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ORGANIZAÇÃO
Ingresso vira moeda para ação de políticos
Órgãos distribuem 300 mil bilhetes
para funcionários e projetos sociais
Eventos do Pan com grande
apelo de público sofrem
com confusão nas arenas,
cambistas e preço com ágio;
licitação está sob suspeita
MARIANA LAJOLO
RODRIGO MATTOS
ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
Os ingressos do Pan transformaram-se em instrumento para políticos, em vantagens para
aproveitadores, em lucro para
um empresário ligado a cartola
e em confusão para o público.
Para as competições pouco
requisitadas, autoridades distribuíram 300 mil ingressos
para seus funcionários e projetos sociais -mesmo assim houve arquibancadas vazias.
Para as competições muito
procuradas, houve confusão
para o público com entradas,
cambistas e preços com ágio.
Até ontem, foram vendidos
cerca de 1 milhão de ingressos
de um total de 1,7 milhão. Nem
a cerimônia de abertura teve
todos os bilhetes vendidos: foram 49 mil de 56,7 mil.
Já neste evento os governos
federal, estadual e federal já deram 3.000 ingressos. Mas foi
com uma carga de cem vezes
maior que usaram, mais uma
vez, o Pan para a política.
O governo do Estado decidiu
oferecer carga de 80 mil como
troca por 1 kg de alimentos. Foram alimentos arrecadados pela ONG Rio Solidário, cuja presidente de honra é Adriana Cabral, mulher do governador do
Rio, Sergio Cabral.
Procurada, a assessoria da
Secretaria de Esporte Lazer
não ligou de volta para a Folha.
"Nem sabia qual era o jogo",
disse o estudante Carlos Magalhães, 17, que ia assistir à partida Jamaica e Equador.
A Prefeitura do Rio disse que
seus 100 mil ingressos foram
para participantes das Vilas
Olímpicas, comunidades carentes, garis e familiares e
mendigos dos abrigos do município. Todos usaram ônibus da
prefeitura. "Acho que ninguém
iria se não fosse de graça", contou Taís Vieira, 13, que assistiu
a Brasil e Canadá no futebol feminino. Ela joga futebol.
A prefeitura divulgou, com
fotos, pessoas beneficiadas pelo seus ingressos. Mesma atitude do governo federal, que enviou e-mail à imprensa para
contar a ida de crianças do seu
programa Segundo Tempo a
jogos do Pan. O Ministério do
Esporte distribuiu 100 mil.
Na outra ponta, quem comprou ingressos sofreu. Nas
competições com apelo, são
grandes as filas do SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor). Bilhetes que indicam
lugares inexistentes, assentos
diferentes dos locais descritos
e numerações duplicadas são
as principais reclamações.
"Tive problema em todas as
arenas. O serviço deixou muito
a desejar", contou a dona-de-casa Sônia Schaffer.
Para entrar nas arenas, o público ainda enfrenta o atraso ou
a falta de entrega dos bilhetes
comprados pela internet.
E há cambistas, impune pela
PM. Voluntários, que não quiseram se identificar, relataram
estar com medo da pressão
desses cambistas se não colaborarem com o esquema.
E falta fiscalização. Na final
do basquete feminino, bilhetes
eram depositados em caixas de
papelão. Na licitação para ingressos, o Comitê Organizador
do Pan exigia especificações
detalhadas de segurança.
Responsável por produzir e
vender os bilhetes, a Ticketronics é empresa de Alexandre
Accioly, sócio do diretor do
COB, Marcus Vinícius Freire.
Por isso, a licitação é investigada pelo Ministério Público.
O professor americano Ted
Gorn resume sua revolta por
não ser restituído imediatamente pelo ingresso do softbal,
que foi adiado: "Nos EUA eles
devolvem seu dinheiro e pronto. Eu estava aqui para ver o jogo e, por culpa da organização,
não vi. Porque não podem me
dar o dinheiro?"
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