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FUTEBOL
(O tempo dirá, mas) Já é
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Entre as várias ciclotimias
ou incoerências do torcedor
do futebol, uma diz respeito ao
tratamento que damos aos nossos
ídolos. Às vezes, temos um reverência quase temerosa aos craques do passado, mas, às vezes, temos a compulsão de destrui-los,
arrancá-los do pedestal e dizer:
"Olha, eram humanos, cheios de
defeitos". Como se a humanidade
deles não tornasse seus feitos mais
-em vez de menos- impressionantes. Mas quando alguém tenta erigir outra estátua ao seu lado, mais ou menos da mesma altura, surgem protestos irados:
"Ninguém nunca será como ele!".
Discussões desse tipo não se restringem a questões de vida ou
morte como Pelé x Maradona. Alguém feliz da vida e otimista que
pergunte: "Esse São Paulo pode se
igualar ou superar o do Telê?",
ouvirá: "Que é isso? Devagar com
o andor!". Nem se discute se o time é ou não muito bom -comparar com o do (grande, querido)
Telê será sempre um sacrilégio.
O tempo pode amenizar as resistências; a antigüidade retira do
pleiteante a aura de insolência.
Anos atrás, comparações do Palmeiras de 93, 94 e 96 com os times
da Academia davam urticária
nos mais velhos. Hoje é aceitável
colocá-los na lista dos "melhores
que eu já vi".
Nas últimas semanas, tem-se
discutido se Ronaldinho Gaúcho
já pode entrar para a lista de melhores de todos os tempos. Tostão,
com a tranqüila autoridade de
quem sabe que sabe, opinou: Ronaldinho só está abaixo de Pelé,
no mesmo nível de Maradona e
Garrincha. Se não for bem nos almejados sete jogos da Copa, azar
da Copa. Juca Kfouri apoiou, e
cada um deu seu pitaco: "E o Zico,
não fazia muito mais gols?".
Ronaldinho é um dos melhores
da história do futebol, não tenho
dúvida. Ainda há quem prefira
"esperar para ver", mas acho que
já vimos o suficiente. E esta é uma
era em que se vê muito... A cada
temporada, a cada semana, aumenta a expectativa sobre seu desempenho, e ele não decepciona.
Continua irreverente como se
ainda fosse uma promessa; torna-se mais seguro e eficaz como o
craque amadurecido que é. Não é
que Ronaldinho não goste de dinheiro, títulos e glórias, mas me
parece que ele gosta mesmo é de
jogar bola. Sozinho, com a parede, com os irmãos ou pelo Barcelona, ele se compraz.
"Na seleção ainda está devendo", dizem alguns. "Nunca fez
uma apresentação como os espetáculos que dá com a camisa
azul-grená". Pode ser, e é compreensível. Em primeiro lugar,
porque seleção não é time e nunca será... O entrosamento, familiaridade e ritmo são completamente diferentes. Segundo, porque com a camisa amarela ele
tem lugar e função bem diferentes
-contra as quais talvez se rebele
em uma seqüência de jogos, oba.
Ronaldinho não precisa nos fazer esquecer Pelé, Garrincha, Maradona e tantos outros. Ao contrário: que bom que nos faz lembrar de todos eles. E daqui a alguns anos, assistindo a um filme
sobre a sua vida, já não teremos
receio algum de dizer: "Taí um
dos gênios do futebol mundial".
Ironia
No dia em que a possibilidade
de comunicação instantânea
entre os árbitros foi destaque, a
demora para anotar uma infração fez toda a diferença. Não tenho certeza se foi falta do Tevez
(acho que não, mas há quem
jure que uma câmera mostra
claramente que foi), mas um
lance como esse no meio campo não costuma gerar discussões tão duradouras. O problema foi a jogada ter prosseguido
e terminado em gol (golaço, para piorar a situação), invalidado "horas" depois. Se os rádios-transmissores não estivessem
em campo, hoje alguém poderia dizer: "Por isso é que eu sou
a favor da tecnologia. O árbitro
poderia ter interrompido a jogada na hora em que o auxiliar
viu a falta, e evitado essa confusão toda".
E-mail - soninha.folha@uol.com.br
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