São Paulo, quarta-feira, 28 de abril de 2004

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VÔLEI

Técnico, que impulsiona suas atletas no grito, tenta evitar título do Osasco

Minas aposta em chilique para respirar na Superliga

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois meses após assumir a equipe, Chico dos Santos reuniu suas jogadoras e perguntou se queriam ser campeãs ou se elas se contentavam com um quinto lugar.
O time escolheu buscar o troféu e teve de arcar com a opção: sete horas diárias de treinos exaustivos e muito trabalho de defesa.
Dez anos depois, o treinador tenta repetir o caminho que levou a Recreativa, de Ribeirão Preto, a ofuscar os favoritos e conquistar a Liga Nacional de 1994.
Sob seu comando, o Minas enfrenta hoje, às 20h30, o Osasco, que pode deixar Belo Horizonte como bicampeão da Superliga.
Chico dos Santos, 44, emplacou no time mineiro o estilo que o consagrou como um dos melhores técnicos do país e que hoje é a marca registrada de Bernardinho.
O treinador não poupa as atletas. Além dos longos e duros treinamentos e dos minuciosos trabalhos técnicos e táticos, Santos é histérico à beira da quadra.
"Esse jeito me rendeu muitas expulsões. Já assustei até meus filhos", diverte-se. "Sou assim no jogo e sou até pior no treino. Eu quero sempre tirar o melhor delas e faço tudo para tentar conseguir isso. Se precisar, entro e jogo."
Bate-bocas e reclamações já renderam a Santos a fama de encrenqueiro. Uma de suas inúmeras suspensões, em 1998, serviu como pena por uma briga com Bernardinho, então no Rexona. Um ano depois, ele o convidava para ser seu auxiliar na seleção.
Seus chiliques durante as partidas também provocaram sustos. Após uma derrota nos mata-matas do Paulista-1996, ele parecia à beira de bater em uma jogadora que havia errado. "Vontade de bater não faltou", disse à época.
Ao mesmo tempo em que se mostrava "estourado", Santos chegou a puxar uma campanha por paz nos ginásios. Queria diminuir a hostilidade das torcidas.
"O Chico assusta quem não o conhece, mas é muito bom trabalhar com ele", diz a levantadora Fabíola, que só entrou nas finais após a contusão de Gisele. No segundo jogo, ela foi eleita a melhor em quadra. Comemorou abraçada ao técnico, aos prantos.
Hoje adepto de treinos minuciosos, Santos já usou métodos bem mais empíricos em sua volta ao vôlei após um curto exílio. No Plano Collor, em 90, o time da IAP fechou. Descontente, ele abriu uma rotisseria em Piracicaba.
Em 1996, o técnico iniciou as jogadoras da Recreativa na ginástica olímpica. Queria estimular a autoconfiança e a coragem.
No ano seguinte, com o mesmo objetivo, transformou suas atletas em "boleiras". Santos incorporou o futebol ao dia-a-dia do Minas e, apesar das torções e escoriações durante as "peladas", levou a equipe ao bronze na Superliga.
"Eu não uso mais [ginástica e futebol]. Era uma tentativa de melhorar coisas que hoje eu aprendi que podem ser trabalhadas com treinos específicos e técnicos de vôlei", diz o treinador.
Para aumentar a coragem das jogadoras, Santos apela agora para um método já difundido: treino com homens. Se precisar, assume a artilharia. "Elas se acostumam a tomar porradas. No jogo, fica bem mais fácil".


NA TV - Sportv, ao vivo, a partir das 21h


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