São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 2010

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PAULO VINICIUS COELHO

Falta de educação


Além de não saber organizar calendário, a CBF peca até por deixar sem resposta aqueles que precisam de posição sua


O SANTOS lamenta a ausência de Robinho do clássico contra o Corinthians e não é o único clube brasileiro desfalcado pela seleção. Flamengo e Cruzeiro também perderam Adriano, Kleberson e Gilberto e só choramingaram menos porque seus compromissos pelos Estaduais seriam menos importantes neste fim de semana.
O botafoguense Loco Abreu também tem amistoso de sua seleção no meio de semana, mas só viaja hoje.
Não desfalcou o Botafogo em razão do jogo do Uruguai contra a Suíça, porque a federação uruguaia marcou seu amistoso para quarta-feira, e não para terça.
A CBF é a única federação de futebol do planeta incapaz de elaborar um calendário que respeite as datas Fifa, criadas para que as seleções joguem sem desfalcar os clubes. No mundo inteiro, os campeonatos param quando as seleções jogam.
Américo Faria dirá que não poderia agendar a partida para quarta, porque nesse dia jogam Costa do Marfim e Coreia do Sul no estádio Emirates. Escolhesse outro estádio.
A incapacidade de adaptar seu calendário para permitir jogos da seleção só é menos grave do que aquilo que permitiu nos últimos sete anos.
Desde que Robinho estreou contra o São Paulo, o Santos só teve uma quarta-feira livre. Há clubes que não tiveram nem isso. Desde que o Paulistão começou, no dia 16 de janeiro, o Palmeiras entrou em campo em todas as datas de futebol, fosse no meio de semana, fosse no fim de semana. Folga para quê?
Há sete anos, a CBF reformou seu calendário e estabeleceu que os Campeonatos Estaduais teriam 11 datas apenas. Dois anos depois, quando venceu a Libertadores pela última vez, o São Paulo dividiu sua campanha no torneio continental com um Paulistão espalhado por 19 datas. Já era muito, mas havia folga.
Entre o início daquele campeonato e a estreia na Libertadores, o Tricolor teve duas quartas-feiras livres.
Hoje, os Estaduais têm 23 datas.
Um alto funcionário da CBF que pede anonimato para evitar pressões políticas concorda que o número excessivo de jogos dos Estaduais é um problema para ser resolvido. Com menos datas, maior a chance de fazer a seleção brasileira jogar quando os clubes não jogam.
Nos últimos anos, a CBF só reclamou do calendário quando a Federação Espanhola de Futebol adiou o término de seu campeonato e isso impediu Robinho de se apresentar para a Copa América na data previamente agendada. Nesse caso, a culpa era do Real Madrid.
No episódio, o Real Madrid demorou, mas enviou um ofício informando que não liberaria o jogador antes da definição do Espanhol, contra o Mallorca. Na semana que passou, o Santos requisitou a liberação de Robinho. Até sexta-feira, simplesmente não teve resposta. "Comecei a entrar em contato quando ainda estava internado no Hospital Albert Einstein", diz Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, presidente do Santos, internado no dia 6 por causa de uma pancreatite, mas que deixou o hospital no dia 10 de fevereiro. Em 18 dias, nenhuma resposta.
Não é novidade que a CBF é incompetente para estabelecer o calendário. A novidade é que, além de não ter competência, a CBF também não tem educação.

pvc@uol.com.br


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