São Paulo, domingo, 28 de março de 1999

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BEISEBOL
Pela 1ª vez em 40 anos, um time profissional norte-americano rompe embargo e vai à ilha para amistoso, hoje
Cuba recebe EUA em confronto histórico

da Reportagem Local

O estádio Latinoamericano em Havana recebe hoje um jogo histórico. Pela primeira vez em 40 anos, um time profissional norte-americano de beisebol vai a Cuba.
O confronto entre o Baltimore Orioles e a seleção nacional da ilha, no entanto, é cercado de críticas, positivas e negativas.
Os fãs, logicamente, estão na expectativa de ver representantes das duas principais potências do mundo do beisebol se chocarem.
Os EUA possuem o campeonato profissional mais poderoso, competitivo e rico do planeta, e Cuba detém a supremacia olímpica e nos Campeonatos Mundiais -até o ano passado, os profissionais não podiam disputar esses torneios.
No lado político, concentram-se os principais protestos. Na quarta-feira, congressistas norte-americanos de origem cubana criticaram a realização do confronto.
"Permitir que essa partida se celebre em um momento em que (Fidel) Castro promove uma brutal onda repressiva contra a dissidência interna ajuda o tirano a desviar a atenção sobre os casos de infração dos direitos humanos na ilha e mostrar uma (imagem) de normalidade", disse a deputada republicana Ileana Ros-Lehtinen.
O jogo é considerado uma tentativa de aproximar os países, cujas relações foram rompidas em 1961.
Um alto funcionário da Casa Branca, que não quis se identificar, no entanto, afirmou que o jogo não faz parte de uma "diplomacia do beisebol" -a exemplo do que aconteceu com torneios de tênis de mesa na China, nos anos 70.
Mas o próprio dono dos Orioles, Peter Angelos, confirmou que o jogo tem objetivo diplomático.
A afirmação foi fortemente criticada por grupos contrários ao governo de Fidel, que fizeram várias manifestações em frente ao centro de treinamento do time.
A última vez que Cuba viu jogadores profissionais norte-americanos foi em março de 1959, quando o Cincinnati Reds e o Los Angeles Dodgers se enfrentaram.
Os Orioles também disputarão uma segunda partida em Havana, no dia 3 de maio.

Exclusividade
"Finalmente vamos ver um jogo duro. Tenho esperado um bom tempo por isso." Apesar da expectativa de Miguel Marquez, um torcedor de 65 anos, a maioria dos moradores de Cuba, cujo esporte mais popular do país é o beisebol, não poderá estar presente no confronto histórico.
Somente convidados do governo local poderão entrar no estádio Latinoamericano, cuja capacidade é de 50 mil pessoas.
"Não haverá ingressos à venda. Quando há um evento com tamanho interesse público, só é possível ser realizado por meio de convites", disse Reinaldo Calviac, diretor do Centro de Imprensa Internacional de Havana.
Uma filial da rede ABC em Miami vai transmitir a partida. A emissora WPLG exibirá o jogo pela TV a cabo ESPN, mas deve ser transmitido em sistema aberto.
Muitas das programações de Miami, no entanto, são assistidas em Cuba, por meio de antenas parabólicas clandestinas.

Deserção
O dono do Florida Marlins, Jonh Henry, acusou o Baltimore Orioles de atrair desertores de Cuba.
"O problema é a ignorância. Ninguém sabe direito como é a opressão lá", disse Henry, dando a entender que a ida do rival incitaria os cubanos a deixar o país.
O dono dos Orioles, Peter Angelos, discorda da opinião. "Não há segundas intenções. É simplesmente um intercâmbio de povos."
"A noção de que esta iniciativa recrutaria cubanos no futuro é produto do cinismo de outras pessoas", disse. (MARCILIO KIMURA)



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