São Paulo, sábado, 27 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PAN-AMERICANO

Segundo entidade que comanda atletismo, mudança que encareceu arena em R$ 21 mi era desnecessária

Iaaf nega ter pedido raia extra em estádio

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

A Iaaf (entidade que comanda o atletismo) negou ontem haver exigido que o estádio João Havelange, que irá abrigar as provas da modalidade no Pan-Americano do Rio-2007, tenha nove raias.
A inclusão de mais uma raia na pista obrigou os engenheiros a fazerem alterações significativas no projeto. O anel, a altura e a angulação das arquibancadas tiveram que ser alterados já durante as obras. As mudanças encareceram o estádio em R$ 21.565.466,68.
A arena, que estava orçada inicialmente em R$ 160 milhões, não deve custar menos do que R$ 224 milhões aos cofres do município.
Alguns gastos, porém, poderiam ter sido evitados. De acordo com Nick Davies, porta-voz da Iaaf, o regulamento exige um mínimo de oito raias em competições internacionais, caso do Pan.
Nos Jogos de Atenas-04, a pista contava com nove raias. Já Pequim-08 planeja ter dez raias.
"As regras dizem que a pista deve ter no mínimo oito raias. Se tiver mais, ótimo. Mas é preciso somente oito", disse à Folha Davies.
O porta-voz da Iaaf também negou que a federação tenha enviado uma comissão para inspecionar as obras do estádio João Havelange, localizado no Engenho de Dentro (zona norte do Rio).
"Talvez uma pessoa da Iaaf tenha feito uma visita não-oficial, mas não uma comissão da entidade", declarou Davies, que diz não ser esse o procedimento seguido habitualmente pela entidade.
"Normalmente, os projetos são apresentados à federação, que os aprova ou não. Esse foi o caso das cidades candidatas aos Jogos de 2012", explica o porta-voz.
Procurada ontem, a RioUrbe, empresa da prefeitura que realiza licitações e fiscaliza o andamento das obras, afirmou que "a decisão de aumentar para nove raias o trecho dos 100 m rasos atende à sugestão feita pelo diretor técnico da Iaaf, Benoit Laruel, em reunião realizada no dia 30 de setembro de 2003, no auditório do COB".
A empresa ressalta que a participação do dirigente "teve como objetivos conhecer e discutir o projeto do estádio e, principalmente, dar consultoria quanto à construção da pista de atletismo".
O encarecimento do estádio gerou polêmica na Câmara Municipal. O vereador Stepan Nercessian (PPS) se disse "surpreso".
""As coisas não estão indo para um bom caminho. Temo que a comissão permanente se transforme em comissão parlamentar de inquérito", comentou o vereador, que é relator da comissão especial do Pan na Câmara do Rio.
Um dos coordenadores do Comitê Social do Pan, o economista Luiz Mario Behnken, disse que ""o caso da pista do estádio olímpico é uma demonstração clara da falta de planejamento e preparo da Prefeitura do Rio para o Pan".
Ele afirmou que a entidade estuda entrar com representação no Ministério Público Estadual por causa do aumento dos custos.
O Comitê Social do Pan, que reúne diversas ONGs, foi criado para fiscalizar o orçamento e as intervenções urbanísticas na cidade provocadas pelo evento.
Procurado pela Folha, o Comitê Olímpico Brasileiro não se pronunciou sobre o tema. Já o Co-Rio (comitê organizador) não respondeu recados da reportagem.


Texto Anterior: Juventude tenta embalo
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.