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TÊNIS
Amélie Mauresmo, atleta francesa que assumiu publicamente a opção sexual, critica assédio à sua vida privada
"Olhem para o jogo", pede homossexual
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
da Reportagem Local
A tenista francesa Amélie Mauresmo, 19, notabilizou-se no Aberto da Austrália, em janeiro, não
apenas por ter sido a vice-campeã
de um dos quatro torneios mais
importantes da modalidade, mas,
principalmente, por ter assumido
publicamente sua homossexualidade, levando a seus jogos a companheira, Sylvie Bourdon, 31.
A opção sexual de Mauresmo gerou assédio da imprensa e do público e comentários de duas adversárias, a norte-americana Lindsay
Davenport e a suíça Martina Hingis, vencedora na Austrália e que a
definiria como ""meio homem".
Em entrevista à Folha, por telefone, Mauresmo disse que ficou decepcionada com as opiniões emitidas pelas rivais e pediu que as pessoas parem de falar sobre isso.
""É algo que me diz respeito, não
a elas, nem a ninguém. Não estou
defendendo causa nenhuma, apenas me apresentando como sou.
Preferia que falassem mais do meu
tênis e menos da minha vida sexual. É como esportista que quero
ser conhecida", afirmou.
Folha - Como você viu o interesse
que despertou na Austrália, mais
por sua opção sexual do que pelo
vice-campeonato?
Amélie Mauresmo - Eu sabia que
em algum momento, quando começasse a me destacar, seria algo
inevitável. Mas não esperava tanta
repercussão.
Em 96, eu já havia ganho em Roland Garros e Wimbledon e terminado o ano como a campeã do
mundo entre as atletas juniores.
Como profissional, tendo chegado à primeira final de um Grand
Slam aos 19 anos, foi uma coisa ótima, mas, como a maioria não me
conhecia e ficou sabendo que eu
estava com minha namorada, houve uma repercussão maior.
Folha - Você ficou incomodada
com os comentários?
Mauresmo - Um pouco. Todos
falavam da minha vida privada
mais do que meu tênis. Nos próximos torneios, espero que mudem
o enfoque, que me deixem em paz.
Folha - E os comentários de Davenport e Hingis? Achou-os preconceituosos?
Mauresmo - Fiquei chateada no
começo, mas depois elas se desculparam. O assunto, pelo menos para mim, acabou. Ponto final.
Folha - Então, falando sobre tênis, você esperava chegar à final
no Aberto da Austrália?
Mauresmo - Foi mais cedo do que
eu esperava, porque só estou treinando há dois meses com o Christophe Fournerie, que é um grande
profissional e melhorou muito
meu tênis. Ele foi o responsável pelas minhas boas atuações.
Folha - Como você começou a se
interessar pelo esporte?
Mauresmo - Vendo o Yannick
Noah ganhar em Roland Garros,
em 83. Tinha só quatro anos, mas
foi aí que decidi virar tenista.
Quando eu era pequena, costumava dizer que um dia venceria a
Steffi Graf, que é uma tenista pela
qual tenho muita admiração.
Folha - Como é o relacionamento
com a sua família (ela tem um irmão, mais velho), você se dá bem
com seus pais?
Mauresmo - Saí de casa cedo, para treinar, tinha só 11 anos. Prefiro
não entrar em assuntos familiares.
É coisa minha e da minha família.
Folha - Qual foi a jogadora que
você mais admirou? A Steffi Graf? E
o que achava da Martina Navratilova (que também assumiu publicamente sua homossexualidade)?
Mauresmo - Gosto de todas elas,
mas quem mais me chamava a
atenção, quando eu era júnior, era
Gabriela Sabatini.
Folha - Você está com novo treinador há cerca de dois meses. O
que pretende mudar em seu jogo?
Mauresmo - A agressividade. Tenho de atacar mais, arriscar mais,
ser mais ousada.
Folha - Você não considera seu
tênis agressivo?
Mauresmo - Não o suficiente. Jogo mais com a cabeça do que com o
físico. Claro, tenho um bom físico,
treino muito, seis, sete horas por
dia, mas uso mais a cabeça do que
o físico. Sou uma jogadora mais
mental.
Nas últimas semanas, já tenho
mudado um pouco, mas ainda falta muito. Sou jovem, tenho tempo.
Em um ou dois anos, espero ser
mais agressiva em quadra, mas
não excessivamente agressiva,
porque minha característica não é
essa, e nunca vai ser.
Folha - E nas horas vagas, o que
você costuma fazer?
Mauresmo - O que toda jovem da
minha idade gosta de fazer. Vou ao
cinema, leio, namoro... Mas infelizmente não sobra muito tempo
para levar uma vida normal.
As exigências profissionais são
muito grandes, você tem de abrir
mão de muita coisa. Se quer ficar
entre as dez mais bem colocadas
do ranking, tem de estar pronta
para sacrifícios. Se sonha em ser a
número um, então, nem se fala.
Mas é o que eu quero fazer da minha vida. A carreira é curta, e um
dia, quando eu abrir os olhos, tudo
isso vai ter acabado. E aí eu vou
sentir saudades.
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