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VELA
Velas têm mesmo desenho das de Atlanta-96, e quilha foi projetada por computador
Barco high-tech criado pela dupla, "Vida Bandida" vira trunfo na água
DOS ENVIADOS A ATENAS
Mais moderno que os demais, o
barco de Torben Grael e Marcelo
Ferreira conserva uma tradição.
"Vida Bandida", escrita na parte
de trás da embarcação, é a epígrafe que a dupla sempre utiliza.
"Batizar o barco de "Vida Bandida" foi uma idéia que tive com
meu parceiro anterior ao Marcelo, o Nelson Falcão. Não gosto de
falar sobre isso, mas posso dizer
que me identifico muito com as
palavras", afirmou Torben, fazendo mistério.
Se o nome é antigo, a roupagem
é ultramoderna. A vitória de Torben e Ferreira nas raias de Agios
Kosmas, em Atenas, começou a
ser desenhada longe de Niterói.
No começo do ano, no estaleiro
Lillia (Itália), a dupla projetou para a embarcação uma nova quilha
(peça estrutural básica do casco),
com acabamento computadorizado, sem contato humano.
"Ela é mais precisa do que as demais", destaca o treinador da dupla, Walter Böddener.
O barco também conta com velas diferenciadas. Para chegar ao
que queriam, Grael e Ferreira testaram 12 conjuntos, até encontrarem o que os agradou e foi utilizado nos Jogos, de acordo com as
condições do vento grego.
A embarcação tem duas velas: a
maior e a de buja. Ambas foram
projetadas para a disputa olímpica tomando por base o desenho
utilizado em Atlanta-96, quando
os brasileiros conquistaram a sua
primeira medalha de ouro.
"Não dá nem para perceber as
alterações. São detalhes. Mas,
quando todos são somados, fazem a diferença", diz Torben.
A primeira vela foi confeccionada na Itália. A menor foi encomendada nos EUA. O objetivo de
tanta precisão é captar mais vento, impulsionando o barco à frente e dando vantagem nas regatas.
"Esse trabalho envolveu várias
pessoas. Treinamos muito e testamos todos os equipamentos possíveis para conseguirmos chegar a
esse patamar", destaca Ferreira,
sem esquecer de brincar com as
dificuldades enfrentadas pelos
brasileiros na Grécia.
"As pessoas pensam que a Vila
Olímpica é uma orgia. Nós saímos
às 8h para velejar e só voltávamos
às 20h. Não vemos ninguém", disse ele, que virou campeão olímpico quase por acaso.
A guinada em sua vida começou
em 1988, quando conheceu o italiano Domennico Lillia. Açougueiro e dono de um pequeno estaleiro em Como, ele o levou para
a Itália para ajudar a comercializar embarcações.
Velejador de fim de semana, o
futuro proeiro começou a testar
os produtos do patrão. "Ganhava
US$ 500. Não dava para quase nada", lembra Ferreira, sobre o início dos anos 90, quando trabalhava no estaleiro. A experiência ao
menos serviu para aprimorar
seus conhecimentos técnicos.
Torben, por sua vez, havia vivido dificuldades grandes em sua
primeira Olimpíada, em Los Angeles-84. "Corria na soling, com o
Ronaldo Senft e o Daniel Adler.
Nosso veleiro, o "Sausalito", não
passou na medição. Emprestamos o barco reserva da equipe inglesa. Conquistamos a prata e eles
ficaram em quarto", diz ele, que
pouco depois conheceria Ferreira.
Em 1989, começaram a velejar
juntos. E o pequeno estaleiro, que
havia prosperado, tornou-se um
trunfo para a futura dupla bicampeã olímpica.
(ADALBERTO LEISTER FILHO E GUILHERME ROSEGUINI)
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