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JANIO DE FREITAS
COLUNISTA DA FOLHA
O sentido do esporte
Sem escapar à regra, o esporte é negócio, faturamento, lucro, e surge como "meio
de inclusão social"
AS ORIGENS do esporte
e seu sentido perderam-se no abismo
do tempo. A Grécia Antiga
deixou sugestões abundantes do que seriam práticas
esportivas, o que levou à
consagração, fácil como
tantas outras que povoam a
História, de que a idéia de
esporte é devida aos gregos.
Mas achados de outras
procedências, e mais antigos, permitem a interpretação de que também exibem alguma prática esportiva. Os egípcios, em especial, tiveram muito apreço
por registros do seu dia-a-dia e da sua história, repletos do que poderiam ser
práticas esportivas.
Não há dúvida de que a
coisa vem de tempos muitos distantes, em cujas circunstâncias o seu sentido
se dividia entre o mero prazer individual, o confronto
apenas comparativo e, sobretudo na cultura grega e
suas afiliadas, o exercício
como atividade pedagógica
para a melhor formação
pessoal (aquele ideal de
formação que os romanos,
mais tarde, comprimiram
na fórmula "mens sana in
corpore sano", que na prática não fez sucesso comprovado entre eles).
Passada a antigüidade, o
esporte some de cena. Por
longo período. Quando
reaparece, está tão identificado com o espírito beligerante, que só com muita
complacência podem ser
considerados esportivos os
enfrentamentos de gladiadores, de cavaleiros dotados de clavas, maças e lanças, arqueiros e outros. Esporte e morte não fazem
boa rima.
Reencontra-se o esporte
-boxe, natação, tênis-
não muito antes que o futebol ganhasse o mundo.
Mas já com o sentido infiltrado da nítida busca de
afirmação sobre o outro, de
sobrepujar, dominar. O
sentido lúdico se perde. Do
propósito de sobrepujança
à utilização política, os alemães deram só um passo
na década de 30. E o exemplo, seguido com ardor na
estupidez da Guerra Fria.
O esporte não poderia
escapar à regra geral: hoje
é, sobretudo, negócio, faturamento, lucro. Entre nós,
porém, surge um novo sentido, o do "esporte como
meio de inclusão social".
Muito aplaudido. Mas duvidoso: o que o esporte pode fazer é inclusão econômica, dar dinheiro a quem
não o teria ou não o conseguiria na mesma quantidade. A diferenciação social,
porém, continua a mesma,
sob os inconvincentes disfarces que a mídia lhe proporciona. E a inclusão econômica, se bem que sempre positiva, beneficia um
número inexpressivo na
amplitude dos incluídos na
massa de carentes.
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