São Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 2008

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Processo contra Joanna é suspenso

Atleta envia mensagem com detalhe de suposto abuso

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

A Justiça de Pernambuco suspendeu ontem, por tempo indeterminado, o processo contra Joanna Maranhão e sua mãe, Terezinha Maranhão, movido pelo ex-treinador da atleta Eugênio Miranda.
Acusado por elas de abusar sexualmente da nadadora na infância, ele as processou por suposta difamação.
A decisão foi tomada pelo juiz do 1º Juizado Especial Criminal de Recife, Ailton Alfredo de Souza, porque a ação tem como base a Lei de Imprensa, que foi suspensa em parte pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
O processo só deverá ser retomado após decisão final do STF sobre a manutenção ou não da Lei de Imprensa, prevista para meados de setembro.
Em treinamento com a seleção na Espanha, Joanna enviou um texto por e-mail que seria lido na sessão caso o processo não fosse suspenso.
Na mensagem, à qual a Folha teve acesso, Joanna detalha o suposto abuso: "Quero dizer que o fato de ele ter me despido na cama da própria esposa e ter me bolinado enquanto eu chorava e pedia para ele parar ainda é um fato que me enoja e me dói, mas não me derrotou".
No texto, Joanna conta que é dependente de antidepressivos e que o medo e a vergonha a calaram por 12 anos.
A atleta também diz que fez justiça na água, quando duvidaram dela, e que anseia por justiça na vida. Ela se referiu ao fato de ter obtido vaga nos Jogos de Pequim, no início do mês.
Ao atingir o índice A para os 400 m medley, Joanna afirmou que a classificação seria usada no processo. Segundo ela, a defesa do treinador teria alegado que a atleta inventou o caso para justificar a má fase.
Apontada como grande promessa da natação brasileira ao chegar à final nos Jogos de Atenas-2004, a nadadora teve uma brusca queda de rendimento nos últimos anos.
A mãe da nadadora confirmou ontem a autoria da mensagem. Segundo ela, o texto lhe foi enviado anteontem, e cópia da carta foi entregue a seu advogado, Carlos Gil.
O advogado do ex-treinador, João Olympio, disse que não sabia da existência da mensagem e que desconhecia os detalhes sobre o suposto abuso sexual descritos nela. Para ele, a revelação "não muda absolutamente nada" no processo.
"A essa altura do campeonato, [a carta] parece ser uma estratégia para descaracterizar o ilícito", declarou. O texto, segundo ele, "traz muitos detalhes técnicos, com boas orientações de defesa que podem ser usadas juridicamente".
Olympio também crê que a suspensão do processo "prejudica a celeridade, mas não o mérito da questão".
Ele espera que, se os artigos da Lei de Imprensa forem suprimidos definitivamente, o STF permitirá que processos baseados nos trechos extintos sejam julgados de acordo com o Código Penal.
Já o advogado da nadadora e de sua mãe disse que a decisão "não prejudica nem ajuda" suas clientes.
Joanna tornou público o suposto caso de abuso sexual no início de 2008. Como o episódio ocorreu há 12 anos, e a atleta já tem 21, ela não pode mais processar o treinador.
Miranda nega a acusação.


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