São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2008

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JUCA KFOURI

Carta ao governador palmeirense


Coisas estranhas acontecem na Polícia Civil de São Paulo quando há inquéritos que envolvem o Palmeiras

CARO GOVERNADOR , bem sei o quanto o futebol apaixona. Tanto que, aqui, não lhe foi feita nenhuma crítica por sua ajuda na parceria entre Palmeiras e Fiat.
Dá para vê-la como algo compreensível, em meio a uma negociação maior, como uma sugestão feita com graça e, enfim, boa para ambas as partes.
Mas não é o mesmo caso, claro, do inquérito sobre o gás no vestiário de Palestra Itália, episódio que já tem mais de sete meses e permanece sem culpados.
Seria apenas mais um, não fosse da competência do delegado Mauro Marcelo, ex-número 1 da Abin, de brilhante atuação na CPI dos Bingos, e palmeirense militante em ONG que fez justa oposição a Mustafá Contursi.
Ele, agora, avocou para si também a investigação do que houve no aeroporto de Congonhas entre Vanderlei Luxemburgo e torcedores uniformizados -da mesma torcida, por sinal, cujos representantes o senhor recebeu em palácio numa imprudente noite de novembro.
Avocou porque no dia anterior teria recebido uma queixa em nome do treinador que estaria sendo ameaçado por telefone.
Pois bem, governador.
Eis que as filmagens que vi no Ministério Público são inconclusivas, pois nem sequer mostram as cenas da confusão, só o antes e o depois, porque, embora tudo seja filmado, nem tudo é gravado, além de não ter câmara no local da queda de Luxemburgo, segundo explica a assessoria de imprensa da Infraero. Luxemburgo, sabe-se, caiu e fraturou o cotovelo, mas não aparece em nenhuma imagem.
Curiosamente, no entanto, ele tem dito que é um absurdo que jornalistas queiram ver a fita, incapaz de imaginar que queiramos ter a convicção de que foi covardemente agredido por esses meliantes que, com outras camisas, já financiou e não vê nada demais nisso, nem depois que seu desafeto Emerson Leão, comprovadamente, foi agredido por essa gente em Santos. Gozado, governador, que os uniformizados dizem para quem quiser ouvir que, "desta vez", eles estão inocentes e clamam pelas imagens completas do tumulto.
Até porque forte aparato policial protegia Luxemburgo, o que torna verossímil que ninguém o agredisse, ao contrário, talvez desse a ele a coragem necessária para agredir.
Há testemunhas, que não são de um lado nem do outro, que contam que a primeira abordagem foi feita por algumas torcedoras uniformizadas, que, ao dizerem que queriam conversar com o treinador, dele ouviram, literalmente: "Não falo com mulheres sobre futebol. Com mulheres só falo de b...".
Aí, então, foi xingado por um grandalhão e tentou atingi-lo com um pontapé, momento em que perdeu o equilíbrio e, ao apoiar as mãos de mau jeito no chão, fraturou o cotovelo direito.
Tudo indica que as coisas tenham ocorrido exatamente assim, embora tudo indique, também, que os culpados já estejam escolhidos, aqueles de sempre, até porque se não foram os responsáveis desta vez já foram em outras.
Mas, da sua polícia, governador, temos de esperar isenção. E eficácia.
Com todo respeito.

blogdojuca@uol.com.br



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