São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2006

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JUCA KFOURI

Na cesta do lixo

O basquete brasileiro conseguiu a proeza de se comportar pior no Japão do que o futebol na Alemanha

NÃO SOU saudosista. Vi Pelé e Mané e acho que jamais verei algo igual. Mas me diverti bastante com Zico Falcão e Sócrates, assim como com Romário, Rivaldo e os Ronaldos, que me divertem até hoje e, tomara, ainda me divertirão mais.
Não acho, portanto, que o futebol de hoje seja incomparavelmente pior do que o de ontem, embora, reconheça, que a minha geração deu uma sorte danada por ter podido ver o que viu, e vê, ontem, e hoje.
Se penso assim em relação ao nosso futebol, ou ao jogador brasileiro de futebol, infelizmente não dá para dizer o mesmo do basquete.
Tive a sorte de ver Amaury Passos, Wlamir Marques, Rosa Branca, Ubiratã, Edson, tantos bicampeões mundiais. Não só vi das arquibancadas e pela TV, como, modestamente, pude vê-los de maneira bem mais privilegiada, de dentro da quadra.
Sim, não terei o atrevimento de dizer que joguei contra eles. Mas, em meus distantes 18 anos de idade, estive dentro da quadra do Paulistano num jogo contra o Corinthians, pelo Campeonato Paulista de 1968. Pude, portanto, vê-los bem de perto, numa partida que foi um massacre, coisa de 135 a 60 se a memória não me falha. Naquela noite, resolvi que o basquete não era minha praia, tamanha a diferença. Basquete, para mim, passou a ser aquilo que eles faziam, com competência, seriedade e graça.
Vi, em 1964, por exemplo, no ginásio do Parque São Jorge, o Corinthians desses gênios vencer o campeão europeu Real Madrid por 118 a 109, no primeiro jogo disputado no Brasil em que os dois times passaram da contagem centenária. Foi também a primeira vez que vi uma ponte aérea, com Wlamir arremessando bolas nas laterais para Bira enterrá-las.
Como tudo acaba, aquela geração fabulosa acabou, e nem seria o caso de exigir que surgisse uma outra igual. Seria demais mesmo.
Mas a turma de Oscar, Marcel e Marquinhos correu atrás e não deixou a bola grande cair ao manter o bom nome de nosso basquete, por exemplo, com a inesquecível conquista nos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis, menos pelo título em si, mais pela vitória diante da seleção norte-americana repleta de futuros astros da NBA. E os norte-americanos, é sabido, detestam três coisas na vida: hambúrguer frio, cerveja quente e perder no basquete. Mas como as coisas mudaram para pior! E bote pior nisso. Um lixo.
O vexame nacional no Mundial do Japão conseguiu ser pior do que o do futebol na Alemanha. Também, pudera! A CBB é uma farsa, comandada por um cartola que se elegeu contra o continuísmo, mas que se eterniza no poder e não sai de lá nem com reza brava, como, aliás, é comum no mundo esportivo.
Ora, se não podemos com um Grego, que dirá com a seleção da Grécia, gozaram os torcedores. Só que não tem graça nenhuma, porque um comando dividido divide tudo, inclusive o time. E o COB, cúmplice, se cala, porque uma mão lava a outra.
O nosso basquete parou no tempo. Não marca, sofre de ejaculação precoce, não pensa, não nada. Lance livre, então, é um terror, deveria ser abolido da regra, porque nossos jogadores erram os que têm de acertar e acertam os que têm de errar, como aconteceu.
Temos um time tão ansioso que, contra a Austrália, na estréia, o quinteto conseguiu a proeza de fazer 25 ataques sem nem sequer arremessar a bola à cesta, coisa típica de equipes pré-mirins.
Quer saber?
Nesta seleção até eu jogaria.

@ - blogdojuca@uol.com.br


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