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Agência Mundial agora quer "estatizar" doping
Novo presidente pede empenho de governos na luta contra drogas no esporte
John Fahey, que assumiu em janeiro, diz que desafio de sua gestão será mostrar a países que doping tornou-se problema de saúde pública
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Figura central na luta antidoping nos últimos nove anos, a
Wada (Agência Mundial Antidoping) agora pede socorro aos
governos. John Fahey, novo
presidente da entidade, diz que,
sem o auxílio do poder público,
não será possível realizar uma
luta eficaz contra as drogas.
O dirigente participou de
simpósio ontem, no Museu
Olímpico, em Lausanne. Foi
seu primeiro encontro público
com a imprensa após assumir a
direção da Wada, em janeiro.
Em entrevista à Folha, concedida antes do evento na Suíça, o australiano pediu medidas
rígidas para coibir fraudes e
clamou por colaboração inclusive dos governos europeus,
que se opuseram à sua eleição.
FOLHA - A Europa queria outro candidato à presidência da Wada. Agora, como obter o apoio europeu?
JOHN FAHEY - Tive encontro frutífero com o ministro do Esporte da União Européia [Milan
Zver], na Eslovênia. Ele reiterou que não tem problema comigo e assegurou que apóia a
Wada. Contei que aumentaria a
colaboração com autoridades
públicas dos cinco continentes
na luta contra o doping e aguardo, com interesse, sugestões.
FOLHA - Qual é o principal desafio
de sua administração?
FAHEY - Há várias prioridades,
mas uma das principais para
mim é aumentar a colaboração
dos governos. Uma década
atrás, governantes tinham pouco interesse em doping. Isso
mudou porque reconheceram
que a posse de drogas é problema sério de saúde pública. Isso
não é limitado aos atletas de elite. Todos são afetados por essa
doença insidiosa.
FOLHA - Como está a colaboração?
FAHEY - Os governos estão mais
interessados que antes. Os governantes já indicaram seu desejo de trabalharem juntos para combater fraudes e fazer
com que haja jogo limpo no esporte. Devemos capitalizar esse
momento e apoiar as ações das
entidades esportivas e dos governos. Meu papel, como presidente, é fazer com que não percamos essa chance.
FOLHA - O que o sr. achou da prisão
de Marion Jones nos EUA?
FAHEY - Esse caso é um triste
exemplo de uma atleta que
fraudou o esporte, mas negou
isso por anos, até chegar ao nível de perjúrio. Também mostra a importância da cooperação entre esporte e governantes. Uma violação às leis antidoping comprovada por teste
de urina ou sangue é só uma das
maneiras de reprimir atletas.
Outras transgressões, como
uso ou tentativa de uso de substâncias proibidas, tráfico e posse de drogas são violações não
analíticas às regras.
FOLHA - A prisão de Marion Jones
serve de exemplo a outros atletas?
FAHEY - Espero que atletas que
tentaram fraudar o esporte
aprendam essa lição. De uma
situação em que a atleta teria
sido só punida por sua fraude,
ela acabou presa por perjúrio e
foi banida do esporte.
FOLHA - Quando o esporte estará
livre de casos como esse?
FAHEY - Infelizmente, isso
sempre existiu, assim como há
fraudes em outros setores da
sociedade. Mas a luta contra o
doping no esporte tem progredido muito em pouco tempo.
FOLHA - Qual sua avaliação sobre a
essa luta no ciclismo, que tem enfrentado seguidos escândalos?
FAHEY - Encorajamos a UCI
[União Ciclística Internacional] a tomar uma série de medidas para resgatar a credibilidade de seu esporte, incluindo a
condução de um projeto piloto:
o Passaporte do Atleta, conceito desenvolvido pela Wada e
baseado no monitoramento de
parâmetros biológicos que revelam efeitos do doping.
FOLHA - O que já foi feito?
FAHEY - A parte mais importante agora será a implementação das medidas para cobrir o
buraco no programa antidoping. Como agência internacional independente responsável
por monitorar a luta contra o
doping, a Wada irá monitorar o
projeto e tentará estendê-lo.
FOLHA - Dá para garantir uma
Olimpíada limpa em Pequim?
FAHEY - Não posso dizer isso.
Mas pedirei a todos os países
para serem honestos e enviarem atletas limpos. O ônus sobre isso é de cada país e federação que não realizar rigoroso
processo de garantia de que esses competidores estarão limpos, coibindo os que buscam a
vantagem desleal do doping.
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