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Tibete é contra boicote à Olimpíada
Presidente do Parlamento no exílio diz que evento atrairá a atenção internacional e que, assim, China terá que se abrir
Na Europa, líder tibetano, que defende pressão sobre Pequim, afirma que cabe a cada país decidir participar ou não da festa de abertura
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Um boicote à Olimpíada de
Pequim em protesto contra a
repressão chinesa no Tibete
pode ser uma idéia acalentada
por grupos de direitos humanos do Ocidente, mas não é vista com bons olhos pela liderança tibetana no exílio. O raciocínio é pragmático: ao organizar
um evento que atrairá os olhos
do mundo inteiro, a ditadura
chinesa terá que se abrir e se
expor como nunca antes.
A oportunidade política que
os Jogos representam seria
desperdiçada com um boicote,
explica o presidente do Parlamento tibetano no exílio, Karma Chopel, que está rodando a
Europa em busca de apoio.
Depois do discurso de quarta-feira no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, ontem
Chopel esteve na sede européia
da ONU, em Genebra. Ele lamentou que a pressão da China
tenha obstruído uma sessão especial no Conselho de Direitos
Humanos da ONU sobre o Tibete e disse que cabe a cada país
decidir se boicota a cerimônia
de abertura da Olimpíada.
FOLHA - O que os Jogos Olímpicos
de Pequim podem fazer pela luta
dos tibetanos?
KARMA CHOPEL - Embora a posição do governo do Tibete no
exílio e de sua santidade, o dalai-lama, seja a de não apoiar
um boicote à Olimpíada, consideramos os Jogos uma oportunidade muita boa para atrair a
atenção da comunidade internacional. Não só para as competições, mas para a situação
no Tibete. O governo chinês
tenta passar a imagem de que
os protestos foram limitados e
restritos a Lhasa [a capital],
mas temos provas de que houve
manifestações em 30 outros
pontos da província.
FOLHA - Por que vocês são contra
um boicote?
CHOPEL - Quanto mais a China
se envolver com atividades internacionais, mais seu governo
será forçado a se comportar de
acordo com o direito internacional. Se a China for excluída,
poderá fazer o que quiser no Tibete, e o mundo não saberá de
nada. Precisamos do escrutínio
estrangeiro para que a pressão
moral cresça.
FOLHA - O boicote à abertura da
Olimpíada seria bem-vindo?
CHOPEL - Não tenho dúvida de
que ele seria comemorado no
Tibete. Mas é preciso deixar
claro que estamos falando de
uma participação internacional menor na abertura, não do
boicote total. Nossa posição é a
de que cabe a cada país decidir
como quer se expressar sobre
essa crise.
FOLHA - Como o senhor vê a reação
do mundo até agora?
CHOPEL - Tem sido boa, o apoio
que recebemos é muito grande.
O mundo está exigindo um fim
à matança e à repressão no Tibete. O que nós pedimos é mais
pressão para que a China abra o
Tibete para visitas de grupos
independentes e da imprensa,
para que a situação no território seja conhecida.
FOLHA - Como o senhor vê a afirmação da China de que os protestos
foram orquestrados pelo dalai-lama
e pelo governo no exílio?
CHOPEL - É uma acusação falsa,
não podemos fazer nada contra
ela. O que fazemos é lutar para
que o Tibete seja aberto. Quem
conhece a situação sabe que os
protestos foram uma explosão
natural e automática, resultado
de anos de repressão.
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