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Especial - Lei Pelé
Brasil tem excesso de jogadores por agente
Proporção brasileira de 74 jogadores por empresário oficial da Fifa é muito superior à das principais ligas do mundo
Procuradores dizem que há concentração de mercado, piratas e sobra de atletas; sindicato diz que clubes indicam representantes
LUÍS FERRARI
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A partir da Lei Pelé, instaurada há dez anos, o futebol brasileiro passou a ser dominado
por empresários. A frase é um
mantra repetido por cartolas.
A realidade mostra o poder
sobre jogadores de ponta concentrado em alguns agentes
oficiais de futebol. Só que o
Brasil tem poucos empresários
em relação ao número de atletas em comparação com outros
centros do futebol mundial.
São 219 agentes para um total de 16.200 jogadores, segundo dados da Fifa. Ou seja, a relação é de mais de 70 atletas por
empresário. Na Espanha, são
2,9 jogadores por representante oficial. Proporcionalmente, o
Brasil só perde para o México
(mas o país norte-americano
não é um centro exportador de
jogadores, logo tem demanda
muito menor de agentes Fifa).
"O mercado é concentrado. E
será ainda mais no futuro.
Quem tem maior poder econômico e serviços melhores tende
a atrair os atletas", explica o
agente Frederico Souza, que
detém cem atletas, entre eles
Gustavo (Palmeiras) e Hernanes (São Paulo). "O jogador vai
procurar quem pode levá-lo
mais rápido para fora."
Há a entrada de empresas no
mercado. A Traffic, ao lado de
Frederico Souza, montou empresa para gerenciar carreiras
de uma forma mais ampla.
A influência dos agentes junto aos dirigentes também aumenta a concentração, diz o
presidente interino da Federação Nacional dos Atletas Profissionais, Rinaldo Martorelli.
"Tem clube que passa o atleta. Às vezes, indica o agente",
conta o sindicalista.
Para o empresário Carlos
Leite, com 30 jogadores, a concentração ocorre como em outras áreas. "Tenho olheiros. E,
basicamente, tem o boca a boca
dos atletas." Após participar da
venda de Ibson a Portugal, Leite levou Souza para o Flamengo. No clube, também ficou
com a representação de Renato
Augusto. No Palmeiras, botou
Diego Souza e Léo Lima.
Os maiores empresários do
país, Juan Figer e Wagner Ribeiro, têm relações com os quatro grandes paulistas.
Léo Rabello, presidente da
Associação Brasileira de Agentes de Futebol, aponta em seu
site a relação dos clubes com os
quais tem negócio, o que inclui
todos os grandes brasileiros e
vários na Europa e na Ásia.
Com 33 jogadores, ele aponta
a existência de agentes piratas
como responsável pelo reduzido número de profissionais oficiais no país. "O empresário autorizado tem que atuar na lei.
Tem que pagar Imposto de
Renda, tudo certinho", diz.
Empresários estimam entre
300 e 400 o número dos que
atuam sem aval da Fifa. Os
agentes dizem que os clubes
são coniventes com o fato.
Mas os empresários oficiais
também desrespeitam a norma
da entidade. Boa parte compra
direitos sobre a negociação do
atleta, o que é vetado pela lei.
É uma conseqüência de um
mercado desregulado, apesar
da norma da Fifa. A CBF tem
um tribunal para julgar questões entre agentes, mas o órgão
nunca tomou medidas efetivas.
Em 2007, a Fifa estabeleceu
que devem haver câmaras nacionais para resolver disputas
entre jogadores e clubes, norma que vale a partir deste ano.
Longe dessa realidade, de
normas, agentes e piratas, há
um grande número de atletas à
margem. Para empresários, a
maioria dos 16.200 jogadores
nem desperta interesse porque
existe excesso de profissionais.
O Brasil é recordista de atletas.
"Não acho que o número seja
inchado. Mas não temos levantamento de quantos vivem só
de futebol", diz Martorelli.
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