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MOTOR
Enredo complicado
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
A banda começava a engrenar quando Billy, o baterista, abandonou os ensaios para se
dedicar ao trabalho no matadouro. Foi a primeira baixa, o ponto
de partida para que tudo começasse a degringolar. É ficção, é um
clássico, é "The Commitments"
(horrivelmente traduzido por
aqui como "Loucos pela Fama").
Algo parecido acontece no
maior faroeste de todos os tempos, "Sete Homens e um Destino"
(tradução não tão péssima de
"The Magnificent Seven"), quando Harry Luck leva um tiro, deixando o bando com apenas seis
diante dos bandidos de Calvera.
Ou no original "Ocean's Eleven"
("Onze Homens e um Segredo",
argh!), quando Bergdorf tomba,
preocupando parte da trupe.
É mais ou menos o que ocorre
com a Ferrari, hoje. É vida real,
mas, se fosse para a telona, a sinopse do drama seria algo na linha "após conquistar mundos e
fundos, turma de companheiros
se vê numa encruzilhada entre
continuar junta ou desfazer-se".
E é esse o verdadeiro, o único,
fiel da balança para a tão aguardada decisão de Schumacher.
Há dez anos, Maranello conseguiu arregimentar um dream
team. Juntos, Todt, Brawn, Byrne,
Martinelli e o alemão conquistaram seis Mundiais de Construtores e cinco de Pilotos. À exceção
do primeiro, que subiu na hierarquia e dá expediente também na
Maserati, todos têm contratos caducando no dia 31 de dezembro.
E esteja certo: o carro pode continuar competitivo, Schumacher
pode superar Alonso na classificação, a escuderia pode reeditar
seus momentos de glória de 2004,
que o piloto não anunciará nenhuma decisão enquanto não
souber do destino de seus pares.
Se quiser segurar o heptacampeão, a Ferrari antes terá que garantir a permanência de Brawn e
Martinelli, com prioridade para o
inglês -e eles sabem disso, o que
só aumenta o preço do negócio.
Schumacher está cheio de gás,
mostrou isso ao planeta no domingo, mas não é louco de, aos
37, começar tudo de novo. Até
porque já sentiu na pele o resultado do primeiro desfalque na equipe: Byrne hoje trabalha apenas
como consultor, e a passagem de
bastão no ano passado deu na
F2005, a pior Ferrari da década.
Como nas patotas cinematográficas que abriram a coluna, a
saída de um personagem muda
todo o roteiro. Sim, Costa, sucessor de Byrne, parece estar acertando a mão. Mas, se a Ferrari de
2007 não tiver Brawn no muro ou
Martinelli nos dinamômetros, tudo indica cenário como o de 2005.
Por tudo isso, sou seguidor da
tese de que nem Schumacher sabe
onde estará no ano que vem.
Se decidir ficar, pode apostar
que o anúncio oficial incluirá a
renovação dos outros -e não necessariamente de Massa, coadjuvante como Barrichello e Irvine.
Se decidir parar, é sinal escancarado de que Brawn foi seduzido
por uma proposta milionária de
uma Red Bull ou de uma McLaren ou que Martinelli acertou
com uma Toyota ou uma Honda.
O mais sensacional grupo de
profissionais da história do automobilismo será, então, dissolvido.
Virará lenda. E um dia, quem sabe, se tornará enredo de cinema.
Ronco
A CBA limitou os grids na Stock de acordo com a pista, mas foi leniente. Os mais enxutos terão 40 carros. Agora com treinos oficiais
na sexta e no sábado, a categoria corre a partir de hoje em Curitiba.
Silêncio
Sem alarde, Jaime Melo Jr. assinou com a Ferrari para ser piloto de
testes de GT. Mas deve ser aproveitado para alguns testes na F-1.
Gritaria
Massa é protegido de Todt, mas seria de bom-tom não abusar. No sábado, Montezemolo não gostou do que viu nos boxes: o brasileiro, irritado, reclamando por ter sido liberado à pista em meio ao tráfego.
A "Autosprint" desta semana já fala em crise de relacionamento.
E-mail - fseixas@folhasp.com.br
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