São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 2006

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COPA 2006

Escolha dos cartolas por um treinador estrangeiro divide o país e causa fortes críticas dos profissionais locais

"Certo", Scolari vira enigma na Inglaterra

FÁBIO VICTOR
DE LONDRES

Ainda não é oficial, mas na Inglaterra começou ontem a ser tratado como fato que Luiz Felipe Scolari será o técnico da seleção de futebol do país a partir de julho, tão logo acabe a Copa.
Todos os principais veículos da imprensa londrina, incluindo a poderosa BBC, passaram o dia repercutindo a virtual escolha de "Big Phill" e tentando decifrar o enigma que ele representa para a maioria da população.
O diário "Evening Standard" informou que a decisão será anunciada nos próximos dias.
A base de tanta certeza foi a viagem a Portugal do principal executivo da FA (a federação inglesa), Brian Barwick. Ele esteve anteontem em Lisboa para oferecer o cargo a Scolari. Retornou a Londres e disse que a entidade "está conversando com o Luiz Felipe, como parte do processo de seleção do novo técnico". Foi a quase confirmação da contratação.
Não fosse o brasileiro treinador da seleção portuguesa -time que pode cruzar com a Inglaterra nas quartas-de-final do Mundial alemão-, possivelmente o anúncio teria sido feito ontem mesmo.
Mas Scolari, que não deu entrevistas ontem, bate o pé em não tornar públicas negociações sobre seu futuro até que acabe seu contrato com Portugal, o que acontece após o Mundial. Nega inclusive que tenha tido entrevistas de trabalho com os dirigentes ingleses, algo que agora até a FA admite oficialmente que houve.
Como a FA já deixou claro que vai anunciar antes da Copa o sucessor do sueco Sven-Göran Eriksson (o primeiro estrangeiro do English Team), se não o fizer, mas ao mesmo tempo não apresentar outro nome, dará a senha para o que hoje parece ser o cenário mais palpável: está tudo certo, mas a notícia só vai virar oficial quando a Copa terminar.
O sentimento foi sintetizado pela emissora ITV, que numa das manchetes do seu telejornal do fim da noite perguntou: "Quando a farsa vai acabar"?.
A novidade Scolari motivou a fúria nacionalista, particularmente no meio futebolístico.
"É um golpe para os rapazes ingleses que estavam na disputa. Vários poderiam fazer um bom trabalho, pois nunca tivemos um grupo de jogadores tão bom", queixou-se o técnico do Portsmouth, Harry Redknapp.
"Não acho uma boa decisão para a Inglaterra nem para o futebol inglês", ecoou o presidente da Associação de Treinadores da Liga, Howard Wilkinson.
Entre a população, a acolhida foi melhor. Pesquisas realizadas nos últimos dias na página da BBC na internet revelaram apoio ao nome de Scolari. As opiniões da população ouvida pelas TVs nas ruas de Londres mixavam desaprovação com apoio irrestrito. No primeiro grupo, o argumento era sempre que "poderiam ter pego um inglês". Entre os entusiastas, prevaleceu a linha de que "temos de ter o melhor, não importa sua nacionalidade".
Depois de críticas pelo comportamento dúbio de Scolari ao comentar seus contatos com a FA, os analistas esportivos ontem se derramavam em elogios ao brasileiro, ressaltando a sua diferença em relação a Eriksson.
Os jornais ressaltavam o caráter passional e envolvente de Scolari, em contraposição à frieza e ao desprendimento do sueco. Mas resta muito a aprender. O "Guardian" informou que o brasileiro atuou no Grêmio como jogador -o que nunca ocorreu. O "Standard" contou que ele tem duas filhas, quando são dois filhos.


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