São Paulo, domingo, 27 de dezembro de 2009

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JUCA KFOURI

Craque se faz em casa


O que já foi o lema do Fla se mudou para a Catalunha, onde o Barcelona mesmo produz seus campeões

DOIS COLUNISTAS apaixonados por futebol, mas que não vivem no meio, chamaram a atenção para o fato de que o Barcelona foi campeão mundial com oito jogadores produzidos em casa, sem falar de um nono, Iniesta que, machucado, não jogou -e fez uma falta danada, por sinal.
Do técnico Pepe Guardiola, ex-volante criado no Barça e ex-técnico do Barcelona B, passando por Messi, Xavi, Iniesta (três entre os cinco indicados como melhores do mundo pela Fifa), a Valdés, Puyol, Piqué, Busquets, Jefrén e Pedro, todos foram formados em La Masía, a casa que o clube mantém para suas categorias de base e cujo nome faz referência a um estilo arquitetônico catalão.
Clóvis Rossi em sua coluna eletrônica na Folha Online e José Luiz Portella na dele, no diário "Lance!", chamaram a atenção para o jeito Barcelona de ser, num momento em que craques custam fortunas e a reunião deles nem sempre dá bons frutos, como, aliás, o vizinho e rival dos catalães, os madridistas do Real, sabe muito bem.
Ora, esta é uma receita óbvia e que não tem apenas significados financeiros. Porque além de reverter em títulos, que é o que, essencialmente, todo clube esportivo precisa almejar, reverte também numa filosofia, numa maneira de viver a vida ou, no caso, de jogar bola.
E o Barcelona tem a sua, muito particular e brilhante, com a bola no chão, de pé em pé, eficaz e repleta de fantasia, como Tostão tem mostrado, características invejadas mas não imitadas, talvez porque sejam necessários vínculos com uma ideia que só está presente em La Masía, ali pertinho de Camp Nou, desde 1966.
Ora, esta é uma receita óbvia, está dito um parágrafo acima.
Óbvia e conhecida aqui mesmo, no Brasil, mais exatamente no Rio de Janeiro, especificamente na Gávea, casa do Flamengo, que jamais foi nem sequer parecida com o requinte carregado de história de La Masía, mas que fabricou também oito campeões mundiais rubro-negros, em 1981, a saber: Leandro, Mozer, Marinho, Júnior, Andrade, Adílio, Tita e Zico.
E olhe que no time campeão tinha também Nunes, que passou cinco anos nas categorias de base do clube e foi dispensado aos 19, para voltar seis anos depois e brilhar.
Alguém dirá, não sem alguma razão, que eram outros tempos, tanto que na seleção brasileira que maravilhou o mundo no ano seguinte, na Espanha, apenas Falcão, o rei de Roma, não jogava no Brasil.
De lá para cá a exportação desenfreada de pé de obra virou a tônica, razão pela qual mesmo quem produz grandes jogadores em casa acaba transformando-os em euros ou em dólares ainda antes que eles possam, por exemplo, disputar uma Copa do Mundo.
Mas aí é o nosso velho problema de gestão, que está para encontrar ainda alguém capaz de resolver, alguém que em vez de ter ideias mirabolantes se atenha a fazer, exatamente, o óbvio, o óbvio ululante.
Prestes a completar 39 anos em janeiro, Pepe Guardiola, formado, reformado, graduado e pós-graduado em La Masía, não é apenas o mais jovem técnico vitorioso do mundo.
Ele e seus três baixinhos são uma aula para o planeta.

blogdojuca@uol.com.br


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