São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 2008

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Tibete é contra boicote à Olimpíada

Presidente do Parlamento no exílio diz que evento atrairá a atenção internacional e que, assim, China terá que se abrir

Na Europa, líder tibetano, que defende pressão sobre Pequim, afirma que cabe a cada país decidir participar ou não da festa de abertura

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Um boicote à Olimpíada de Pequim em protesto contra a repressão chinesa no Tibete pode ser uma idéia acalentada por grupos de direitos humanos do Ocidente, mas não é vista com bons olhos pela liderança tibetana no exílio. O raciocínio é pragmático: ao organizar um evento que atrairá os olhos do mundo inteiro, a ditadura chinesa terá que se abrir e se expor como nunca antes.
A oportunidade política que os Jogos representam seria desperdiçada com um boicote, explica o presidente do Parlamento tibetano no exílio, Karma Chopel, que está rodando a Europa em busca de apoio.
Depois do discurso de quarta-feira no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, ontem Chopel esteve na sede européia da ONU, em Genebra. Ele lamentou que a pressão da China tenha obstruído uma sessão especial no Conselho de Direitos Humanos da ONU sobre o Tibete e disse que cabe a cada país decidir se boicota a cerimônia de abertura da Olimpíada.

 

FOLHA - O que os Jogos Olímpicos de Pequim podem fazer pela luta dos tibetanos?
KARMA CHOPEL -
Embora a posição do governo do Tibete no exílio e de sua santidade, o dalai-lama, seja a de não apoiar um boicote à Olimpíada, consideramos os Jogos uma oportunidade muita boa para atrair a atenção da comunidade internacional. Não só para as competições, mas para a situação no Tibete. O governo chinês tenta passar a imagem de que os protestos foram limitados e restritos a Lhasa [a capital], mas temos provas de que houve manifestações em 30 outros pontos da província.

FOLHA - Por que vocês são contra um boicote?
CHOPEL -
Quanto mais a China se envolver com atividades internacionais, mais seu governo será forçado a se comportar de acordo com o direito internacional. Se a China for excluída, poderá fazer o que quiser no Tibete, e o mundo não saberá de nada. Precisamos do escrutínio estrangeiro para que a pressão moral cresça.

FOLHA - O boicote à abertura da Olimpíada seria bem-vindo?
CHOPEL -
Não tenho dúvida de que ele seria comemorado no Tibete. Mas é preciso deixar claro que estamos falando de uma participação internacional menor na abertura, não do boicote total. Nossa posição é a de que cabe a cada país decidir como quer se expressar sobre essa crise.

FOLHA - Como o senhor vê a reação do mundo até agora?
CHOPEL -
Tem sido boa, o apoio que recebemos é muito grande. O mundo está exigindo um fim à matança e à repressão no Tibete. O que nós pedimos é mais pressão para que a China abra o Tibete para visitas de grupos independentes e da imprensa, para que a situação no território seja conhecida.

FOLHA - Como o senhor vê a afirmação da China de que os protestos foram orquestrados pelo dalai-lama e pelo governo no exílio?
CHOPEL -
É uma acusação falsa, não podemos fazer nada contra ela. O que fazemos é lutar para que o Tibete seja aberto. Quem conhece a situação sabe que os protestos foram uma explosão natural e automática, resultado de anos de repressão.


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