São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2004

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Luxemburgo diz que vai sair, recua e acaba na rua

Por "incompatibilidade", Cruzeiro dispensa técnico, que montou time de maior sucesso no Brasil em 2003

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Após um ano e sete meses no Cruzeiro, o técnico Wanderley Luxemburgo, 51, foi demitido ontem à tarde pela diretoria da equipe mineira e lamentou a sua saída.
Pela manhã, ele próprio colocou o cargo à disposição. Luxemburgo recuou dessa posição logo depois, mas os irmãos Perrella não aceitaram e o demitiram.
A crise no Cruzeiro vem se arrastando há uma semana. Luxemburgo, único técnico quatro vezes campeão brasileiro, dizia que havia problemas de sintonia no clube e que isso iria prejudicar o Cruzeiro na Libertadores.
Na quarta-feira, após um empate pelo Mineiro, Luxemburgo prosseguiu com as declarações indiretas: "Existe alguma coisa desconfortável neste momento".
E ganhou o apoio do meia Alex, que pôs mais lenha na fogueira cruzeirense. Disse o meia que "assuntos pendentes", sem esclarecer quais, estavam atrapalhando o rendimento do time. Tal declaração foi interpretada como sendo a falta do pagamento da premiação pelo título do Brasileiro.
Irritado com as declarações de Luxemburgo e Alex, o vice-presidente de futebol, Zezé Perrella, também respondeu pela imprensa, anteontem. Disse que a premiação está sendo paga em seis parcelas, conforme combinado com os atletas, e que ele não aceitava esse argumento.
Zezé foi além. Disse que técnico e atletas são pagos para resolver os problemas, que ele alegou desconhecer, e desafiou: "Para os que não estiverem satisfeitos, a porta da rua é a serventia da casa".
Ontem, a "lavanderia do Cruzeiro", expressão de Zezé, continuou funcionando a todo o vapor. Consumada a demissão, Luxemburgo, em entrevista, disse: "Eu queria continuar no Cruzeiro. Mas o Zezé e o Alvimar [Perrella, presidente] entenderam que não. Fica o sentimento de deixar no meio do caminho um trabalho vitorioso." O treinador foi o responsável pelo único título do Cruzeiro em Brasileiros, no ano passado, quando venceu também a Copa do Brasil e o Mineiro.
Luxemburgo, na entrevista, não foi claro sobre o seu pedido de demissão pela manhã. Disse apenas que procurou a diretoria [Eduardo Maluf, diretor de futebol] em razão do contrato, mas que depois conversou com sua família e com a comissão técnica e que resolveu que tinha "condições de reverter a situação" do time.
Na reunião da tarde com os irmãos Perrella houve discussões, "normais", segundo Luxemburgo. "Chegamos a uma incompatibilidade. Discussões existem em qualquer clube, em qualquer empresa, mas não quiseram continuar comigo, mesmo eu falando que queria continuar", declarou, acrescentando que "respeita a posição" dos dirigentes.
Foi Zezé Perrella quem esclareceu que, pela manhã, Luxemburgo procurou o diretor de futebol para dizer que "estava sem alegria" para continuar comandando o Cruzeiro. Por esse motivo, colocou o cargo à disposição. "Nós nos reunimos e resolvemos aceitar. Se não tem alegria, não tem como continuar."
O Cruzeiro entende que a rescisão contratual foi amigável, não cabendo indenização. O contrato terminaria em 2005. Luxemburgo não falou sobre isso. Apenas enfatizou sempre que não quiseram que ele continuasse. O auxiliar técnico de Luxemburgo, Paulo César Gusmão, foi convidado para substituir o ex-chefe.


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