São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 2006

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MOTOR

Enredo complicado

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A banda começava a engrenar quando Billy, o baterista, abandonou os ensaios para se dedicar ao trabalho no matadouro. Foi a primeira baixa, o ponto de partida para que tudo começasse a degringolar. É ficção, é um clássico, é "The Commitments" (horrivelmente traduzido por aqui como "Loucos pela Fama").
Algo parecido acontece no maior faroeste de todos os tempos, "Sete Homens e um Destino" (tradução não tão péssima de "The Magnificent Seven"), quando Harry Luck leva um tiro, deixando o bando com apenas seis diante dos bandidos de Calvera. Ou no original "Ocean's Eleven" ("Onze Homens e um Segredo", argh!), quando Bergdorf tomba, preocupando parte da trupe.
É mais ou menos o que ocorre com a Ferrari, hoje. É vida real, mas, se fosse para a telona, a sinopse do drama seria algo na linha "após conquistar mundos e fundos, turma de companheiros se vê numa encruzilhada entre continuar junta ou desfazer-se".
E é esse o verdadeiro, o único, fiel da balança para a tão aguardada decisão de Schumacher.
Há dez anos, Maranello conseguiu arregimentar um dream team. Juntos, Todt, Brawn, Byrne, Martinelli e o alemão conquistaram seis Mundiais de Construtores e cinco de Pilotos. À exceção do primeiro, que subiu na hierarquia e dá expediente também na Maserati, todos têm contratos caducando no dia 31 de dezembro.
E esteja certo: o carro pode continuar competitivo, Schumacher pode superar Alonso na classificação, a escuderia pode reeditar seus momentos de glória de 2004, que o piloto não anunciará nenhuma decisão enquanto não souber do destino de seus pares.
Se quiser segurar o heptacampeão, a Ferrari antes terá que garantir a permanência de Brawn e Martinelli, com prioridade para o inglês -e eles sabem disso, o que só aumenta o preço do negócio.
Schumacher está cheio de gás, mostrou isso ao planeta no domingo, mas não é louco de, aos 37, começar tudo de novo. Até porque já sentiu na pele o resultado do primeiro desfalque na equipe: Byrne hoje trabalha apenas como consultor, e a passagem de bastão no ano passado deu na F2005, a pior Ferrari da década.
Como nas patotas cinematográficas que abriram a coluna, a saída de um personagem muda todo o roteiro. Sim, Costa, sucessor de Byrne, parece estar acertando a mão. Mas, se a Ferrari de 2007 não tiver Brawn no muro ou Martinelli nos dinamômetros, tudo indica cenário como o de 2005.
Por tudo isso, sou seguidor da tese de que nem Schumacher sabe onde estará no ano que vem.
Se decidir ficar, pode apostar que o anúncio oficial incluirá a renovação dos outros -e não necessariamente de Massa, coadjuvante como Barrichello e Irvine.
Se decidir parar, é sinal escancarado de que Brawn foi seduzido por uma proposta milionária de uma Red Bull ou de uma McLaren ou que Martinelli acertou com uma Toyota ou uma Honda.
O mais sensacional grupo de profissionais da história do automobilismo será, então, dissolvido. Virará lenda. E um dia, quem sabe, se tornará enredo de cinema.

Ronco
A CBA limitou os grids na Stock de acordo com a pista, mas foi leniente. Os mais enxutos terão 40 carros. Agora com treinos oficiais na sexta e no sábado, a categoria corre a partir de hoje em Curitiba.

Silêncio
Sem alarde, Jaime Melo Jr. assinou com a Ferrari para ser piloto de testes de GT. Mas deve ser aproveitado para alguns testes na F-1.

Gritaria
Massa é protegido de Todt, mas seria de bom-tom não abusar. No sábado, Montezemolo não gostou do que viu nos boxes: o brasileiro, irritado, reclamando por ter sido liberado à pista em meio ao tráfego. A "Autosprint" desta semana já fala em crise de relacionamento.


E-mail - fseixas@folhasp.com.br

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