São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2004

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Supertécnicos do Nacional duelam pela sobrevivência

Após atingirem em seus times índices inigualados de eficiência no torneio, Leão e Chamusca disputam um dos últimos "mata-matas" deste Brasileiro

EDUARDO ARRUDA
MÁRVIO DOS ANJOS
PAULO COBOS

DA REPORTAGEM LOCAL

Se perguntarem a você, leitor, quem é o técnico mais eficiente do Brasileiro-2004 em um só clube, provavelmente a resposta remeterá a Vanderlei Luxemburgo ou Levir Culpi, os homens que comandam o Santos e o Atlético-PR, líderes do Nacional.
Os números do Datafolha, porém, levam imediatamente ao andar de baixo desses dois. Emerson Leão, 55, do São Paulo, e Péricles Chamusca, 38, do São Caetano, que se enfrentam hoje, às 20h30, no Morumbi, são os supertécnicos do Brasileiro até o momento. E duelam numa partida que pode tirar o derrotado da luta pelo título -ambos começaram a rodada com quatro pontos de desvantagem para o líder Atlético-PR.
É bom que se diga que Culpi (34) e Luxemburgo (32) fizeram mais jogos em seus clubes atuais do que Leão (9) e Chamusca (19).
Mas ninguém neste Nacional é mais eficiente do que o são-paulino, que carrega fama de chato, e do que o técnico do "Azulão", que apregoou o futebol chato. Ambos optam pelo 3-5-2 em seus times.
Sob a batuta do primeiro, o São Paulo decolou. Conseguiu reduzir em 11 pontos a diferença para os líderes. Com Leão, o time venceu seis partidas, empatou duas e perdeu só uma no torneio -com um aproveitamento de 74,1%.
Os gritos do treinador arrumaram o sistema defensivo (o time tem a segunda melhor defesa do campeonato) e o ataque, que marcou 19 vezes.
"Nós estamos com uma repetição muito grande de treinamentos nos fundamentos. Se não está certo, eu grito, mas não só para um ouvir, mas para todos. A eficiência é importante, principalmente quando se enfrenta um adversário direto", explica o técnico.
Leão venceu as últimas cinco partidas e está a apenas duas de igualar a série do Santos, a maior do Nacional, do desafeto Luxemburgo, a quem chamou de celebridade. Mas e você, Leão, é uma celebridade? "Eu gostaria de ser, o mais rápido possível. Mas só se consegue isso com conquistas e ainda não conquistamos nada", diz ele, de forma modesta.
Leão define o rival de hoje em uma palavra: "chato". "É assim porque exige muito do adversário e joga no erro dele. É um time formado há mais de três anos. Troca-se o técnico, mas a base fica e esse é o segredo do sucesso deles."
Com essa base, Chamusca tem conseguido manter a eficiência do time e já é o técnico do São Caetano com melhor aproveitamento de pontos em Brasileiros.
Campeão da Copa do Brasil com o Santo André nesta temporada, ele pode alcançar feito de Luxemburgo se conquistar o Nacional: vencer as duas competições interclubes mais importantes do país num mesmo ano.
Sob as ordens de Chamusca, que é entusiasta da psicologia no futebol, o atual campeão paulista lidera o segundo turno do Nacional, com 32 pontos.
Mais: o São Caetano é o time menos vazado do torneio -levou só 30 gols. Assim, os jogos do time tem quase 20% a menos de gols que a média do campeonato.
O "jeitão Chamusca" já o pôs em saia justa ao dizer que quem quisesse ver espetáculo que fosse ao show da cantora Ivete Sangalo, à época de jogo com o Coritiba.
"Por ser uma partida difícil, tínhamos que abrir mão do espetáculo para vencer. Quis falar algo que saísse da mesmice do futebolês e agora tenho que explicar um pouquinho disso a cada dia", ri.
"Quem me conhece sabe que não poderia ter dito aquilo daquela maneira. As minhas equipes têm histórico de jogar para a frente." Isso é verdade, mas não se aplica ao São Caetano.
O Santo André de Chamusca ganhou a Copa do Brasil fazendo e levando muitos gols. Foram 26 a favor (2,36 de média) e 18 contra (1,64) em 11 jogos.
Hoje em dia, as vitórias são freqüentes, porém magras. No Brasileiro, o São Caetano com Chamusca tem média de 1,58 gol pró e sofre só 0,79. Ao mesmo tempo, soma 14 vitórias em 19 jogos.
Os eficientes números do treinador, entusiasta do 3-5-2 desde a época do Santo André, certamente não agradariam muito a um de seus "professores": o ex-jogador e técnico holandês Johan Cruyff.
Em 1995, Chamusca foi ao Barcelona para um estágio com o então técnico do time espanhol, defensor do futebol ofensivo e bastante chegado num 4-3-3.


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