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FUTEBOL
Meu dia de Ronaldo
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O título acima me foi sugerido pelo colega e amigo Fábio Victor, quando eu disse a ele
que sofreria uma cirurgia no joelho. Minha contusão, numa partida de futebol soçaite, soava como a de um boleiro profissional:
lesão no menisco medial e ruptura do ligamento cruzado anterior.
Pois bem: quando você estiver
lendo esta coluna, já deverei ter
saído da sala de cirurgia. Se tudo
correr bem, poderei voltar a jogar
bola em oito meses, depois de um
longo e paciente trabalho de fisioterapia. Valerá a pena?
Sem resposta para essa pergunta, ponho-me a especular sobre a
importância capital do joelho para o jogador de futebol. Esta coluna, aliás, poderia se chamar "Ode
ao joelho". Basta pensar na longa
lista de futebolistas que tiveram
suas carreiras truncadas por lesões no dito cujo. A começar por
Garrincha, cuja má formação
congênita provocou um desgaste
precoce da articulação do joelho,
o que o levou a jogar com dores
ou sob o efeito de injeções durante
boa parte de sua carreira.
Alguns casos foram particularmente dramáticos, como o de Reinaldo, do Atlético-MG e da seleção. Caçado impiedosamente em
campo, com pouco mais de 20
anos ele já havia extraído os quatro meniscos, o que não o impediu
de ser um dos artilheiros mais fabulosos que já existiram. Imagine
o que não teria feito se tivesse os
joelhos inteiros.
Outros craques foram traídos
pelos joelhos em momentos cruciais de sua vida profissional. Um
exemplo é o volante Clodoaldo,
cortado da seleção brasileira às
vésperas da Copa de 74. Zico, por
sua vez, jogou no sacrifício a Copa de 86, entrando apenas no segundo tempo das partidas.
Ainda no que se refere às Copas
do Mundo, o caso mais espetacular certamente é o do líbero italiano Franco Baresi, que lesionou o
menisco no início do Mundial de
94, foi operado durante o torneio
e se recuperou a tempo de disputar a final contra o Brasil -e perder um pênalti decisivo, a exemplo do que havia ocorrido com Zico oito anos antes. É isso que eu
chamo de morrer na praia.
Um capítulo à parte poderia ser
reservado aos joelhos de Ronaldo,
em particular ao direito, cuja evolução clínica foi acompanhada
praticamente dia a dia por bilhões de pessoas em todo o mundo. Outros craques sabotados pelos joelhos em circunstâncias variadas de suas carreiras: Falcão,
Amoroso, Baggio, Gullit, Denílson, Luizão, Careca... A lista não
tem fim.
O caso de Careca, aliás, é singular. O atacante teve uma ruptura
de cruzado anterior (igual à minha, se me permitem a presunção) quando ainda jogava no
Guarani e nunca fez sua reconstituição (só operou o menisco). Ou
seja: brilhou no São Paulo, no Napoli e na seleção brasileira com o
ligamento rompido, algo que só
foi possível graças a suas condições físicas excepcionais.
Quanto a mim, sorrio com tristeza ao ver que entrei finalmente
no clube desses caras que tanto
admiro. Pena que foi pela porta
dos fundos, ou melhor, da sala de
cirurgia.
Bendita ciência
Ainda sobre joelhos (desculpem, não consigo pensar em
outra coisa): dois avanços tecnológicos das últimas décadas
poderiam ter alongado a carreira e diminuído o sofrimento de
craques do passado: a artroscopia e a ressonância magnética.
Antes delas, os médicos, sem
saber bem o que tinha o paciente, não hesitavam em arrancar-lhes os meniscos.
Toc, toc, toc
No Carnaval paulistano, enquanto a corintiana Gaviões da
Fiel, campeã do ano passado,
foi rebaixada, a palmeirense
Mancha Verde venceu a "Segundona" e subiu para o grupo
especial das escolas de samba.
O paralelismo com o futebol é
apenas simbólico, claro. Mas
não custa nada aos corintianos
bater três vezes na madeira.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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