São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2005

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FUTEBOL

Um a zero foi pouco

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Deu a lógica no "Majestoso". O São Paulo jogou mais, criou mais, atacou mais e acabou vencendo. Um a zero foi até pouco em vista da superioridade tricolor.
O clássico foi marcado mais pelo calor da disputa do que pela qualidade do futebol jogado. Praticamente metade dos atletas em campo tomaram cartão amarelo. Houve choques, cabeças rachadas, empurrões e brigas. E poucos lances trabalhados, raras jogadas de habilidade, escassos momentos de beleza.
Mas o fato é que o São Paulo tem sido de uma eficiência impecável, que tem como peças mais móveis e criativas seus dois alas, Cicinho e Júnior, liberados para o ataque graças ao bom esquema defensivo, com três zagueiros e dois volantes. Não é por acaso que o São Paulo até agora só deixou de vencer uma partida.
O surpreendente, ontem, foi ver a defesa menos vazada do campeonato, a do Corinthians, ser envolvida com tanta facilidade pelos atacantes tricolores, em especial Grafite. Em alguns momentos, os zagueiros alvinegros pareciam cones de sinalização, caindo de maduros e dando passagem livre ao adversário.
O que acontece? Os zagueiros Anderson e Sebá, individualmente, são bons. Será falta de entrosamento? É provável.
Do meio de campo para a frente, a situação corintiana é ainda pior, no que diz respeito ao entrosamento. São raríssimas as trocas de passe, as tabelas, as triangulações. As poucas jogadas que acontecem são fruto do acaso ou de lampejos individuais. Tite ainda vai ter muito trabalho para transformar esse ajuntamento de jogadores num time.
Claro que se trata, como eu mesmo já disse, de uma equipe em formação. Mas os adversários não querem saber disso. E a paciência da torcida também tem limites.
Apesar de fora de ritmo, Roger, que entrou no segundo tempo, mostrou que pode melhorar muito a distribuição de jogo e a armação de ações ofensivas.
Mas isso leva tempo, e o tempo é implacável. O Campeonato Paulista já era para o alvinegro. A Copa do Brasil é um mata-mata medonho, no qual não dá para o time "ir se acertando aos poucos".
O Corinthians de Kia faz lembrar a piada do caipira que chega a São Paulo, toma um táxi na rodoviária e vai olhando, espantado, aquele monte de tapumes, andaimes, obras viárias, prédios em construção. O taxista percebe seu deslumbramento e pergunta: "Está gostando de São Paulo?" E o caipira: "Ô, se tô. Quando ficar pronta vai ficar uma beleza". O Timão também.
Quanto ao tricolor, o único risco que corre agora é o do relaxamento, também conhecido como "salto alto".
Há três motivos para que isso não aconteça: o técnico linha-dura Leão; a pressão da torcida; a ausência de estrelas no elenco.
Se mantiver a vibração e a pegada, o São Paulo é o grande favorito ao título, mesmo sem jogar um futebol muito vistoso ou criativo.

Fenômeno em xeque
O habitualmente discreto Carlos Alberto Parreira deu munição aos críticos de Ronaldo ao dizer que o craque "perdeu o foco" no futebol. O Fenômeno que abra o olho. Se, no Real Madrid, Luxemburgo pega no seu pé e Michael Owen está de olho na sua vaga, Parreira já dá sinais de que também na seleção o posto de Ronaldo não é intocável.

O cartola e o Coelho
Um mistério tão grande quanto o da vida pregressa de Kia, rastreada ontem neste caderno em excelente reportagem de Fábio Seixas: por que o Corinthians gasta milhões de dólares na contratação de estrelas internacionais e, na hora do pênalti decisivo, escala para a cobrança o garoto Coelho, que já tinha batido mal duas faltas seguidas?


E-mail: melk@uol.com.br

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