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Processo contra Joanna é suspenso
Atleta envia mensagem com detalhe de suposto abuso
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
A Justiça de Pernambuco
suspendeu ontem, por tempo
indeterminado, o processo
contra Joanna Maranhão e sua
mãe, Terezinha Maranhão,
movido pelo ex-treinador da
atleta Eugênio Miranda.
Acusado por elas de abusar
sexualmente da nadadora na
infância, ele as processou por
suposta difamação.
A decisão foi tomada pelo
juiz do 1º Juizado Especial Criminal de Recife, Ailton Alfredo
de Souza, porque a ação tem como base a Lei de Imprensa, que
foi suspensa em parte pelo STF
(Supremo Tribunal Federal).
O processo só deverá ser retomado após decisão final do
STF sobre a manutenção ou
não da Lei de Imprensa, prevista para meados de setembro.
Em treinamento com a seleção na Espanha, Joanna enviou
um texto por e-mail que seria
lido na sessão caso o processo
não fosse suspenso.
Na mensagem, à qual a Folha
teve acesso, Joanna detalha o
suposto abuso: "Quero dizer
que o fato de ele ter me despido
na cama da própria esposa e ter
me bolinado enquanto eu chorava e pedia para ele parar ainda é um fato que me enoja e me
dói, mas não me derrotou".
No texto, Joanna conta que é
dependente de antidepressivos
e que o medo e a vergonha a calaram por 12 anos.
A atleta também diz que fez
justiça na água, quando duvidaram dela, e que anseia por justiça na vida. Ela se referiu ao fato de ter obtido vaga nos Jogos
de Pequim, no início do mês.
Ao atingir o índice A para os
400 m medley, Joanna afirmou
que a classificação seria usada
no processo. Segundo ela, a defesa do treinador teria alegado
que a atleta inventou o caso para justificar a má fase.
Apontada como grande promessa da natação brasileira ao
chegar à final nos Jogos de Atenas-2004, a nadadora teve uma
brusca queda de rendimento
nos últimos anos.
A mãe da nadadora confirmou ontem a autoria da mensagem. Segundo ela, o texto lhe
foi enviado anteontem, e cópia
da carta foi entregue a seu advogado, Carlos Gil.
O advogado do ex-treinador,
João Olympio, disse que não
sabia da existência da mensagem e que desconhecia os detalhes sobre o suposto abuso sexual descritos nela. Para ele, a
revelação "não muda absolutamente nada" no processo.
"A essa altura do campeonato, [a carta] parece ser uma estratégia para descaracterizar o
ilícito", declarou. O texto, segundo ele, "traz muitos detalhes técnicos, com boas orientações de defesa que podem ser
usadas juridicamente".
Olympio também crê que a
suspensão do processo "prejudica a celeridade, mas não o
mérito da questão".
Ele espera que, se os artigos
da Lei de Imprensa forem suprimidos definitivamente, o
STF permitirá que processos
baseados nos trechos extintos
sejam julgados de acordo com o
Código Penal.
Já o advogado da nadadora e
de sua mãe disse que a decisão
"não prejudica nem ajuda"
suas clientes.
Joanna tornou público o suposto caso de abuso sexual no
início de 2008. Como o episódio ocorreu há 12 anos, e a atleta já tem 21, ela não pode mais
processar o treinador.
Miranda nega a acusação.
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