|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POLÍTICA
Eleição de esportistas para comissão do COI tem 32 candidatos, muitos desconhecidos, e pouca empolgação dos interessados
Voto de atleta
DO ENVIADO A ATENAS
Era mais um escaldante início
de tarde na Vila Olímpica, e "Zorba, o Grego" começou a tocar nos
alto-falantes. Na Atenas dos Jogos, é a senha para avisar que algo
importante está para acontecer.
Um grupo de atletas, não mais
do que 50, segue para uma tenda.
Presidente do grupo de trabalho
de mulheres no esporte do COI, a
ex-remadora Anita Defrantz
anuncia empolgada no microfone
que serão revelados os eleitos para a Comissão de Atletas do Comitê Olímpico Internacional.
Aqueles 50 da tenda aplaudem
com o mesmo entusiasmo. Ali ao
lado, porém, outros atletas, milhares deles, passeiam na Vila, vão
ao cibercafé, concedem entrevistas, trocam pins, compram lembrancinhas. "Nem sabia que estava rolando essa eleição", diz Bruno Bomfim, brasileiro, nadador.
Criada em 81 para ser o "elo de
ligação entre os atletas e o COI",
como diz a entidade, a Comissão
de Atletas nunca chegou a empolgar. Reúne-se apenas uma vez por
ano e a sua principal aplicação
prática é dar consultoria para organizadores de futuros Jogos.
É formada por 19 atletas. Desses, oito são eleitos, quatro por
Olimpíada, para mandatos de oito anos. Outros quatro são representantes dos Jogos de Inverno. E
sete são indicados pelo COI, para
"garantir o equilíbrio entre as regiões, os sexos e os esportes".
O serviço não é remunerado
nem rende publicidade. Enfim,
não é nada muito glamouroso.
Mas, como em eleição para síndico de prédio, sempre surgem os
candidatos. Em Atenas, foram 32.
Entre eles, Konstantinos Kenteris, o velocista grego que foi notícia antes da cerimônia de abertura por supostamente ter fugido do
exame antidoping. E alguns quase
anônimos para a massa dos votantes, como o atirador peruano
Francisco Boza e o remador dinamarquês Victor Feddersen.
Por razões óbvias, suas candidaturas naufragaram. Os eleitos para um mandato até 2012 são, por
ordem de votos, o velocista namíbio Frank Fredericks (1.849), o
tcheco do lançamento de dardo
Jan Zelezny (1.411), o meio-fundista marroquino Hicham El
Guerrouj (1.260) e a ex-nadadora
egípcia Rania Elwani (1.186).
Segundo o COI, 5.787 atletas, ou
54,5% dos inscritos para os Jogos,
votaram em postos no refeitório,
em blocos de apartamentos da Vila e nos estádios de futebol em outras cidades-sede. Em Sydney, o
comparecimento foi de 47,2%.
"A eleição foi muito difícil, e estou muito feliz. O maior problema é que as pessoas ainda não sabem da votação, e a gente tem que
ficar explicando como funciona, o
que a gente faz, quais são nossas
idéias", declarou Rania à Folha.
Ela já atuava na comissão como
uma das indicadas pelo COI. Agora, ganha mais oito anos. "Vou
me concentrar no trabalho contra
o doping e contra o preconceito às
mulheres que praticam esportes
em países árabes", completa a
egípcia, personagem das últimas
três Olimpíadas por tirar o véu e,
de maiô, ter obtido bons resultados nas piscinas no nado livre.
Membro do COI e presidente da
comissão, o ucraniano Sergey
Bubka, ouro em Seul-88 e hexacampeão mundial do salto com
vara, dizia-se "orgulhoso e feliz"
com o processo de votação.
Mas, questionado por um repórter dinamarquês sobre a pouca divulgação da eleição, irritou-se. "Fico surpreso com as críticas.
O processo foi justo, e a organização, excelente. Não espalhamos
cartazes e urnas pelos ginásios
porque são lugares para competir,
não para votar. Não queríamos
perturbar ninguém."
Bubka então pede licença e sai
pisando duro. Deixa a tenda e
passa despercebido por uma turba de atletas que, já no fim das
competições, se ocupa em paquerar, passear por Atenas, esperar a
cerimônia de encerramento. É
um cartola. Uma espécie de rei
sem reino. Ou de síndico de um
prédio vazio.
(FÁBIO SEIXAS)
Texto Anterior: Doping: Casos beiram recorde, mas comitê enxuga a conta dos flagrados Próximo Texto: Notas Índice
|