São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2004

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Protesto contra ingresso a R$ 20 une até arqui-rivais

Após boicote de torcidas no Paulista, atletas palmeirenses e corintianos articulam ação conjunta

DA REPORTAGEM LOCAL

Os jogadores dos arqui-rivais Corinthians e Palmeiras abraçaram a causa de seus torcedores e articulam um movimento contra os ingressos de arquibancada a R$ 20, como estipula o regulamento do Paulista-04. O valor representa um aumento de 100% em relação ao Estadual do ano passado.
"É uma questão que diz respeito a todos. Precisamos usar o sindicado para reunir os atletas", afirmou Fábio Costa, goleiro do Corinthians. "Também estou do lado da torcida", disse Marcos. "Vamos ver se conversamos com outros atletas e com a diretoria sobre isso", afirmou o palmeirense.
O volante Magrão também está disposto a tentar convencer jogadores de outros times a participar do movimento, que não tem uma forma de protesto definida.
Se depender do capitão do São Paulo, o goleiro Rogério, não haverá a união dos três grandes da capital. "Não é a minha área, o meu departamento, prefiro que as pessoas envolvidas diretamente nisso resolvam a questão", disse.
Na primeira partida de seus times em casa na competição, torcedores de Palmeiras e Corinthians fizeram protestos.
A maior parte das organizadas não entrou nos estádios. No Pacaembu, os corintianos chamaram os dirigentes de mercenários e exibiram faixas com mensagens como "a burguesia fede". Os são-paulinos não organizaram nenhum manifesto no Morumbi.
A primeira atitude dos atletas corintianos, segundo Rogério, capitão do time, será pedir à diretoria que tente a redução com a FPF.
"Primeiro, vamos ter uma conversa só entre nós. Depois, falaremos com os dirigentes, são eles que estão mais próximos da federação", afirmou Rogério.
O plano coloca a equipe em rota de colisão com a diretoria. Para o vice de futebol do Corinthians, Antonio Roque Citadini, o aumento não foi abusivo. "O preço não é alto se levarmos em conta os custos do futebol. O problema é que a renda do brasileiro é baixa", disse o dirigente ontem.
Preocupado em evitar confronto com os cartolas, Fábio Costa tem sugestões para negociar com a federação. Uma delas é dar um bilhete de graça a cada três jogos que o torcedor acompanhar.
"Com R$ 20 dá para comprar carne para uma família de três pessoas comer a semana inteira. Quem fez isso não enfrenta dificuldade, vai ao estádio com batedor na frente do carro e fica na tribuna", completou o goleiro.
Alguns jogadores do Palmeiras, entre eles o volante Magrão, procuraram a Mancha Alviverde, principal organizada do clube, e ofereceram bancar ingressos do próprio bolso para que a torcida comparecesse. "Não aceitamos as entradas, porque queremos que todos possam estar no estádio", afirmou Jânio Carvalho Santos, presidente da organizada.
Ao tomar conhecimento do fato de que jogadores estão se organizando para levar o problema à FPF, o presidente da entidade, Marco Polo Del Nero explicou, por meio de sua assessoria de imprensa, que somente conversaria com os presidentes dos clubes.
Em um contato anterior, porém, o dirigente afirmou que estaria aberto a conversas com representantes das organizadas.
"Em um Estado de Direito as pessoas podem concordar ou discordar do que quiserem. Mas por enquanto o preço continua como está", disse Del Nero.
Ao mesmo tempo em que estipulou o ingresso de R$ 20, a federação criou um bilhete de valor igual para famílias (um casal e três crianças até 12 anos). Segundo Del Nero, a medida visa diminuir a violência nos estádios. "Preço alto não afasta bandido. Achar que afasta é um pensamento medíocre", declarou Fábio Costa.
As organizadas de Palmeiras e Santos, que farão o primeiro clássico do Paulista no domingo, no Morumbi, anunciaram um protesto do lado de fora. "Teremos carro de som e panfletos", disse o presidente da Mancha Alviverde.
Ao justificarem o interesse em tentar a redução de preço, os jogadores dizem que não gostam de atuar com o estádio vazio.
Porém a situação pode refletir nos bolsos dos atletas, já que, se os boicotes continuarem, as receitas dos clubes, em crise financeira, diminuirão ainda mais.


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