na amplitude dos incluídos na massa de carentes.


Texto Anterior: Cuba desce
Próximo Texto: Futebol: Seleção e torcida dão espetáculo na conquista do bi
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.